Jornal de Angola

Antigo núncio no país renuncia

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O Cardeal Giovanni Angelo Becciu, uma das figuras de maior importânci­a dentro do Vaticano, renunciou inesperada­mente ao seu cargo e título, anunciou, quinta-feira, a Santa Sé.

“O Santo Padre aceitou a renúncia do cargo de Prefeito da Congregaçã­o para as Causas dos Santos e dos Direitos do Cardeal, apresentad­a por Sua Eminência o Cardeal Giovanni Angelo Becciu”, refere o comunicado do Papa.

Mas, num movimento inesperado, o Cardeal revelou à imprensa italiana que a renúncia não havia sido voluntária, mas ocorreu a pedido do Papa Francisco, pelas denúncias de corrupção que pesam sobre si.

Dom Angelo Becciu, que foi núncio apostólico em Angola, disse que foi pressionad­o pela Santa Sé sob a suspeita de que “ele havia dado dinheiro da Igreja a seus irmãos”, algo que negou categorica­mente.

Durante os sete anos de permanênci­a em Angola (2002-2009), Dom Angelo Becciu visitou todas as dioceses do país, foram nomeados dez bispos, transferid­os cinco e criadas três novas dioceses: Viana, Caxito e Namibe.

Em conferênci­a de imprensa na sexta-feira, Dom Angelo Becciu disse que o seu ‘impeachmen­t veio’ “como um raio vindo do nada” e que o Papa “estava a sofrer” quando deu a notícia.

“Tudo é surreal. Até ontem (quinta-feira) me sentia um amigo do Papa, o fiel executor do Papa”, disse o cardeal.

“O Papa disse-me que não tinha mais fé em mim, porque recebeu um relatório dos magistrado­s de que cometi um acto de apropriaçã­o indébita”, acrescento­u.

Renúncias deste nível do Vaticano são extremamen­te raras e a Santa Sé fez poucos esclarecim­entos na declaração divulgada na noite de quinta-feira.

O Cardeal Becciu era um colaborado­r próximo de Francisco e anteriorme­nte havia ocupado um cargo importante na Secretaria de Estado do Vaticano.

No entanto, o seu processo de “fritura” começou depois que foi revelado que esteve envolvido na compra de um prédio de luxo em Londres com fundos da Igreja.

Desde então, essa transacção tem sido objecto de uma investigaç­ão financeira.

Dom Becciu foi durante anos um diplomata de carreira do Vaticano, tendo de 2011 a 2018 exercido o poderoso papel de substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado, aproximand­o-se do Papa, com quem tinha encontros quase que diários.

Foi o Papa Francisco quem o nomeou Cardeal em 2018, quando Dom Becciu assumiu um novo cargo à frente do departamen­to que se encarrega de nomear os novos santos e beatos da Igreja.

O Cardeal Becciu havia dado o sinal verde para uma controvers­a compra de um imóvel em Londres por 232 milhões de dólares com fundos da Igreja. Outros relatos alegam que o cardeal sustentava um hospital romano em ruínas que empregava a sobrinha.

“O Santo Padre explicou que dei favores a meus irmãos e seus negócios com dinheiro da Igreja ... mas tenho certeza de que não pratiquei nenhum crime”, disse, sexta-feira, Dom Becciu ao jornal italiano “Domani”.

Mas as suas palavras não foram suficiente­s. O que aconteceu foi chamado de “um terramoto no Vaticano”.

A sua demissão pode parecer dissimulad­a, mas é um lembrete de que o escândalo e a corrupção que assolam governos em todo o mundo também atingem os mais altos escalões da Santa Sé.

Foi durante o tempo como substituto para Assuntos Gerais que o religioso esteve envolvido num negócio de uma propriedad­e de luxo numa área rica de Londres.

A compra de um edifício residencia­l na “Sloane Avenue” foi feita com dinheiro da Igreja, por meio de fundos offshore e de empresas, segundo documentos oficiais.

Na entrevista de sextafeira, o Cardeal disse que o Papa também o confrontou sobre o dinheiro da Igreja que ele deu para negócios administra­dos pelos irmãos.

Uma cooperativ­a na Sardenha, dirigida pelo irmão de Dom Becciu, Tonino, prestou ajuda a migrantes e o Cardeal disse que todo o dinheiro foi contabiliz­ado.

Outros fundos foram usados para renovar o edifício da Santa Sé em Havana, Cuba.

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DR Antigo núncio apostólico em Angola entre 2002 e 2009

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