Em boca fechada não entra mosca
Os comentários à volta dos últimos acontecimentos políticos, económicos e sociais no País levam-nos a pensar que o muito reclamado diálogo nacional está longe de se concretizar, porque os protagonistas se perdem em intervenções e bate-bocas, sobretudo, nas redes sociais.
É de convir que o envolvimento de Carlos de São Vicente, genro de António Agostinho Neto, em grandes escândalos financeiros belisca (talvez mesmo ensombre) a figura do primeiro Presidente de Angola, mas é preciso, antes de mais, situar cada acto e comportamento no seu devido contexto.
A detenção de São Vicente acontece precisamente no mês dedicado àquele que, para muitos, continua a ser o grande Herói Nacional, embora, e por isso mesmo, permaneça alvo de críticas e até sejam feitos questionamentos em relação à sua liderança no MPLA, na Luta de Libertação Nacional e na Presidência de Angola.
Para alguns, o desenrolar dos acontecimentos, como a indicação e nomeação do Conselho Económico e Social do Presidente da República, demonstra que, de facto, a actual liderança angolana está empenhada no desmantelamento do “ninho de marimbondos”, que, ao longo dos anos, se veio armando no País e que resultou em avultados danos à economia e à sociedade.
Para outros, trata-se, apenas, de um exercício de cosmética, até porque os actuais membros do Governo têm a cauda presa nalgum ponto, tornado marco ao longo dos muitos anos à frente do Aparelho. Presos por ter cão, presos por não ter.
Tudo isso sem se ter em conta que cada sociedade deve ser construída como um leque e não como um catavento, que neste caso funciona apenas quando sopra na nossa direcção. Assopra-se nas velas e até no próprio vento.
Os políticos não podem andar apenas à bolina, à espera de que a cereja lhes caia no topo do bolo. Isso é o que muitos dos que se alvitram em potenciais candidatos a activistas e a cargos públicos folgam em desconhecer, sob pena de serem retirados dos assentos e obrigados a reclamar de uma suposta meritocracia. É difícil ver mérito em quem voltae-meia atira-se contra alguém, por ser indicado ou nomeado, por mais que se tente disfarçar o discurso num emaranhado, como se estivesse cheio de boas intenções.
O Chefe de Executivo convidou, a pessoa aceitou. Só por isso terá a boca fechada?! Ou é isso o que aconteceria com muitos, caso fossem chamados a sentar-se numa cadeira, tu-cá-tu-lá com Sua Excelência? Temos a sincera impressão de que muitos dos que se manifestam nas redes sociais permaneceriam mudos (e talvez até surdos), diante da hipótese de falarem. Tudo porque odeiam ouvir. Incomodam determinados comentários feitos por pessoas que se auguram sabedoras de tudo e mais alguma coisa e que revelam total desconhecimento sobre a História Universal.
Lembraram-nos há dias um episódio em que ficámos surpresos, porque, num grupo de jornalistas, vários desconheciam Charles Chaplin. “O Charlot! Não conhecem o Charlot?!” Mas essa não foi uma situação única. Ainda mais recentemente, encontrámos alguém que alegava desconhecer onde fica a ilha de Zanzibar e o arquipélago dos Bijagós!
O que mais nos preocupa é que, embora revelem ignorância sobre determinados assuntos, muitos insistem em fazer-se ouvir e, para tal, alegam a liberdade de expressão e o direito de opinião. Mas só pode opinar quem tem opinião. Como já disse (e repito), também há o direito de as pessoas permanecerem caladas!
Já dizia o outro que em boca fechada não entra mosca.
O que mais nos preocupa é que, embora revelem ignorância sobre determinados assuntos, muitos insistem em fazerse ouvir e, para tal, alegam a liberdade de expressão e o direito de opinião. Mas só pode opinar quem tem opinião. Como já disse (e repito), também há o direito de as pessoas permanecerem caladas! Já dizia o outro que em boca fechada não entra mosca