Sérgio Rescova! Presente!
“Criar com os olhos secos” Se, eventualmente, alguém me perguntar o motivo destas linhas, não tenho palavras. Recorreria à antiga música dos anos 70 do conjunto “Aqua Viva” da Andaluzia/ Espanha que dizia “me queda la palabra”.
Conheci Luther Rescova no óbito da mãe do meu sobrinho de sangue, Chitapa, seu adjunto nas lides da célebre JMPLA. A partir de então, tratou-me sempre por tio. Aparecia, quando podia, no meu quintal, nos momentos bons ou maus. Porém, nunca imaginei que eu passei para tio dele, de facto e definitivamente, segundo cânones africanos.
Quando um dia, convidado pela JMPLA, numa actividade política, ao levantar-me, o apresentador gaguejou entre Tio ou Camarada e, um dia desses, ao entrar na Administração de Viana, mal pisei as escadas, um jovem veio ter comigo, convidando-me para o acompanhar ao Gabinete do Sr. administrador adjunto. Chegados lá, uma jovem levantou-se e disseme, em voz familiar:
Então, Tio, honra-nos esta visita! Em que poderemos ser úteis?
Percebi que Sérgio Rescova me promovera a Tio dele, até entre os seus colaboradores e de forma definitiva. Foi assim que, pouco depois, telefonei e combinámos um encontro no Uíge, “me queda la palavra”.
Ao ver, na TPA, os jovens do Cunene, sentados, a cantarem, em óbito e, um outro, também, na TPA, a puxar o corpo de Sérgio Rescova para o lado de Hoji ya Henda ou, ainda, ao ouvir as palavras sentidas de um jovem do outro lado da bancada, a lamentar a sua prematura partida, fica claro que perdemos um obreiro do fio continuador da nossa História.
Então, temos que nos preparar a enxugar as lágrimas, pois, alguns de nós ficarão na primeira esquina, mas a revolução vai triunfar.
Na História de Angola, tal como na da Humanidade, os melhores de nós vão partir, primeiro, para servirem de adubo na longa caminhada de construção da Nação Angolana.
Vamos “Criar com os olhos secos”, porque a Luta continua!
Sérgio Rescova trabalhou para todos nos envolvermos nesta luta que continua contra preconceitos desanimadores, contra ideologias asfixiantes, contra tribalismos divisionistas e contra racismos incompreensíveis.