África quer acesso a fundos para poder comprar vacinas
No início desta crise, mesmo os países africanos que tinham dinheiro para comprar testes tiveram imensos problemas por causa do nacionalismo e do proteccionismo
O enviado especial da União Africana, Donald Kaberuca, disse ontem que África está no fim da fila para a aquisição da vacina contra a Covid-19 e pediu maior acesso a reservas dos bancos multilaterais para conseguir imunizar a população do continente.
“Quando os antirretrovirais ficaram disponíveis, os países africanos só tiveram acesso a eles uma década depois. No início desta crise, mesmo os países africanos que tinham dinheiro para comprar testes tiveram imensos problemas por causa do nacionalismo e do proteccionismo. Então, sim, já estamos no final da fila para as vacinas", disse Donald Kaberuka.
O enviado da União Africana para a Covid-19 falava ontem durante a conferência do Financial Times sobre África, este ano em formato virtual, num painel sobre a vida no continente após a pandemia.
"Os países europeus, os países ricos, já pré-compraram as vacinas", apontou, sublinhando a urgência de se "encontrar um mecanismo global" que assegure que África consegue vacinar "a massa crítica necessária para criar imunidade em África", que, segundo o África CDC, é de 60%.
"O que esperamos e defendemos é que uma pequena parte dos Direitos Especiais
A secretária-executiva
da Comissão Económica das Nações Unidas para África, Vera Swonge, alertou ontem que se a ajuda não continuar em 2021, o continente africano enfrenta um grave problema de aumento da pobreza.
“Falamos muito da dívida porque estamos ligados ao sector Financeiro, mas o que realmente interessa é não perder os ganhos de redução da pobreza que temos conseguido ao longo dos últimos anos, e isso está em risco severo de ser perdido", disse a subsecretária geral das Nações Unidas, alertando que países como Angola, Nigéria e Egipto estão particularmente em risco se a ajuda se desvanecer em 2021.
"O Egipto tem 3% da população abaixo do nível da pobreza, mas tem 40% das pessoas em situação de vulnerabilidade, e se não ajudarmos países como Nigéria ou Angola, rapidamente teremos no continente enormes desigualdades e perturbações sociais", alertou a responsável, durante a conferência do Financial Times sobre África.
"Em 2020 conseguimos ser resilientes, mas esse apoio tem de continuar em 2021, senão não vamos conseguir manter resiliência", avisou Vera Swonge.
No painel com o tema “A vida depois da Covid-19”, a responsável de Saque (Special Drawing Rights) sejam disponibilizados para serem usados no acesso às vacinas", sustentou.
"Não acreditamos que as iniciativas internacionais actuais sejam adequadas para nós acedermos às vacinas ao nível que precisamos", acrescentou, lembrando que estas iniciativas sustentam que "não há problema" se a vacina abranger apenas 20 por cento da população africana.
Os Direitos Especiais de apontou que "mais do que de dívida, é preciso falar de liquidez", e salientou que "a pandemia da Covid-19 está a impedir que seja dada atenção a outras doenças como a malária ou a cólera", defendendo que os Governos "precisam de ter verbas para continuar a combater estas doenças".
Vera Songwe disse que apesar de o continente africano enfrentar um aumento do nível da dívida pública e uma redução do crescimento económico, o ponto da discussão deve estar na liquidez
Saque permitem aceder às reservas internacionais dos bancos multilaterais (FMI, Banco Mundial), mas para isso é necessário a aprovação dos accionistas (Estados-membros).
África registou nas últimas 24 horas mais 200 mortes devido à Covid-19 e 7.964 novas infecções, elevando os números totais para 38.396 e 1.577.644, respectivamente, segundo os últimos dados relativos à pandemia no continente.
De acordo com o Centro de de que os Governos africanos necessitam para manter as reformas e conseguir garantir que os ganhos em governação alcançados nos últimos anos não são perdidos.
"Precisamos de liquidez para proteger as reformas que os Governos lançaram e que têm beneficiado as populações", salientou.
Na mesma linha, a secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia, Louise Mushikiwabo, argumentou que "injecções de liquidez e reestruturação da dívida
Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nas últimas 24 horas o número de recuperados nos 55 Estados-membros da organização foi de 6.997, para um total de 1.304.622 desde o início da pandemia.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de um milhão e setenta e quatro mil mortos e mais de 37,2 milhões de casos de infecção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência France Press. são essenciais e extremamente urgentes para os países terem margem orçamental para combater a pandemia".
A resposta africana à pandemia "foi muito boa, muito rápida, e os Governos foram corajosos em tomar medidas complicadas para as populações", e por isso é indispensável "encontrar maneiras para os países africanos, que estão em diferentes situações, serem capazes de lidar com a crise de saúde, reestruturar as suas dívidas e planear o futuro".