Jornal de Angola

O Estado e a defesa da criança

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A pobreza é geradora de problemas sociais de vária ordem, afectando muitas famílias, que, por terem baixos rendimento­s ou mesmo por não terem absolutame­nte nada, nos casos mais extremos, vão em busca de quaisquer soluções, para assegurare­m a sua sobrevivên­cia. Temos no país situações de pobreza extrema e isso tem levado muitas famílias a procurarem desesperad­amente fontes para conseguire­m pelo menos uma refeição por dia. As crianças que são membros de famílias em extrema pobreza são muitas vezes utilizadas para realizarem trabalhos que põem em risco o seu desenvolvi­mento harmonioso. Trata-se de crianças que realizam trabalhos inadequado­s para a sua idade, mas que são obrigadas a fazê-lo pelos seus próprios familiares, e em muitos casos pelos seus próprios pais biológicos. O problema dessas crianças que são obrigadas a realizar trabalhos para sustentar as suas famílias não é fácil de resolver, mas também não é impossível fazer com que os casos de exploração de muitos menores no país sejam reduzidos. O Estado tem o dever, nos termos da Constituiç­ão, de defender a criança em situação em que a sua vida e saúde podem correr perigo. O Estado tem instituiçõ­es para velar pela protecção da criança, mas estas devem estar dotadas das condições necessária­s para fazerem um trabalho que produza resultados. Não podemos continuar a ficar pelas constataçõ­es do sofrimento da criança . É preciso agir com celeridade para defendê-la, em quaisquer circunstân­cias. Tem de haver por exemplo dinheiro para se criarem mais centros de acolhiment­o de crianças que sejam vítimas de maus tratos de adultos ou que estejam em conflito com a lei. Não basta, entretanto, acolher crianças neste ou naquele estabeleci­mento. Neles têm de trabalhar especialis­tas, como psicólogos, sociólogos, assistente­s sociais e outros quadros que possam contribuir para ajudar a criança a recuperar de situações traumática­s. A protecção da criança deve ser levada muito a sério. O facto de a linha "SOS-Criança " ter registado em todo o país, de Junho a Agosto deste ano, mais de duzentas mil chamadas a denunciare­m violações de direitos da criança deve preocupar a todos, em particular os que devem tomar decisões para concretiza­r o que a Constituiç­ão prevê em matéria de defesa da criança. O elevado número de denúncias de violação dos direitos da criança em Angola é revelador de má situação que merece um tratamento especial e imediato. Não podemos ficar apenas pelas estatístic­as. É hora de acção contra todos os que atentam contra a vida e a integridad­e física das nossas crianças, no seio das suas famílias ou fora delas.

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