Jornal de Angola

Uma Nota Histórica

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A melhor introdução a uma nota histórica sobre Mahatma Gandhi será nas palavras de um dos maiores cientistas do mundo.

“As gerações vindouras podem muito bem ser, dificilmen­te acreditarã­o que um homem como este, de carne e osso, caminhou sobre esta Terra.” - Albert Einstein

Vida Primitiva (1869-1893)

Mohandas Karamchand Gandhi nasceu em 2 de Outubro de 1869, em Porbandar, Kathiawar, Índia, o caçula entre os três filhos de Karamchand (Kaba) Gandhi e sua esposa, Putlibai. Descrito por Mohandas como “um amante de seu clã, verdadeiro, corajoso e generoso”, seu pai era o Diwan (primeiromi­nistro) de Porbandar. Sua mãe era profundame­nte religiosa e teve uma influência profunda no pensamento e na vida de Gandhi. Os clássicos indianos, especialme­nte as histórias de Shravan e do rei Harishchan­dra, tiveram um grande impacto em Gandhi em sua infância. Ele perdeu o pai muito jovem e foi criado pela mãe a conselho dos anciãos da aldeia. Um velho amigo da família, Mavji Dave, visitou a família de Gandhi e os persuadiu a enviar Mohandas à Inglaterra para se tornar advogado.

Em 1888, Gandhi viajou para Londres, Inglaterra, para estudar direito na University College de Londres. Influencia­do pelos escritos de Henry Salt durante a sua estadia, ele se juntou à Sociedade Vegetarian­a e foi eleito para seu comitê executivo.

Gandhi foi chamado para advocacia em Junho de 1891 e depois deixou Londres para a Índia. Ao retornar, ele soube que sua mãe faleceu enquanto ele estava em Londres. Suas tentativas de estabelece­r um escritório de advocacia em Bombay não tiveram muito sucesso. Em 1893, ele aceitou um contrato de um ano de Dada Abdulla & Co., uma empresa indiana, para um cargo na Colônia de Natal, África do Sul - então parte do Império Britânico.

África do Sul (1893–1914)

Gandhi tinha 24 anos quando chegou à África do Sul. Ele passou 21 anos na África do Sul, onde desenvolve­u sua visão política, ética e capacidade de liderança política.

Na África do Sul, Gandhi enfrentou a discrimina­ção dirigida a todas as pessoas coloridas. Ele foi jogado de um comboio em Pietermari­tzburg depois de recusar sair do compartime­nto da primeira classe para o qual tinha uma passagem. Viajando mais tarde em diligência, ele foi espancado por um maquinista por se recusar a se mover para dar lugar a um passageiro europeu. Ele também sofreu outras dificuldad­es na viagem, incluindo ser impedido de entrar em vários hotéis. Num outro incidente, o magistrado de um tribunal de Durban ordenou que Gandhi removesse seu turbante, o que ele se recusou a fazer.

Esses eventos foram um ponto de viragem na vida de Gandhi e moldaram seu activismo social e o despertara­m para lutar contra a injustiça social. Depois de testemunha­r o racismo, o preconceit­o e a injustiça contra os indianos na África do Sul, Gandhi começou a questionar seu lugar na sociedade e a posição de seu povo no Império Britânico.

Gandhi estendeu seu período original de permanênci­a na África do Sul para ajudar os indianos a se oporem a um projecto de lei que negava a eles o direito de voto. Gandhi enviou um memorial a Joseph Chamberlai­n, secretário colonial britânico, pedindo-lhe que reconsider­asse sua posição sobre o projecto de lei. Embora incapaz de impedir a aprovação do projecto de lei, sua campanha foi bem-sucedida em chamar a atenção para as queixas dos indianos na África do Sul. Ele ajudou a fundar o Congresso Indígena de Natal em 1894 e por meio dessa organizaçã­o; ele moldou a comunidade indiana da África do Sul em uma força política unificada.

Em 1906, o Governo transvaal promulgou uma nova lei obrigando o registo da população indígena da colónia. Em uma reunião de protesto em massa realizada em Joanesburg­o em 11 de Setembro daquele ano, Gandhi adotou sua metodologi­a de Satyagraha, ainda em evolução, pela primeira vez. Ele exortou os índios a desafiar a nova lei e a sofrer as punições por fazê-lo sem qualquer retaliação. O conceito de Satyagraha de Gandhi amadureceu durante essa luta.

“Gandhi chegou à África do Sul em 1893, aos 23 anos de idade... Deixou 21 anos depois, um quase 'maha atma' (grande alma). Não há dúvida de que, quando foi violentame­nte afastado do nosso mundo, já tinha transitado para esse estado. Ele não era um líder comum”. - Nelson Mandela

Luta pela Independên­cia da Índia (1915–47)

Em 1915, Gandhi voltou para a Índia permanente­mente. A essa altura, ele era internacio­nalmente reconhecid­o como um dos principais nacionalis­tas, teórico e organizado­r indiano. Entrou para o Congresso Nacional Indiano e foi apresentad­o às questões indianas, à política e ao povo do seu país principalm­ente por Gopal Krishna Gokhale. Sob as suas instruções, percorreu toda a Índia para adquirir conhecimen­tos em primeira mão sobre o povo e os seus problemas.

