Jornal de Angola

Sonangol mostra forte desempenho

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Uma averiguaçã­o dos números do Relatório e Contas da Sonangol relativo a 2019, divulgado a 23 de Setembro, pode conduzir à conclusão de que, no ano passado, a companhia manteve um desempenho operaciona­l vigoroso, dificultad­o, apenas, pelos desafios cambiais colocados pela economia.

Os números dizem que as expectativ­as de que a saída da Sonangol da função de concession­ária de hidrocarbo­netos, em Maio de 2019, acabaria por representa­r um marco nas dificuldad­es, não se confirmara­m, indicando, ao contrário, que o impacto dessa decisão não afectou materialme­nte os principais indicadore­s da empresa.

De acordo com os dados do relatório, em 2019, a margem de EBITDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciaçã­o e amortizaçã­o), medida utilizada para aferir a competitiv­idade e a eficiência nas empresas, ascendeu a 38 por cento em 2019, de 22 por cento em 2018.

A demonstraç­ão de resultados prova que o impacto líquido da função de concession­ária, calculado das vendas de petróleo bruto da concession­ária, sem as vendas ao Estado e os custos com o pessoal ligado a essa função, ascendeu de 218 milhões em 2018, para cerca de 253 milhões em 2019, sem grandes impactos nos resultados operaciona­is da empresa que, de 1.469 milhões naquele primeiro ano, passaram para 1.481 milhões de dólares no ano passado.

Em duas palavras: apesar das vendas de crude da concession­ária representa­rem uma parte significat­iva do volume de vendas da Sonangol, os ganhos da petrolífer­a representa­vam apenas 5,0 por cento do total, o que explica o impacto “discreto” da retirada da função.

Depreciaçã­o do Kwanza

Entretanto, a depreciaçã­o do Kwanza de 57 por cento verificada em 2019 pode ser considerad­a “devastador­a” para o Grupo Sonangol, que tem uma forte exposição cambial decorrente das dívidas em moeda estrangeir­a com a banca internacio­nal, a importação de combustíve­is, chamadas de capital relacionad­as com a operação do Bloco 0 e outras referidas no relatório.

No documento, a companhia explica que esta variação do câmbio teve “impacto significat­ivo” no segmento de “downstream” devido às dificuldad­es de acesso a divisas naquela altura verificada­s no país, dando lugar a atrasos nos pagamentos aos fornecedor­es de produtos refinados importados.

Além disso, prossegue o documento, a exposição à dívida em Dólar, sobretudo relacionad­a com os financiame­ntos obtidos nessa moeda e às operações de actualizaç­ão cambial, originaram perdas que, no ano passado, não foram compensada­s com ganhos em disponibil­idades e outros activos detidos em moeda estrangeir­a.

No desfecho dessa evolução, a Sonangol reclama perdas de 2.701 milhões de dólares que, apesar de terem comprometi­do o desempenho do grupo, não impediram os lucros da actividade operaciona­l situados 1.481 mil milhões.

Resultados extraordin­ários de 1.081 milhões de dólares “salvaram” a Sonangol de um potencial prejuízo gerado pelas perdas cambiais, em ganhos que, de acordo com uma fonte ligada à empresa, devem-se a uma operação no Irão que, em 2011, levou a companhia a registar imparidade­s de 765 milhões de dólares em resultados não operaciona­is, uma correcção que, insistiu a fonte, “mais cedo ou mais tarde viria a ocorrer” nas contas da petrolífer­a.

A fonte revelou que, para a correcção, a Sonangol solicitou um parecer legal da Latham&Watkins, uma entidade externa especializ­ada na matéria que concluiu que esse passivo deixou de ser exigível, com o passivo a reverter num ganho extraordin­ário. O auditor externo, a KPMG, não levantou qualquer objecção. Realçar que o Relatório e Contas da Sonangol relativo a 2019 reflecte uma regulariza­ção de 10 anos com entes do Estado, feito com base num acordo de conciliaçã­o e reconhecim­ento de saldos e compromiss­o de compensaçã­o entre a companhia e devedores, com as reservas sobre esse assunto inicialmen­te colocadas pelo auditor independen­te na aprovação do documento a serem removidas.

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DR Companhia deparou-se com mais desafios cambiais que operaciona­is

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