O impacto negativo da Covid-19 nas unidades educativas
Ausência de plataformas educativas digitais nas zonas vulneráveis impede o ensino à distância
O impacto negativo da Covid19 no sector educativo e de ensino é um problema imprevisível, que coloca os Governos de todo o mundo, incluindo o de Angola, num exercício frenético, em meio a tantas incertezas, de procura de soluções consentâneas, que devem passar, sobretudo, pelo aperfeiçoamento dos seus programas de saúde, para assegurar a continuidade dos processos educativos em tempos de pandemia à escala planetária. Diante desta realidade, que em Angola intriga os vários intervenientes no processo educativo e de ensino, cujas opiniões divergem sobre as condições actuais das distintas unidades educativas no país, versus as possibilidades da retoma das aulas presenciais com sucesso, o
Jornal de Angola traz, nesta entrevista, reflexões de um especialista em Educação e colaborador do Instituto Superior Politécnico Privado do Zaire e da Escola Superior Politécnica do Zaire, no Soyo, adstrita à Universidade 11 de Novembro, Fredy Leyva Pupo.
Diante da imprevisibilidade da Covid-19, como as unidades educativas e de ensino no país devem actuar face ao problema e à necessidade de garantir a continuidade do processo com segurança?
A Covid-19 surpreendeu um mundo em desenvolvimento, económico, industrial e ao mesmo tempo de flutuantes crises, que não teve em conta a preparação científica, psicológica, social e económica para enfrentar uma pandemia desta natureza. A retoma das aulas presenciais é possível, caso as condições materiais e psicológicas forem garantidas na prática em todas as instituições.
A Covid-19, é uma oportunidade para revolucionar a educação no nosso país?
Hoje, não podemos prever o futuro, mas cada unidade educativa tem a oportunidade de preparar os professores, em função do aperfeiçoamento do programa de saúde, que constitui o eixo transversal em processos educativos, que por sua vez forma cada cidadão para enfrentar um futuro imprevisível, que exigirá de cada um determinadas habilidades e modos de comportamentos reflexivos que lhes permitam projectar estratégias para a resolução de situações problemáticas que o seu meio apresentará.
A tecnologia pode ser a solução?
O mundo vive hoje um desenvolvimento informático que alguns “experts” na matéria chamam de “Era Digital”. A tecnologia podia ser uma alternativa que permitiria sustentar o ensino à distância, diante de uma pandemia como a Covid19, que não é a primeira, e muito menos a última que a humanidade está a viver.
São inumeráveis os factores que impedem o êxito de tão valioso processo, onde as principais lacunas se centram na carência de plataformas educativas virtuais que permitam o ensino online e offline. Mesmo que existisse, o mundo ainda não está preparado, pois existem zonas vulneráveis de pobreza, brechas de equidade tecnológica e carências de equipamentos. Outra contrariedade é que onde existem equipamentos, não há especialistas que possam conduzir esta tão importante tarefa. Entretanto, a Covid-19 revelou em grande medida que os Sistemas Educativos dos denominados “Países Desenvolvidos” apresentam sérias carências neste domínio, ou seja, a impossibilidade de realizar aulas presenciais.
Do que se trata então é educar para as novas tecnologias?
Trata-se de educar sobre as novas tecnologias, o que implica uma atitude crítica sobre as mesmas, confrontando as suas possíveis consequências sociais. Se em programação televisiva e de outros meios de transmissão de informação, se têm em conta critérios educativos, as novas tecnologias podiam alcançar uma dimensão positiva sobre a educação audiovisual. Na actualidade, cresce o número de fóruns internacionais onde se aborda a necessidade imperiosa de enfrentar as provocações que expõe a incorporação das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) aos processos educativos, assim como a abordagem do que se convencionou chamar-se Sociedade de Informação ou Sociedade do Conhecimento das Ciências da Educação.
Entretanto, a instituição educativa serve à sociedade que a estabelece e retribui a ela um indivíduo formado de acordo com as suas expectativas e necessidades, de maneira que reproduza o modelo social, enriquecido pela praxe e permita, num ciclo contínuo e progressivo, a sua transformação e avanço.
A nossa sociedade adquiriu consciência de um necessário redimensionamento do sistema organizacional da escola. Urge obter realmente uma mudança no grau de conhecimento e consideração em termos de projecção, na concepção organizacional do trabalho escolar.
Como fazer das gerações futuras seres conscientes e activos dentro da sua própria actividade em tempos de pandemia?
A tarefa consistiria em garantir a superação profissional, pois esta constitui um conjunto de processos que possibilita aos docentes a aquisição, complementação, ampliação, reabilitação e aperfeiçoamento contínuo dos conhecimentos, habilidades básicas e especializadas, necessárias para um melhor desempenho profissional, permitindo a estes activar em cada educando um processo que garanta a apropriação activa e criadora da cultura do seu meio e de conhecimentos do seu percurso histórico.
Isto permite o trânsito da dependência à independência e auto-regulação, desenvolver a capacidade para realizar aprendizagens permanentes, a partir do domínio de habilidades e estratégias para aprender a “aprender”, além de proporcionar a possibilidade de uma auto-educação constante, com a finalidade de formar uma personalidade integral e determinada, capaz de transformar-se e de transformar a sua realidade num contexto histórico.
A Covid-19 surpreendeu um mundo em desenvolvimento económico, industrial e ao mesmo tempo de flutuantes crises, que não teve em conta a preparação científica, psicológica, social e económica para enfrentar uma pandemia desta natureza