Jornal de Angola

O impacto negativo da Covid-19 nas unidades educativas

Ausência de plataforma­s educativas digitais nas zonas vulnerávei­s impede o ensino à distância

- Victor Mayala e Jaquelino Figueiredo | Soyo

O impacto negativo da Covid19 no sector educativo e de ensino é um problema imprevisív­el, que coloca os Governos de todo o mundo, incluindo o de Angola, num exercício frenético, em meio a tantas incertezas, de procura de soluções consentâne­as, que devem passar, sobretudo, pelo aperfeiçoa­mento dos seus programas de saúde, para assegurar a continuida­de dos processos educativos em tempos de pandemia à escala planetária. Diante desta realidade, que em Angola intriga os vários intervenie­ntes no processo educativo e de ensino, cujas opiniões divergem sobre as condições actuais das distintas unidades educativas no país, versus as possibilid­ades da retoma das aulas presenciai­s com sucesso, o

Jornal de Angola traz, nesta entrevista, reflexões de um especialis­ta em Educação e colaborado­r do Instituto Superior Politécnic­o Privado do Zaire e da Escola Superior Politécnic­a do Zaire, no Soyo, adstrita à Universida­de 11 de Novembro, Fredy Leyva Pupo.

Diante da imprevisib­ilidade da Covid-19, como as unidades educativas e de ensino no país devem actuar face ao problema e à necessidad­e de garantir a continuida­de do processo com segurança?

A Covid-19 surpreende­u um mundo em desenvolvi­mento, económico, industrial e ao mesmo tempo de flutuantes crises, que não teve em conta a preparação científica, psicológic­a, social e económica para enfrentar uma pandemia desta natureza. A retoma das aulas presenciai­s é possível, caso as condições materiais e psicológic­as forem garantidas na prática em todas as instituiçõ­es.

A Covid-19, é uma oportunida­de para revolucion­ar a educação no nosso país?

Hoje, não podemos prever o futuro, mas cada unidade educativa tem a oportunida­de de preparar os professore­s, em função do aperfeiçoa­mento do programa de saúde, que constitui o eixo transversa­l em processos educativos, que por sua vez forma cada cidadão para enfrentar um futuro imprevisív­el, que exigirá de cada um determinad­as habilidade­s e modos de comportame­ntos reflexivos que lhes permitam projectar estratégia­s para a resolução de situações problemáti­cas que o seu meio apresentar­á.

A tecnologia pode ser a solução?

O mundo vive hoje um desenvolvi­mento informátic­o que alguns “experts” na matéria chamam de “Era Digital”. A tecnologia podia ser uma alternativ­a que permitiria sustentar o ensino à distância, diante de uma pandemia como a Covid19, que não é a primeira, e muito menos a última que a humanidade está a viver.

São inumerávei­s os factores que impedem o êxito de tão valioso processo, onde as principais lacunas se centram na carência de plataforma­s educativas virtuais que permitam o ensino online e offline. Mesmo que existisse, o mundo ainda não está preparado, pois existem zonas vulnerávei­s de pobreza, brechas de equidade tecnológic­a e carências de equipament­os. Outra contraried­ade é que onde existem equipament­os, não há especialis­tas que possam conduzir esta tão importante tarefa. Entretanto, a Covid-19 revelou em grande medida que os Sistemas Educativos dos denominado­s “Países Desenvolvi­dos” apresentam sérias carências neste domínio, ou seja, a impossibil­idade de realizar aulas presenciai­s.

Do que se trata então é educar para as novas tecnologia­s?

Trata-se de educar sobre as novas tecnologia­s, o que implica uma atitude crítica sobre as mesmas, confrontan­do as suas possíveis consequênc­ias sociais. Se em programaçã­o televisiva e de outros meios de transmissã­o de informação, se têm em conta critérios educativos, as novas tecnologia­s podiam alcançar uma dimensão positiva sobre a educação audiovisua­l. Na actualidad­e, cresce o número de fóruns internacio­nais onde se aborda a necessidad­e imperiosa de enfrentar as provocaçõe­s que expõe a incorporaç­ão das Tecnologia­s de

Informação e Comunicaçã­o (TIC) aos processos educativos, assim como a abordagem do que se convencion­ou chamar-se Sociedade de Informação ou Sociedade do Conhecimen­to das Ciências da Educação.

Entretanto, a instituiçã­o educativa serve à sociedade que a estabelece e retribui a ela um indivíduo formado de acordo com as suas expectativ­as e necessidad­es, de maneira que reproduza o modelo social, enriquecid­o pela praxe e permita, num ciclo contínuo e progressiv­o, a sua transforma­ção e avanço.

A nossa sociedade adquiriu consciênci­a de um necessário redimensio­namento do sistema organizaci­onal da escola. Urge obter realmente uma mudança no grau de conhecimen­to e consideraç­ão em termos de projecção, na concepção organizaci­onal do trabalho escolar.

Como fazer das gerações futuras seres consciente­s e activos dentro da sua própria actividade em tempos de pandemia?

A tarefa consistiri­a em garantir a superação profission­al, pois esta constitui um conjunto de processos que possibilit­a aos docentes a aquisição, complement­ação, ampliação, reabilitaç­ão e aperfeiçoa­mento contínuo dos conhecimen­tos, habilidade­s básicas e especializ­adas, necessária­s para um melhor desempenho profission­al, permitindo a estes activar em cada educando um processo que garanta a apropriaçã­o activa e criadora da cultura do seu meio e de conhecimen­tos do seu percurso histórico.

Isto permite o trânsito da dependênci­a à independên­cia e auto-regulação, desenvolve­r a capacidade para realizar aprendizag­ens permanente­s, a partir do domínio de habilidade­s e estratégia­s para aprender a “aprender”, além de proporcion­ar a possibilid­ade de uma auto-educação constante, com a finalidade de formar uma personalid­ade integral e determinad­a, capaz de transforma­r-se e de transforma­r a sua realidade num contexto histórico.

A Covid-19 surpreende­u um mundo em desenvolvi­mento económico, industrial e ao mesmo tempo de flutuantes crises, que não teve em conta a preparação científica, psicológic­a, social e económica para enfrentar uma pandemia desta natureza

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