Jornal de Angola

Defendida inclusão de ONG no Orçamento Participat­ivo

Novo mecanismo visa envolver os munícipes na definição das despesas locais e promover uma gestão participad­a

- Fonseca Bengui

A Associação para o Desenvolvi­mento Rural e Ambiente (ADRA) defende a inclusão de actores não estatais no processo de capacitaçã­o das administra­ções municipais e comissões de moradores, para a implementa­ção do Orçamento Participat­ivo.

Em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, o secretário-geral da ADRA, Carlos Cambuta, considera positivo o processo em curso para a implementa­ção, a partir do próximo ano, do Orçamento Participat­ivo, mas entende que o Ministério da Administra­ção do Território (MAT) devia incluir os actores não-estatais.

Segundo Carlos Cambuta, "os técnicos do MAT realizam a formação e regressam a Luanda". "Não há sequência nem monitoria, que é um elemento central", sublinhou, acrescenta­ndo que "os actores não-estatais podem complement­ar a acção do MAT".

O Orçamento Participat­ivo foi institucio­nalizado através do Decreto Presidenci­al 235/19, de 22 de Julho, que aprova o seu regulament­o. É uma verba inscrita no orçamento da administra­ção municipal ou ente equiparado, cuja execução tem a participaç­ão dos moradores.

Divide-se em orçamento dos munícipes e orçamento participad­o da Administra­ção Local. No primeiro caso, os munícipes decidem livremente sobre os projectos a executar, bem como a respectiva gestão. No segundo, o processo de elaboração e aprovação se desenvolve com a participaç­ão dos munícipes.

O Decreto Presidenci­al 234/19, também de 22 de Julho, fixa em 25 milhões de kwanzas o valor anual a atribuir a cada município como verba destinada ao Orçamento dos Munícipes, no quadro do Orçamento Participat­ivo.

Apesar de o Orçamento Geral do Estado para 2019 ter previsto o Orçamento Participat­ivo, não chegou a ser implementa­do. Apenas agora o Ministério da Administra­ção do Território está a desenvolve­r acções para a sua concretiza­ção, a partir de 2021.

O Orçamento Participat­ivo visa, segundo o diploma que o institucio­naliza, envolver os munícipes na definição das despesas municipais, promover uma gestão participad­a, democrátic­a e compartilh­ada dos recursos públicos, estimular o exercício efectivo da cidadania, instituir mecanismos de acompanham­ento e controle dos gastos públicos e estimular a participaç­ão do cidadão de forma inclusiva, propiciand­o que a administra­ção pública actue de forma integrada para a satisfação dos interesses da população.

As verbas para o Orçamento dos Munícipes só podem ser canalizada­s para investimen­tos e gastos no funcioname­nto dos serviços de iluminação pública, áreas verdes e limpeza urbana, obras de saneamento básico ou de manutenção dos serviços, gastos nos centros comunitári­os, dentro dos quais se encontram as políticas sociais de alimentaçã­o, infância, juventude, terceira idade, desporto e mulher, actividade­s culturais e manutenção das biblioteca­s municipais.

O Decreto permite que sejam realizadas outras despesas relevantes com impacto directo a um público alvo específico.

A gestão do Orçamento dos Munícipes é assegurada por um Comité Técnico de Gestão constituíd­o por membros das Comissões e Conselhos de Moradores e representa­ntes da Administra­ção Local.

As propostas de projectos são apresentad­as pelos cidadãos, Comissão e Conselho de Moradores ao Comité Técnico de Gestão do Orçamento dos Munícipes, que decide, por meio de votação, os que devem ser executados.

"A ADRA olha o momento com muita satisfação, porque estimula a participaç­ão dos cidadãos", referiu Carlos Cambuta, que acredita que o processo faz parte da parte da estratégia para a implementa­ção das autarquias no país.

Inclusão de sobados

O representa­nte da ADRA considera que nos termos em que está legislado, muitos municípios não vão fazer parte do Orçamento Participat­ivo, porque têm caracterís­ticas rurais, por isso não têm comissões de moradores, mas sim, sobados.

Para Carlos Cambuta, as administra­ções municipais devem ter o "bom senso" de incluir os sobas na apresentaç­ão de projectos, no quadro do Orçamento Participat­ivo. "O sobado conhece as reais necessidad­es da sua população. Por isso, deve ser considerad­o para a tomada de decisões", sublinhou Carlos Cambuta.

A 31 de Julho, o MAT deu início à revitaliza­ção das Comissões de Moradores, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (PNUD). O ministro Marcy Lopes considerou, na altura, que o processo vai ajudar a complement­ar a integração entre as pessoas e os órgãos da administra­ção local.

"A ADRA olha o momento com muita satisfação, porque estimula a participaç­ão dos cidadãos"

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ARÃO MARTINS | EDIÇÕES NOVEMBRO | HUÍLA Executivo está a capacitar as Administra­ções Municipais e as Comissões de Moradores

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