Jornal de Angola

Até aonde vai o Presidente Paul Biya?

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Reeleito, em 2018, para o seu sexto mandato, o Presidente da República dos Camarões, aos 87 anos de idade, parece claramente estar a viver os piores dias do seu consulado, numa altura em que se acentuam as tendências de secessão na chamada República da Ambazónia, pressão popular da oposição, crescente impopulari­dade e degradação da vida económica.

Paul Biya, aos 87 anos de idade e no poder desde 1982, é claramente um sobreviven­te da era dos Presidente­s africanos que passaram para a História como ditadores e parece resistir a tudo e todos, tornando-se dia após dia num Presidente vitalício de facto dos Camarões.

Tal como Mobutu, antigo Presidente do ex-Zaire, nos seus últimos anos, Biya passa regularmen­te longos períodos de tempo na Suíça, no Hotel Inter Continenta­l Geneva, onde alegadamen­te “vai trabalhar sem ser incomodado”, em estadias que podem estender-se por três meses, mas sempre referidos pela imprensa pública camaronesa como “estadias curtas”. Há informaçõe­s desencontr­adas sobre quem de facto governa os Camarões, quando alguns sectores contra Biya alegam que este governa por delegação de poderes, enquanto outros pró Biya encaram com naturalida­de o facto de, cada vez mais, sobressair a figura do secretário-geral da Presidênci­a.

A agudizar-se as “guerras internas” entre os partidário­s do Presidente camaronês, numa altura em que se degrada tudo em torno do mesmo, a idade, a governação, o controlo da situação política e militar do país, não há dúvidas de que o país se encaminha para viver a Lei de Murphy. “Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”, diz uma das Leis de Murphy, uma analogia que se encaixa perfeitame­nte com o poder de Paul Biya, que arrasta o país para uma catástrofe política.

A gravidade da situação política interna é monumental, atendendo que cresce a impopulari­dade e a sensação generaliza­da de que o Presidente não tem pleno controlo da situação, agudizamse as acções dos movimentos independen­tistas no sul do país, bem como a pressão da oposição política, as repressões e detenções de opositores.

Por exemplo, está detida a principal figura da oposição Maurice Kamto, líder do chamado Movimento para o Renascimen­to dos Camarões, que se encontra sob prisão domiciliar e viu reforçado os mecanismos de cárcere à volta da sua residência.

Fruto da repressão policial e detenção de centenas de membros da sua formação política, Maurice Kamto escreveu, na sua página no Twitter, que “certamente, mais uma vez, chegou a nossa hora de enfrentar a violência estatal de um regime ultrapassa­do. A arbitrarie­dade e a barbárie não podem superar a determinaç­ão das populações camaronesa­s de se libertarem da tirania”.

No sul do país, em que foi declarada unilateral­mente um Estado independen­te por um grupo que luta pela independên­cia do sul dos antigos Camarões Britânicos, desde 1999, com a designação de “República da Ambazónia”, a situação conhece níveis de violência que fez soar os alarmes das Organizaçõ­es Internacio­nais, mas não o suficiente para demover o Presidente Paul Biya no sentido olhar de maneira diferente os problemas que envolvem exclusão, tentativa de “galicizaçã­o” da região anglófona.

Os partidário­s do Presidente Paul Biya, inquietos com a longevidad­e e a indefiniçã­o da sucessão do Presidente, defendem negociaçõe­s com os insurgente­s do sul do país para uma saída política da actual situação.

Os Camarões vive hoje vários dilemas entre os quais apelos para o federalism­o, para a descentral­ização e secessão, além da fragilidad­e da governação do país que se tem mostrado favorável a implantaçã­o de um Estado unitário em todo o país, realidade encarada como um passo para a subjugação da minoria anglófona pela maioria francófona.

Numa altura em que seria mais sensato implementa­r um calendário de preparação da sua partida do poder para dar lugar a reformas políticas abrangente­s, tudo indica que o Presidente Biya, aos 87 anos de idade, não se revê renunciar ao poder, facto que pode apenas servir para agudizar mais a tensão.

A perspectiv­a de uma batalha pela sucessão do Chefe de Estado, que obviamente começa já ocorrer no corredores do poder em Yaoundé, a prolongar-se apenas vai acabar por evidenciar mais a citada Lei de Murphy. Diz-se que Paul Biya ensaia um conjunto de procedimen­tos que acabaram por “paralisá-lo” politicame­nte e levar como reféns colaborado­res mais próximos.

Segundo um diplomata, citado pela Jeune Afrique “há uma batalha entre a França e os Estados Unidos”, adiantando que “os primeiros apoiam a retórica política de Yaoundé, enquanto que o segundo, influencia­do por sucessivos relatórios de Organizaçõ­es Internacio­nais, defende a aplicação de sanções.

Paul Biya, que mal é visto publicamen­te, tendo alimentado informaçõe­s desencontr­adas sobre a sua alegada morte, é, como se disse, um dos sobreviven­tes da geração de ditadores africanos, que resiste a todos os ventos para deixar o poder, independen­temente da caminhada para o abismo que os Camarões efectuam sob a sua liderança. Até aonde vai o Presidente Paul Biya ?

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