Direitos e obrigações
“A nossa liberdade acaba, quando começa a dos outros”, a frase antiga, embora em desuso, não perdeu a actualidade no conteúdo e devia ser lembrada amiúde, para que quem reclama direitos não esqueça deveres.
Luanda é exemplo estampado que a frase esquecida deve começar a ser recordada em casa, na escola, via pública, no emprego, em todos os locais. Talvez, com isso, se conseguisse diminuir o egoísmo crescente que nos leva tantas vezes a centrar o mundo no nosso umbigo, ao ponto de nos cobrirmos de ridículo, ignorando que temos obrigações.
O pagamento do salário a quem trabalha ou trabalhou é um direito constitucional e não cumpri-lo, principalmente nesta fase de dificuldades acrescidas pela crise económica internacional a que se juntou à Covid-19, é lamentável. Somente quem vive o desespero de não poder comer, nem de dar de comer aos seus, consegue avaliar o drama na plenitude, ainda por cima, sabendo que há, entre nós, quem continue a desbaratar dinheiro que nunca mereceu ter.
Alguns trabalhadores da Endiama queixam-se da entidade patronal em não cumprir oacordadoedever-lhesdinheiro. Por tal razão têm vindo a manifestar-se publicamente. É um direito que lhes assiste, desde que não firam o dos outros, que foi o que fizeram, esta semana, no passeio em frente à sede da empresa, na Rua Direita. De forma invulgar, espalhafatosa, ridícula, de joelhos, com apelos a poderes divinos, com um deles a dar o mote, com respostas em coro. Eram poucos, talvez uma vintena, mas os suficientes para dificultarem a circulação de peões, obrigando vários a transitarem na via destinada a carros, como se não lhes bastassem os restantes problemas que o espaço público lhes oferece.
Luanda precisa, mesmo, que se reviva a frase antiga que recorda que “a nossa liberdade acaba, quando começa a dos outros”. É que é possível exigir direitos sem esquecer deveres.