As maiores realizaçõe­s de Gandhi na Índia vieram em 1918 com as agitações Champaran e Kheda de Bihar e Gujarat.

Em 1920, Gandhi criou uma base para empregar a não cooperação, a não-violência e a resistênci­a pacífica como suas “armas” na luta contra o domínio britânico. A faísca que desencadeo­u um protesto nacional foi a raiva avassalado­ra no massacre de centenas de civis pacíficos pelas tropas britânicas em Punjab no Jallianwal­a Bagh. Em Dezembro de 1921, Gandhi foi investido como autoridade executiva em nome do Congresso Nacional Indiano. Sob sua liderança, o Congresso foi reorganiza­do como uma nova constituiç­ão, com o objectivo de obter Swaraj.

Salt Satyagraha (Salt March/ Marcha do Sal)

Durante a maior parte da

década de 1920, ele se distanciou da política activa e se concentrou em resolver a cunha entre o Partido Swaraj e o Congresso Nacional Indiano, expandindo iniciativa­s contra a intocabili­dade, o alcoolismo, a ignorância e a pobreza. Ele voltou à política activa em 1928, forçando uma resolução no Congresso de Calcutá em Dezembro, pedindo ao Governo britânico que concedesse o estatuto de domínio à Índia ou enfrentass­e uma nova campanha de nãocoopera­ção e boicote de mercadoria­s estrangeir­as.

Ele então lançou um novo Satyagraha contra o imposto sobre o sal em Março de 1930. Isso foi destacado pela famosa Marcha do Sal para Dandi de Ahmedabad. Esta campanha foi uma das mais bem-sucedidas em perturbar o domínio britânico sobre a Índia. A Grã-Bretanha respondeu prendendo mais de 60.000 pessoas. O Governo, representa­do por Lord Edward Irwin, decidiu negociar com Gandhi. O Pacto Gandhi-Irwin foi assinado em Março de 1931. O Governo britânico concordou em libertar todos os presos políticos, em troca da suspensão do movimento de desobediên­cia civil.

“Para outros países, posso ir como um turista, mas para a Índia venho como um peregrino ...se esta era é para sobreviver, deve seguir o caminho do amor e da não-violência que Gandhi tão nobremente ilustrou na sua vida”. - Dr. Martin Luther King Jr.

Segunda Guerra Mundial e sair da Índia

Gandhi inicialmen­te preferiu oferecer “apoio moral não violento” ao esforço britânico quando a Segunda Guerra Mundial estourou em 1939. No entanto, ele ficou ofendido com a inclusão unilateral da Índia na guerra sem consultar os representa­ntes do povo. Gandhi declarou que a Índia não poderia participar de uma guerra que se travaria ostensivam­ente pela liberdade democrátic­a

enquanto essa liberdade fosse negada à própria Índia. À medida que a guerra avançava, Gandhi intensific­ou sua exigência de independên­cia, pedindo aos britânicos que abandonass­em a Índia em um discurso no Gowalia Tank Maidan. Esta foi a revolta mais definitiva de Gandhi e do Partido do Congresso com o objectivo de garantir a saída britânica da Índia. Gandhi e todo o Comitê de Trabalho do Congresso foram presos em Bombay pelos britânicos em 9 de Agosto de 1942. Gandhi deu aos seus seguidores o seu apelo esclareced­or de 'Fazer ou Morrer' na luta pela Independên­cia. Ele e seus seguidores foram presos e Gandhi foi detido por dois anos no Palácio Aga Khan em Pune.

Foi aqui que Gandhi sofreu dois golpes terríveis em sua vida pessoal. Seu secretário de 50 anos, Mahadev Desai, morreu de ataque cardíaco, seis dias depois sua esposa Kasturba morreu após 18 meses de prisão em 22 de Fevereiro de 1944. Seis semanas depois, Gandhi sofreu um grave ataque de malária. Ele foi solto por motivos de saúde. No final da guerra, os britânicos deram indicações claras de que o poder seria transferid­o para mãos indianas. Nesse ponto, Gandhi cancelou a luta e cerca de 100.000 prisioneir­os políticos foram libertados.

Em 14 e 15 de Agosto de 1947, o Acto de Independên­cia da Índia foi invocado.

Em 30 de Janeiro de 1948 por volta das 5 da tarde, Gandhi estava a caminho para discursar em uma reunião de oração, quando Nathuram Godse disparou três balas de uma pistola Beretta 9 mm em seu peito à queima-roupa. Sua morte foi lamentada em todo o mundo.

Trechos de: PAZ VERDADE AHIMSA Uma biografia fotográfic­a de

Mahatma Gandhi por Birad Rajaram Yajnik

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