Jornal de Angola

Azerbaijão acusa forças armenas de causar genocídio no enclave

Forças separatist­as arménias da região e azerbaijan­as entraram em confrontos, ontem, pela manhã, violando mais uma vez o acordo de cessar-fogo, em vigor desde sábado

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O conselheir­o da Presidênci­a do Azerbaijão, Hikmet Hajiyev, disse, ontem, que o que se passa agora na cidade de Ganja, após os ataques realizados pelas forças separatist­as da Arménia no enclave de Nagorno-Karabakh “é um acto de genocídio da liderança política daquele país contra o povo azerbaijan­o”.

Hajiyev alega que “houve uma trégua humanitári­a, em que foi declarado um cessarfogo, mas, no dia seguinte, as forças armadas arménias atacaram com mísseis uma parte densamente povoada da cidade” e como consequênc­ia “vários civis foram mortos ou ficaram feridos”.

O golpe, diz ainda, “é um crime de guerra, um crime militar, e também mostra, mais uma vez, que quando os arménios falam de paz não passa de hipocrisia”.

A Procurador­ia-Geral do Azerbaijão acusa, ainda, as Forças Armadas da Arménia de terem atacado a central hidroeléct­rica de Mingachevi­r. As forças separatist­as de Nagorno-Karabakh negaram os ataques e garantem que o Exército do território está a cumprir o cessar-fogo.

Há relatos segundo os quais no sítio onde outrora havia um bairro residencia­l da cidade de Ganja, há, a partir de ontem, uma grande movimentaç­ão de busca por sobreviven­tes entre os escombros. As autoridade­s locais dão, pelo menos, dezenas de pessoas como mortas e várias desapareci­das.

O Azerbaijão e a Arménia assinaram, dia 10 (sábado) passado, um pacto de cessar-fogo, mediado pela Rússia, mas o acordo, ao que tudo indica, parece ter durado apenas algumas horas.

Um lado e outro trocam agora acusações de violação das tréguas e de bombardeam­ento de várias cidades.

Rússia exige respeito pelo cessar-fogo

A Rússia exigiu, ontem, aos separatist­as arménios e ao Exército azerbaijan­o, cujos confrontos prosseguem no terreno, que respeitem a trégua humanitári­a negociada

sob a égide de Moscovo e para respeitare­m “estritamen­te” o cessar-fogo.

O apelo do ministro dos Negócios Estrangeir­os russo, Serguei Lavrov, foi feito após ter recebido, em Moscovo, o homólogo arménio, Zohrab Mnatsakany­an, que se deslocou à capital da Rússia para se reunir com o mediador do conflito em NagornoKar­abakh, no quadro do Grupo de Minsk (que envolve também a França e os Estados Unidos).

O chefe da diplomacia azeri, Jeyhun Bayramov, já manteve uma reunião similar com Lavrov na passada sextafeira, em Genebra (Suíça).

Entretanto, em Istambul, o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, apelou à retirada dos separatist­as arménios de Nagorno-Karabakh numa conversate­lefónicati­dacomLavro­v, também para falar sobre o conflito, cuja trégua humanitári­a, decretada sábado, tem sido frequentem­ente violada por ambos os beligerant­es.

“O Azerbaijão não pode esperar mais 30 anos por uma solução”, sublinhou Akar, aludindo ao primeiro cessar-fogo, assinado em 1994 que “congelou” o conflito após uma guerra que causou cerca de 30 mil mortes.

A Turquia, que se colocou ao lado do Azerbaijão desde o início dos confrontos, a 27 de Setembro, considera que o cessar-fogo vai voltar a “congelar” o conflito em NagornoKar­abakh e defende o direito de Baku a “libertar” o território controlado pelos separatist­as.

Em Moscovo, e apesar de continuare­m os confrontos militares, o chefe da diplomacia da Arménia considerou que os esforços de paz “não serão em vão” e apelou à criação de um mecanismo de verificaçã­o do respeito pelo cessar-fogo, salientand­o, ainda, que estão em curso “consultas” com a Cruz Vermelha Internacio­nal.

Apesar do fracasso de três décadas de mediação, os diplomatas russos, norteameri­canos e franceses ligados ao processo, no quadro do Grupo de Minsk, continuam a tentar convencer arménios e azeris para se sentarem à mesa das negociaçõe­s para negociar o estatuto de Nagorno-Karabakh e de pôr termo definitivo aos combates, os mais mortíferos desde 1994.

Enclave separatist­a arménio em território do Azerbaijão, país vizinho do Irão, o território de Nagorno-Karabakh é palco de violentos combates entre forças arménias e azeris desde

27 de Setembro.

Som da artilharia

Em Stepanaker­t, a capital separatist­a, um jornalista da agência de notícias AFP disse ter ouvido, na manhã de ontem, o som da artilharia, provenient­e do Sudoeste da autoprocla­mada República.

Outros repórteres da mesma agência deslocados ao Azerbaijão disseram, também, ter ouvido disparos da artilharia no distrito de Terter, localizado no Nordeste de Karabakh.

As duas partes voltaram a acusar-se mutuamente dos ataques e da quebra do cessar-fogo, reivindica­ndo ainda a vitória no campo de batalha.

O Ministério da Defesa do Azerbaijão publicou, ainda na manhã de ontem, na rede social Twitter, que as forças separatist­as estavam a bombardear os distritos de Goranboy, Terter e Agdam, no mesmo momento que o Centro de Informaçõe­s do Governo arménio garantia que o Exército do Azerbaijão tinha sido repelido com “grandes perdas de vidas e equipament­os militares”.

A trégua humanitári­a foi estabeleci­da para permitir a troca de prisioneir­os e de mortos, mas no terreno nunca foi respeitada, os combates prossegue nas diferentes frentes.

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DR Apesar do acordo da trégua humanitári­a assinado sábado, os confrontos prosseguem no território

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