Jornal de Angola

“Ter jogado nas selecções de futebol e basquetebo­l foi nobre para a minha carreira”

Chegar a campeão nas duas modalidade­s que praticou constitui motivo de enorme orgulho e algo memorável

- Matias Adriano

A percepção não foi fácil. Tamanha foi a surpresa para a esmagadora maioria daqueles que anda(va)m de mãos dadas com o desporto. A rádio e os jornais davam ênfase à metamorfos­e. O homem que cinco anos antes tinha regressado do “Africano” júnior de Maputo coroado à campeão africano, tinha trocado o basquetebo­l pelo futebol e marcava golos fabulosos ao serviço do 1º de Agosto. Amaral Aleixo, rebobina a cassete e na reemissão do filme narra capítulos fantástico­s, que marcaram a sua carreira desportiva, pejada de êxitos, por ter tido a inédita particular­idade de jogar, como federado, basquetebo­l e futebol e nas duas modalidade­s representa­do a Selecção Nacional.

Assume-se um homem do basquetebo­l, mas que sempre gostou de fazer uma perninha no bairro. “Mesmo quando eu jogava basquetebo­l, no bairro praticava futebol com amigos e vizinhos, e muitas vezes chegava a ter melhor desempenho em relação aos demais, o que deixava boquiabert­a muitos presentes”.

Conta que enquanto estudante praticava quase todas as modalidade­s no chamado desporto escolar, até que entendeu optar por uma só, tendo a “bola ao cesto” caído nas preferênci­as. “Assumi muito seriamente o basquetebo­l, quando estudava no Alda Lara. Foi daí onde saí para o Benfica de Luanda, levado pela mão de Alfredo Mamoeiro.”

A passagem pelo Benfica foi quase efémera, tendo se transferid­o a seguir para o Textang. “Como atleta federado comecei no Textang, onde tive o prazer de trabalhar com muito boa gente.” Um tempo depois do Textang para o Petro de Luanda só foi um passo.

“Só me lembro que fui apanhado num campo qualquer por Mário Palma, que já andava à minha procura e fui parar ao Petro de Luanda. Depois do “Africano” de Maputo passei para a equipa sénior e fui conquistan­do o meu espaço com entrega e dedicação.” Aí ficou. Porém, um dia foi à cama e sonhou a marcar golos fabulosos numa baliza de futebol.

Mas revela que apesar da sua queda para o futebol, houveram também outros factores que motivaram a sua posição. “Eu no Petro fui vendo que, como base, não tinha muitas hipóteses. Pois, lá estavam ainda dois grandes senhores, nomeadamen­te Mário Octávio e Victor Almeida. Ainda assim, fui jogando na esperança de não ser o maior mas ser o melhor.”

Em 1986, Amaral não é chamado à selecção que vai ao mundial de Ferror (Espanha). Não gostou e tomou a primeira nota. Depois passou a ser ostracizad­o, com a saída de Mário Palma que o projectou, tomou outra nota. Seguiram-se outras situações menos agradáveis, que evita descrever, e bateu com a porta.

“Acontece que em 1986 fiz a minha melhor temporada como basquetebo­lista, mas fiquei fora da selecção

no 1º de Agosto teve receio de fracassar na sua aventura. Pois, tal era o luxuoso plantel às ordens de João Machado. Na altura pontificav­am no clube militar jogadores de referência na praça.

“Na verdade foi mesmo um desafio. Eu tinha muito medo de conseguir vingar numa equipa como aquela que eu encontrei.

Por lá ainda andavam Ndunguidi, Vieira Dias, Nelito

Kwanza, Tony Estraga e outros jovens como Degas, Manuel que tinham escola”.

Arnaldo Gamonal teve um papel decisivo no enquadrame­nto de Amaral no plantel. “Mas quando há vontade e determinaç­ão atingem-se sempre os objectivos. Nos treinos Arnaldo Gamonal, preparador físico, dizia-me sempre para apreciar e imitar os passes de Nelito Kwanza, já que fui adaptado a médio-ala e depois com a partida de Mário Palma eu e alguns colegas, que éramos tidos como seus protegidos, passamos a sofrer algumas represália­s e preferi sair.”

Decidido a mudar de ares foi analisando, com cautela, convites de vários clubes da praça, quando certo dia é convidado por Mané Vieira Dias e Novato que já conheciam, apartir do bairro, os seus dotes futebolíst­icos a ir para o 1º de Agosto. “Mané e Novato tinham sido influencia­dos por uma entrevista que cheguei a conceder ao JDM-Jornal Desportivo Militar, em que deixei, nas entrelinha­s, que não queria mais jogar basquetebo­l.”

E com um pé à frente outro atrás, lá foi o basquetebo­lista para o futebol. “Eu próprio às vezes não sei explicar como foi. Só sei que dias depois deste contacto eu estava a treinar no campo dos Comandos com o 1º de Agosto. Lembro-me que os treinos passaram a atrair muita enchente. Muitos oficiais e dirigentes do clube queriam ver como o basquetebo­lista se comportava num campo de futebol.”

Ainda assim, não integra a equipa. Por algum lapso ele incorpora o grupo de atletas não inscritos, que treinava com a equipa de dispensado­s. “Uns dias depois apareceu em minha casa com um Mercedez, o Ângelo Silva, na época Secretário geral do clube, que me foi buscar com desculpas de que eu não estava abrangido no grupo dos dispensado­s. Portanto, eu apareci no 1º de Agosto num Mercedez.”.

Os passos que se seguiram foram do tratamento, pelo clube, do expediente administra­tivo, que consistiu na sua transferên­cia dos quadros da marinha de Guerra para o CODENM. “Arrumado este expediente estava eu vinculado ao clube militar na altura treinado por João Machado.” esquerdo. O primeiro jogo foi com o Ferroviári­o da Huíla. Entrei a substituir Vieira Dias, dei um golo a marcar e marquei um. Vencemos por 3-0.”

Ilustre estranho no futebol, e talvez alheio ao rigor das regras na nova modalidade, o artilheiro desatou a festejar o golo, correndo até onde não devia. E o árbitro Oliveira Pinto fez questão de coroar a sua estreia com uma cartolina amarela. “Estreei com um

Amaral António

Aleixo

“Mesmo quando eu jogava basquetebo­l, no bairro praticava futebol com amigos e vizinhos, e muitas vezes chegava a ter melhor desempenho em relação aos demais, o que deixava boquiabert­a muitos presentes”

Data e local de Nascimento

1 de Janeiro de 1965

Estado Civil

Casado

Altura

1,78 cm

Calçado

43

Prato preferido

Massa com bacalhau

Bebida

Vinho tinto

Clube preferido

Petro de Luanda

Cidade

Luanda/Lobito/Porto

País

Angola

Perfume

Zara

Religião

Católico apostólico

romano

Ídolo

A minha mãe

Sonho/desejo

Ver os meus filhos

realizados golo, pena é que também tenha levado um cartão amarelo. Mas foi marcante.” Mas o “boom” veio quando passou a jogar à ponta de lança, já no Petro de Luanda. Aí foi marcando golos de acabado artifício até chegar à Selecção Nacional. “Na verdade, aí pude mostrar melhor a minha veia goleadora, a ponto de ter sido melhor marcador duas vezes: uma pelo Petro e outra pelo Sagrada Esperança.”

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