Jornal de Angola

Pedrito anuncia desfecho de meio século de carreira

O “Show do Mês live”, da Nova Energia, transmitid­o em directo sábado pelo segundo canal da Televisão Pública de Angola, marcou o anúncio do fim da carreira do músico Pedrito, iniciada a 24 de Dezembro de 1969, no Ngola Cine

- Jomo Fortunato

Pedrito é autor de inúmeros sucessos que marcaram momentos cruciais da história da Música Popular Angolana, tendo-se revelado um cantor e compositor de tendência e expressivi­dade romântica, género que marcou muitos dos sucessos da sua longa carreira. Na verdade, o prestígio das suas canções surge sempre associado à interpreta­ção de temas musicais que elogiam as virtudes da mulher, realçam o sentimento humano, resvalando para preocupaçõ­es de sátira social e política.

Embora a totalidade das línguas nacionais ocupem uma percentage­m de grande magnitude simbólica na origem, formação e contempora­neidade da Música Popular Angolana, o uso da língua portuguesa não foi menos importante, constituin­do um dos recursos de expressão artística de prestigiad­os compositor­es, ao longo da história da composição de canções angolanas.

Pedrito, para além de dominar com perfeição o kimbundo, reutilizou com enorme sucesso as possibilid­ades criativas da língua portuguesa, ao longo do processo de criação da sua obra, compondo canções que revelam a intimidade passional, em “Leonor”, reflexões de natureza existencia­l, com “Farrapo triste”, canção da autoria do cantor e compositor, Zé do Pau (1950-2017), temáticas de conteúdo religioso, “Cântico à Bíblia”, passando pela valorizaçã­o da tradição, em “Banda mulundu”,vejamos o texto, Banda mulundu/ Ué mamã dilenu/ muetukeneh­enda/ Uángixisan­giubeka/ Tala monamiiódi­ló. (canção tradiciona­l que relata o comportame­nto de uma mãe irresponsá­vel que abandona o lar e o filho, privilegia­ndo a rua e o entretenim­ento).

Pedrito iniciou a sua estreia musical no Ngola Cine, no dia 24 de Dezembro de 1969, numa das sessões do “Dia do Trabalhado­r”, em espectácul­o acompanhad­o pelo agrupament­o Ngola Jazz. Pertenceu ao coro da Igreja São Domingos, em 1973, altura em que foi convidado a integrar o célebre trio “Gambuzinos”, em substituiç­ão da guitarra de Filipe Vieira Lopes, com Dualy Jair (guitarra) , Freitas Sebastião (pandeireta). Pedrito diz ter sido influencia­do pelos cantores brasileiro­s Lindomar Castilho e Agnaldo Timóteo, e acusa proximidad­e estética com o cantor e compositor angolano, Luís Visconde.

Filho de Sebastião Manuel e de Beatriz Adão, José Manuel Pedrinho nasceu na sanzala de Kingongo, Icolo e Bengo, no dia 1 de Outubro de 1954.

Pedrito desempenho­u um importante papel no período áureo da canção política (1974-1976), tendo interpreta­do, de forma magistral, uma das canções mais representa­tivas da época, em homenagem ao Comandante Gika, herói do MPLA morto

em Cabinda: Partiste comandante/ para as fileiras da glória/ deixaste escrito o teu nome/ na história mártir de Angola// Na sombra da nossa bandeira/no coração dos oprimidos/ serás sempre lembrado/ saudoso comandante// Quando os ventos da opressão/nos quiserem um dia sufocar/teu nome levado em memória/ será a força que nos levará à vitória.

Digressões

Pedrito efectuou a sua primeira digressão artística internacio­nal, em 1982, por seis países do leste da Europa e Portugal, com o conjunto musical “Jovens do Prenda”.

Em Janeiro de 1983, deslocou-se ao Brasil com o grupo “Semba Tropical”, integrado no projecto “Canto Livre de Angola”. Ainda em 1982, viajou com destino a Londres onde participou em dois espectácul­os, que re-sultaram na gravação do LP “Semba Tropical in London”, um projecto patrocinad­o pelo empresário e músico moçambican­o Abdul Zobaida. Em 1988, voltou a fazer uma digressão ainda com os “Jovens do Prenda”, percorrend­o Portugal, França, Inglaterra e Escócia. Neste último país participou no grande espectácul­o de solidaried­ade a favor da libertação de Nelson Mandela.

Distinções

Pedrito venceu o primeiro lugar do “Top dos mais queridos” no dia cinco de Outubro de 1982, realizado pela Rádio Nacional de Angola, repetindo o feito nas edições de 1984 e 1986, tendo conquistad­o duas vezes o segundo lugar. As várias premiações no “Top dos mais queridos”, valeram-lhe a distinção com três diplomas de mérito, no dia cinco de Outubro de 2012, num acto que assinalou a homenagem aos vencedores do “Top dos mais queridos” ao longo dos trinta anos de existência.

Homenagem

Os cantores e compositor­es, Pedrito e Robertinho, foram convidados para participar, em Março de 2012, num concerto em homenagem às mulheres angolanas, no Centro Cultural e Recreativo Kilamba, em Luanda, no âmbito do programa Muzongué da Tradição, numa edição que recordou o importante contributo dado pelas vozes femininas na história da Música Popular Angolana, com destaque para as cantoras, Belita Palma e Lourdes VanDúnem. Participar­am na homenagem as cantoras, São Van-Dúnem, Claudeth Tchizungo, e os cantores, Orlando Loy e Augusto Chacaia, que foram acompanhad­os pela Banda Chamavo.

Live

Embora já tenha anunciado o fim da sua carreira no projecto, “Cantares da Rainha”, realizado na Casa de Cultura Njinga Mbandi, em Fevereiro de 2020, por ocasião da celebração dos seus cinquenta anos de carreira, Pedrito foi convidado do “Show do Mês”, em 2014 e 2016, e regressou no passado dia 26 de Setembro, para um live na TPA, designado “Palmas de despedida”. No live, Pedrito foi acompanhad­o pela Banda Movimento com Chico Madne (teclas), Tedy Nsingui (guitarra solo), Kintino (guitarra ritmo), Nino Gomes (teclas), Jeremias Galheta “Mias” (viola baixo), Romão Teixeira (bateria), Manuel Miguel “Correia Miguel” (percussão) Santos Fortuna “Massoxi” (voz e dikanza), Joaquim de Lemos “Mister Kim” (voz principal), Rigoberto (saxofone), Lázaro (trombone), Tchinguma (trompete), Porto (violoncelo), Raimundo (violino), Elizabeth Tavira “Beth” e Neide da Luz, convidada pela Banda Movimento, nos coros. No live, Pedrito interpreto­u os seguintes temas, “Aleluia”, “Falar com Jesus”, “Eu e você”, “Mu ngongo”, “Medley”, “Farrapo triste”, “Canarinho”, “Leonor”, “Mulher mumuíla”, “Som nosso” (instrument­al Duo Canhoto), “Teresa” (Duo Canhoto), “Realidade”, “Avó Béa”, “Kilumba”, “Desespero”, “Kambadiami Luca”, “Comandante Gika”, “Cinco séculos”, “Banda mulundu”, “Muhatukiá funda”, “Ngalengaku­bata”, “Omboio” (Duo Canhoto), “Militante”, “Raio de amor”, “Massoximam­i”, “Senhor director”, “Cântico à paz” e “Nzalayátul­a”.

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