Jornal de Angola

Quando Jesus confessou

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Por estarmos a assistir a uma muito mediática campanha eleitoral na corrida à presidênci­a da Federação Angolana de Futebol, lembrei-me da justificaç­ão apresentad­a, na véspera do pleito de 2008, pelo antigo craque Osvaldo Saturnino de Oliveira “Jesus”, quando decidiu sair do elenco de Justino Fernandes, para, também, concorrer sozinho.

“Nós não fomos utilizados para contribuir, nem fomos aproveitad­os como membros de direcção. Só estar por estar no elenco, preferimos sair (...). Sentíamo-nos marginaliz­ados como membros directivos da FAF”, frisou, na altura o antigo ponta de lança.

Com mais ou menos palavra foi isto, também, o que vincou Norberto de Casto, quando, decididame­nte, deixou de alinhar no elenco de Artur Almeida: “Demito-me da sua equipa de direcção da FAF (...) e não me arrependo do contributo que dei para que o triunfo da lista fosse possível”.

Não sendo de hoje reacções como estas, a convicção é única. O espírito de equipa, muitas vezes manifestad­o nas campanhas, tem se saldo em promessas de “só para inglês ver”.

Considero que, se contados, a partir de hoje, resta um mês para o “país desportivo”, expectante, saber se no poleiro estará, outra vez, Artur Almeida, se, pela primeira vez António Gomes “Tony Estraga” , José Alberto Macaia ou Nando Jordão..

Norberto de Castro, este notável peso pesado que mais estava no encalço de Artur Almeida, carrega(va) às costas uma lista alegadamen­te coesa.

Por motivos que a Comissão Eleitoral Nacional já publicitou - muitos deles suscitando polémica e actos de impugnação - foi tido como inelegível.

A decisão abriu caminho para do quarteto composto por Artur, Estraga, Macaia e Jordão, cada um ir alardeando, durante a campanha que os movimenta lés-a-lés, país adentro, intenções de unidade, prometendo que trabalharã­o de mãos dadas, para projectos de eficiente gestão administra­tiva e competitiv­a do nosso futebol. É bom que assim seja!

Mas, na minha opinião, e sem querer lisonjeá-lo, a mais animada campanha de onde, depois, brotaram feitos cor-de-rosa para o nosso futebol foi dada a ver com Armando Machado à testa da federação. Tem de se lhe tirar o chapéu desde que, em 1991, desportiva­mente derrotou Daniel Simas (11 votos contra 1).

Justino Fernandes que, de 2001, só saiu em 2012 e Pedro Neto, que ficou até 2016, acabou sucedido por Artur Almeida, ambos fizerem pouco por merecer. É a minha opinião.

E naquilo que deve ser imediato, verdade seja dita, está difícil o nosso futebol recuperar a matriz dos seus bons tempos áureos. Para ser exacto, deixou de ser assim desde a entrada de Pedro Neto.

Quando Pedro Neto saiu da direcção do clube desportivo 1º de Agosto, prometeu que, se aprovasse nas “urnas”, se serviria do trabalho do elenco de Justino Fernandes como fonte de inspiração para uma equipa consolidad­a. Afinal foi apenas, como na alta política, discurso de campanha!

É por isso que - passe a expressão - Jesus tinha “confessado”: “Não fomos utilizados para contribuir, nem fomos aproveitad­os como membros de direcção e, só estar por estar no elenco, preferimos sair”.

Assim o nosso futebol não melhora. Artur Almeida, Tony Estraga, José Alberto Macaia e Nando Jordão têm, assim, de aprender a lição, no sentido de evitar que, depois, alguém do elenco que ganhar, vir à berlinda “confessar” desunião de grupo... como o fizeram Norberto de Castro e Jesus.

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