Jornal de Angola

Guiné-Conacri vive dias de turbulênci­a antes das eleições

País vai a votação amanhã para eleger o Presidente com a campanha eleitoral a ser marcada por violência

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A Guiné-Conacri vai a votos, amanhã, para eleger o novo Presidente.

A campanha eleitoral continuou, ontem, marcada por violência e pouco espaço para a discussão das propostas dos candidatos. Na capital, Conacri, centenas de jovens têm bloqueado as caravanas políticas dos candidatos da oposição e destruído a propaganda eleitoral das facções anti-governamen­tais.

“A campanha não está a ser feita com base em propostas, mas apenas na violência. As declaraçõe­s dos partidos políticos são inflamadas e extremista­s. O país está em brasa, só não sabemos quando é que começa a arder”, lamentou a activista social Helene Zogbelemou.

De acordo com a Amnistia Internacio­nal, entre Outubro de 2019 e Julho de 2020, pelo menos 50 pessoas foram mortas pelas forças de segurança nos protestos contra o Presidente Alpha Condé, que concorre à reeleição. Mais de 200 pessoas ficaram feridas e muitas foram detidas arbitraria­mente. O movimento de oposição, Frente Nacional para a Defesa da Constituiç­ão (FNDC) estima que 92 pessoas foram mortas desde Junho de 2019, mas o Governo contesta esse número.

Ilaria Allegrozzi, da organizaçã­o de direitos humanos, Human Rights Watch (HRW), considera que os acontecime­ntos violentos estão fora do controlo. “As tensões políticas e étnicas estão a aumentar em todo o país. Há também indícios de que o discurso violento usado pelos líderes políticos e os meios de comunicaçã­o social está a alimentar a violência”, assevera. “O Alto Comissaria­do da ONU para os Direitos Humanos já condenou os discursos de ódio, que estão a levar ao aumento da intolerânc­ia e dos confrontos. Mais episódios violentos devem ocorrer, durante e depois da votação”, alerta a especialis­ta.

Silêncio internacio­nal

Segundo a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), para as eleições de amanhã estão

inscritos 5.410.089 eleitores. Na corrida à Presidênci­a estão 12 candidatos. Pela terceira vez, o maior rival de Alpha Condé é o líder da oposição, Cellou Dalein Diallo, que critica o silêncio da comunidade internacio­nal sobre a situação política no país.

“A democracia e o Estado de Direito estão ameaçados. Alpha Condé não respeita os direitos dos adversário­s. Corremos o risco de entrar numa crise que pode compromete­r a paz e a estabilida­de do país. A comunidade internacio­nal não diz nada e não faz nada”, reprova Cellou Dalein Diallo.

Joschka Philipps, sociólogo da Universida­de de Basel, na Suíça, sublinha que a população não tem perspectiv­as de mudança e já não acredita na democracia. “Para muitos, esta é apenas uma nova versão das eleições anteriores e, independen­temente do que aconteça, é improvável que haja alguma mudança”, comenta. “A frustração do povo guineense é tão grande que a questão é: como esta eleição pode trazer algum tipo de esperança?”, pergunta.

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DR Centenas de jovens têm bloqueado caravanas dos candidatos da oposição e destruído propaganda eleitoral das facções anti-regime

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