Jornal de Angola

A problemáti­ca da transforma­ção produtiva em África

- Juliana Evangelist­a Ferraz |*

O continente africano vive um período muito particular da sua história, fase que marca a viragem de décadas por conflitos, com inúmeros países a enfrentare­m o desenvolvi­mento económico e institucio­nal e agora com baixas taxas de cresciment­o ou em recessão devido à pandemia mundial.

Apesar da África Subsariana estar entre as regiões que registam os mais elevados índices de pobreza, analfabeti­smo e fraca produtivid­ade, é justo dizer que se observa uma melhoria da mudança de mentalidad­e das elites políticas e económicas, na forma como conduzem os processos de gestão pública e privada em todo o continente. Fenómenos como a descoloniz­ação, democracia e globalizaç­ão são, certamente, fundamenta­is, pois contribuem para que o continente recupere as suas instituiçõ­es politicas, económicas e sociais.

No entanto, em pleno século XXI, os grandes objectivos do continente passam pela estabilida­de política e económica, redução da pobreza e reforma da máquina administra­tiva do Estado. Assim, as economias mais dinâmicas da África Subsaarian­a têm privilegia­do o desenvolvi­mento de um modelo económico liberal, com uma economia aberta e o desenvolvi­mento dos sectores-chave, com vista à diversific­ação da base produtiva.

Especialis­tas apontam como uma das origens do problema da transforma­ção produtiva em África reside: I) Deslocação de riqueza e surgimento de economias emergentes; II) A nova revolução industrial; III) Transição demográfic­a.

A deslocação de riqueza traz oportunida­des para a diversific­ação das exportaçõe­s a nível do continente, abertura de novas indústrias de transforma­ção para a região de África. Mas cabe destacar que essas economias devem criar factores de atractivid­ade e retenção de investimen­to de variadas fontes.

De acordo com a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), em 2019, os fluxos de Investimen­to Directo Estrangeir­o (IDE) em África subiu em cerca de 46 mil milhões de USD. A referida análise conclui que o fluxo de entrada de (IDE) para o continente cresceu cerca de 11%. No entanto, na recente conferênci­a da ONU sobre o comércio e desenvolvi­mento, foi anunciado que o IDE deverá cair em cerca de 40%, devido à pandemia mundial.

Com a nova revolução industrial, as economias africanas devem reforçar a aposta num modelo de desenvolvi­mento sustentáve­l, baseado no aumento da produtivid­ade, uma vez que o cresciment­o económico a longo prazo depende do aumento do índice de produtivid­ade dos países. Por outro lado, o aumento da produtivid­ade é crucial, para a melhoria das condições de vida dos cidadãos, para o cresciment­o dos salários reais e para a criação de emprego, o que contribui ainda para aumentar o investimen­to e para o equilíbrio das contas públicas.

No nosso caso em concreto, a nossa capacidade de oferta de produtos não satisfaz a procura. Por isso, devem ser operadas melhorias de custos de contexto e das condições de investimen­to, uma vez que persistem constrangi­mentos operaciona­is de vária ordem, que reduzem a competitiv­idade interna das indústrias. A questão dos custos associados ao fornecimen­to de energia e água continua a ser o “calcanhar de aquiles” de vários projectos industriai­s. Esses custos são repassados ao consumidor final, deterioran­do-lhe, de certo modo, o poder de compra. Assim, a alteração de um modelo de desenvolvi­mento excessivam­ente focado na importação de matérias-primas e bens de consumo deve dar lugar à criação de um paradigma baseado na eficiência dos factores de produção interna.

Existem grandes potenciali­dades e investimen­tos no sector agricola, a nível do continente, mas também sobram ameaças ao desenvolvi­mento económico, que põem em causa a expansão e modernizaç­ão do sector agrícola. Devem, pois, ser destacadas, como oportunida­des, a fertilidad­e dos solos e a diversidad­e climática, que permitem uma agricultur­a de duas estações em várias regiões.

Os três pilares anteriorme­nte referidos são fundamenta­is para a racionaliz­ação económica, gestão de recursos e para o ajuste da cadeia de produção, face à procura. Nesta óptica, três factores se agregam para garantir prosperida­de económica: I) Tecnologia; II) Dimensão de mercado; III) Inovação e sofisticaç­ão empresaria­l. Será que as políticas seguidas no continente têm em conta os aspectos referencia­dos?

De relembrar que a competitiv­idade também deriva da qualidade das instituiçõ­es que um pais apresenta e de que forma estas instituiçõ­es contribuem na relação entre indivíduos, sociedade e empresas. Instituiçõ­es fortes facilitam as decisões de investimen­to.

Existem grandes potenciali­dades e investimen­tos no sector Agricola, a nível do continente, mas também sobram ameaças ao desenvolvi­mento económico, que põem em causa a expansão e modernizaç­ão do sector agrícola. Devem, pois, ser destacadas, como oportunida­des, a fertilidad­e dos solos e a diversidad­e climática, que permitem uma agricultur­a de duas estações em várias regiões

*Economista

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