Ousadia no Show do Mês Live
Proposta ousada no Show do Mês Live foi a presença da Orquestra Camerata de Luanda (8 de Agosto), disponível no Youtube e que voltou a passar na TPA 2 e TPA Internacional há uma semana. A ousadia resultou na adição à música de câmara, também tratada como clássica, dos sucessos da música popular urbana angolana e dos temas internacionais que fazem parte do imaginário nacional. O concerto foi marcado pelo coro “Onde há Covid, eu não posso ficar lá”
O jovem maestro Félix Costa e os seus 19 instrumentistas repartidos entre os violinos, violoncelos, contrabaixos e clarinete, entraram interpretando uma das maiores referências da música clássica, Mozart em “Eine Kleine Nachtmusic”, composição de 1787, a que se seguiu “La Paloma”, da dupla Sebastien Iradier e Salavier, obra de 1863. Após as músicas de câmara, os executantes fizeram um “Intermezzo”, ou seja, um interlúdio, marcado pelo improviso e sinalizando que a música nacional seria determinante.
Uma volta ao repertório do Rei da Pop, Michael Jackson, também testou a ousadia dos jovens da Orquestra Camerata, concretamente em “Billy Jean”, com as sinfonias e andamento do jovem maestro.
A conversa girou em torno da pertinência da simbiose entre música erudita ou clássica e a música popular. A questão da marcação e pauta da música popular angolana e um paralelo com outras realidades musicais foram temáticas igualmente chamadas à conversa.
Os jovens com formação clássica e a produtora Nova Energia reservaram um repertório revestido com sucessos de artistas como Jacinto Tchipa, Minguito, Sabino Henda, Waldemar Bastos, Teta Lando e Bessa Teixeira. Foram dados novos arranjos a temas conhecidos destes cantores, nomeadamente “Cartinha da Saudade”, “Pensando Conforme o Tempo”, “Embrião”, “Teresa Ana”, “Ntoyo” e “Sulula”. Com a presença dos violinos e dos violoncelos ficou provado que é possível levar à chamada “música erudita” o saber e conhecimento do cancioneiro popular.
A cantora lírica Marília Alberto brindou os telespectadores, internautas e ouvintes com “Monami” de Lourdes Van-Dúnem. Bruno Neto, tenor e membro dos Lirikhus, formação que tem levado a música popular para a vertente clássica, reinventou “Avó Beia” de Pedrito. Já Carla Moreno foi à sua terra-mãe, Cabo Verde, e soltou a morna “Mi Crea Ser Poeta”, de Paulino Vieira, ao longo do tempo refeita por Ildo Lobo e outras vozes. Didi da Mãe Preta trouxe a vitalidade dos grandes senhores da nossa música. “Ngongo”, tema marcante dos Jovens do Prenda, ficou muito mais clássico com o acompanhamento da Orquestra Camerata de Luanda.
Didi da Mãe Preta, que se estreou em palco com uma orquestra nos seus mais de meio século de carreira, reforçou os marimbeiros do Kilandukilu em “Kiximbula”, num dos momentos mais ousados do concerto. A presença da ala percussiva com alguns elementos do Nguami Maka, que ficou baptizada como “Kufikissa”, reforçou o espírito e a vontade da coabitação das várias tendências rítmicas e o aprendizado mútuo. Mais uma vez os instrumentistas não decepcionaram. Mário Gomes dedilhou “Mona Ki Ngi Xiça” de Bonga e, em “Semba Henda”
de Marito, com os tambores, o mukindu, a dikanza e a puita dos “Kufikissa” em grande, fez um diálogo com Benildo dos Putos, no violino.
Em “Camacove” Paulo Quinjica fez a introdução com o seu violino. Um outro integrante, Luís Vasco, com o seu clarinete, destacouse em “La Filó” dos Malavoi da Martinica. Alexandre, nos tambores, mostrou progressos em ”Teresa Ana”; Yark Spin executou “Dembita” de Mário Rui Silva, um dos pioneiros a pautar a música angolana, e o agora Dr. Teddy Nsingui, como é habitual, brilhou com “Ao Pôr-dosol” de Zé Keno. A parte final foi feita ao ritmo de carnaval e de canções que marcam o Marçal, como “Uanga Ué”, “Nguitabule”, “Camacove” e “Jingonça”. A batida das turmas da génese do Semba harmonizou-se com a música de câmara, para satisfação dos telespectadores, internautas das páginas do Show do Mês e dos parceiros Angola Telecom e BAI, bem como dos ouvintes da Rádio FM Stereo.