Johnson pede preparação para ausência de acordo
Primeiro-ministro britânico antevê saída do período de transição sem acordo de comércio com a União Europeia antes de Janeiro
O Reino Unido deve “preparar-se” para a perspectiva de sair do período de transição, no final de Dezembro, sem um acordo de comércio com a União Europeia (UE), anunciou, ontem, o Primeiroministro britânico, Boris Johnson.
“Tendo em conta que temos apenas 10 semanas até ao fim do período de transição, a 1 de Janeiro, tenho de fazer uma avaliação sobre o possível resultado e prepararmo-nos”, disse, numa declaração previamente gravada transmitida nas televisões britânicas.
Boris Johnson acusou a UE de ter “recusado negociar de forma séria nos últimos meses” e de os líderes dos 27 terem posto de parte, no Conselho Europeu a decorrer em Bruxelas, a hipótese de um acordo semelhante ao que fizeram com o Canadá”.
“Conclui que devemos preparar-nos para, no dia 1 de Janeiro, termos que são mais parecidos com os da Austrália, baseados em princípios simples de comércio livre global”, afirmou.
A Austrália não tem um acordo de comércio abrangente com a UE.
O chefe do Executivo disse estar disposto a discutir “questões práticas”, como segurança social, aviação, cooperação nuclear e deixa espaço a uma “mudança primordial” da posição da UE para se chegar a um acordo.
Nas conclusões adoptadas durante a cimeira relativamente ao ‘Brexit’, publicadas na quinta-feira, o Conselho Europeu “apela aos Estados-membros, instituições europeias e todos os intervenientes, a aumentarem a preparação, a todos os níveis e para todos os tipos de cenários, incluindo o de ‘no-deal’ (cenário a que a UE e o Reino Unido não chegariam a um acordo comercial pós-‘Brexit’)”.
O documento, publicado na rede social Twitter, pelo porta-voz do Conselho, refere, também, que os líderes dos 27 “notam com preocupação que não houve progresso suficiente nos temas centrais para a EU, para que um acordo possa ser alcançado”.
Convidando o negociador da UE para o ‘Brexit’, Michel Barnier, a “prosseguir as negociações nas próximas semanas”, os Chefes de Estado apelam, também, ao Reino Unido que “faça as movimentações necessárias para que um acordo seja possível”. “O Conselho Europeu volta a afirmar a determinação da UE em manter uma parceria tão próxima quanto possível com o Reino Unido”, referem as conclusões.
O negociador britânico do Brexit, David Frost, lamentou, na quinta-feira, que a declaração da UE não propusesse trabalhar “intensamente” para chegar a um acordo sobre a futura relação com o Reino Unido, mas o homólogo europeu, Michel Barnier, disse mais tarde que estaria disponível.
“Propus à equipa britânica que negociássemos intensivamente, no pouco tempo que nos resta, para conseguirmos chegar, no final de Outubro, ao acordo que todos desejamos”, afirmou Michel Barnier.
Em conferência de imprensa, após a discussão dos líderes dos 27- reunidos em cimeira até ontem - sobre o ‘Brexit’, Michel Barnier revelou que voltará a dialogar com o homólogo britânico, David Frost, a partir de sexta-feira e que passará a próxima semana em Londres.
“A partir de segunda-feira - e durante toda a próxima semana, fim de semana incluído, se for preciso- estarei em Londres e, na semana a seguir, estaremos em Bruxelas”, disse Barnier.
Os principais pontos de discórdia continuam a ser as condições de concorrência entre empresas, pescas e um mecanismo para se revolverem conflitos na aplicação do acordo que a UE exige, para desbloquear um acordo que permita o acesso britânico ao mercado único europeu sem impor quotas, nem taxas. O Reino Unido saiu da União Europeia em 31 de Janeiro de 2020. Em conformidade com o Acordo de Saída, é agora oficialmente um país terceiro, pelo que já não participa no processo de tomada de decisão da UE.
A UE e o Reino Unido decidiram, contudo, estabelecer um período de transição, que termina em 31 de Dezembro de 2020.
Os líderes dos 27 “notam com preocupação que não houve progresso suficiente nos temas centrais para a UE, para que um acordo seja alcançado