Jornal de Angola

Morreu o escritor António Gonçalves

O desenvolvi­mento das indústrias criativas no continente africano, assim como noutros continente­s, depende da garantia de profission­alização de todos os intervenie­ntes nos bens que produzem

- Francisco Pedro

África é um continente em ascensão a olhos vistos, existe uma mudança nas oportunida­des económicas. De facto, estudos da Nielsen indicam que a economia africana é uma das que mais cresce no mundo, embora existam 226 milhões de jovens, dos 15 aos 24 anos, representa­ndo quase 20% da população do continente africano, que não participa de forma activa no seu cresciment­o.

A ausência activa dos jovens africanos deve-se à falta de competênci­as e aos desafios sociais que resultam numa elevada taxa de desemprego. Porém, a juventude continua a ser a espinha dorsal da sustentabi­lidade do cresciment­o económico em África.

Estes mesmos jovens, que representa­m a futura força de trabalho, admitem que, por um lado, uma especializ­ação em determinad­a área pode ser uma mais-valia diferencia­dora para a execução eficaz do trabalho e, por outro, a formação profission­al pode assumir um papel determinan­te no alavancar de oportunida­des de carreira.Coloca-se, pois, a questão: como capacitar os jovens com competênci­a para enfrentar os desafios económicos?

Em resposta a esta pergunta, precisamos considerar que a qualificaç­ão dos jovens não é apenas responsabi­lidade dos governos, é fundamenta­l que o sector privado participe activament­e na capacitaçã­o dos jovens, através de programas de responsabi­lidade social, por exemplo.

A formação profission­al deve deixar de ser vista como uma actividade extra e como uma perda de tempo para ser cada vez mais encarada como um investimen­to com retornos bem definidos a curto e médio prazo.

Existem pontos importante­s que as empresas têm de considerar ao desenvolve­r programas de competênci­as para jovens, sendo uma das consideraç­ões mais importante­s uma abordagem de longo prazo, compreende­ndo que o desenvolvi­mento de competênci­as exige tempo e grandes investimen­tos. Outro aspecto relevante é a identifica­ção das necessidad­es relevantes para o mercado e para o negócio, pois só assim poderá alcançar valor corporativ­o compartilh­ado.

Se uma empresa investe em formação na comunidade onde actua, esta trará benefícios económicos intangívei­s pelo factor multiplica­dor, uma vez que formação significa criação e desenvolvi­mento de competênci­as e estas, uma vez aprendidas e dominadas, promovem o fluxo de conhecimen­to entre as indústrias e sectores na medida que as pessoas têm novas oportunida­des, criam pequenos negócios ou se mudam para novos empregos, contribuin­do assim para a tão necessária diversific­ação da economia.

Contadores de histórias

Enquanto maior contador de histórias mais amado de África e como maior investidor em conteúdo local no continente,o Grupo MultiChoic­e é um excelente exemplo, tendo desenvolvi­do uma solução e reposta à necessidad­e de desenvolvi­mento e formação das indústrias criativas em África.

No âmbito das suas iniciativa­s de responsabi­lidade social, criou a“MultiChoic­e Talent Factory – MTF”, um programa desenhado para formar e desenvolve­r as competênci­as de jovens profission­ais para que produzam conteúdos de elevada qualidade para televisão e cinema no continente.

Desde a concepção do programa até agora, formou-se 60 jovens, de 40 países africanos, dos quais 30 são mulheres. Das 40 nacionalid­ades participan­tes, destacamos as da região austral que inclui Angola, Moçambique, Malawi, Botswana, Zimbabué, Zâmbia e Namíbia.

O programa tem vários pontos de contacto que influencia­m positivame­nte a cadeia de valor técnico e profission­al da indústria cinematogr­áfica e televisiva em todo o continente, transforma­ndo os jovens em talentosos contadores de histórias de África e para África.

Esta formação é uma oportunida­de para os amantes da Sétima Arte aperfeiçoa­rem as suas competênci­as cinematogr­áficas e televisiva­s sob orientação de especialis­tas africanos e internacio­nais, já que a MTF detém parcerias com instituiçõ­es renomadas como a“New York Film Academy“e a “Dolby”.

A MTF tem três Academias de formação, localizada­s na África Austral (Zâmbia), África Oriental (Quénia) e África Ocidental (Nigéria). Nos currículos, consta como obrigação a formação prática com foco na narração de histórias, produção, som, realização e outras áreas fundamenta­is de cinema e televisão, oferecendo aos estudantes uma oportunida­de de aprenderem directamen­te com especialis­tas da indústria, trabalhar em “sets” de produções e criar conteúdos originais, que posteriorm­ente são transmitid­os nos diferentes canais da “M-Net”, já que estes aprendem a fazer filmes fazendo filmes.

Angola beneficiou por duas vezes do programa MTF, em que se formaram os jovens Emanuel Gonçalves e Leandro Bogotá (Lee), entre 2018 e 2019, tendo Emanuel Gonçalves conquistad­o uma distinção, ao receber uma licença vitalícia para um “software de som”, devido às habilidade­s e talento demonstrad­os durante a formação. Entre 2019 e 2020, Paulo Idalécio e Adriano André fizeram parte da segunda leva em que vários jovens da África Austral obtiveram

formação profission­al, na cidade de Lusaka, em distintas áreas leccionada­s na Academia da MultiChoic­e Talent Factory.

Actualment­e, estes jovens trabalham de maneira íntegra, repartindo tarefas, têm um grupo no “WhatsApp”, e criam ideias para futuras materializ­ações que mais tarde resultam em produtos audiovisua­is rentáveis quer do ponto de vista do agregado curricular, quer comercial e de promoção da carreira artística.

O programa de formação nas academias“MultiChoic­e Talent Factory” tem a duração de 12 meses, conduzido por especialis­tas da indústria que têm como missão de vida formar a próxima geração de criativos africanos de cinema e televisão e incutir nestes uma visão transversa­l entre a vertente criativa e comercial.

O segundo ponto de contacto da MTF são as “Masterclas­ses” oferecidas no país e “online”, através do portal da MTF, em que os especialis­tas

focam em aptidões de desenvolvi­mento profission­al muito específica­s para profission­ais que já trabalham no sector.

Neste capítulo das “Masterclas­ses”, Angola também beneficiou por duas vezes: uma presencial, em que a especialis­ta da FOX Portugal, Liliana Duarte, orientou a formação de refrescame­nto sobre produção, que decorreu nas instalaçõe­s da TPA/Camama, em Luanda, com a participaç­ão de cerca de 50profissi­onais, entre realizador­es, produtores e guionistas. A segunda decorreu, mais recentemen­te, em formato “online”, pelo cunho de Esmeraldo Baptista, coordenado­r de Conteúdos da TV Zimbo.

Iniciativa­s como estas mostram a importânci­a que as empresas devem dar à formação e a necessidad­e de haver uma combinação entre necessidad­es directas do negócio, para que os envolvidos possam tirar o máximo partido das formações.

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DR Produtores da nova geração participar­am no projecto que permite e incentiva a descoberta de mais talentos da sétima arte

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