Morreu o escritor António Gonçalves
O desenvolvimento das indústrias criativas no continente africano, assim como noutros continentes, depende da garantia de profissionalização de todos os intervenientes nos bens que produzem
África é um continente em ascensão a olhos vistos, existe uma mudança nas oportunidades económicas. De facto, estudos da Nielsen indicam que a economia africana é uma das que mais cresce no mundo, embora existam 226 milhões de jovens, dos 15 aos 24 anos, representando quase 20% da população do continente africano, que não participa de forma activa no seu crescimento.
A ausência activa dos jovens africanos deve-se à falta de competências e aos desafios sociais que resultam numa elevada taxa de desemprego. Porém, a juventude continua a ser a espinha dorsal da sustentabilidade do crescimento económico em África.
Estes mesmos jovens, que representam a futura força de trabalho, admitem que, por um lado, uma especialização em determinada área pode ser uma mais-valia diferenciadora para a execução eficaz do trabalho e, por outro, a formação profissional pode assumir um papel determinante no alavancar de oportunidades de carreira.Coloca-se, pois, a questão: como capacitar os jovens com competência para enfrentar os desafios económicos?
Em resposta a esta pergunta, precisamos considerar que a qualificação dos jovens não é apenas responsabilidade dos governos, é fundamental que o sector privado participe activamente na capacitação dos jovens, através de programas de responsabilidade social, por exemplo.
A formação profissional deve deixar de ser vista como uma actividade extra e como uma perda de tempo para ser cada vez mais encarada como um investimento com retornos bem definidos a curto e médio prazo.
Existem pontos importantes que as empresas têm de considerar ao desenvolver programas de competências para jovens, sendo uma das considerações mais importantes uma abordagem de longo prazo, compreendendo que o desenvolvimento de competências exige tempo e grandes investimentos. Outro aspecto relevante é a identificação das necessidades relevantes para o mercado e para o negócio, pois só assim poderá alcançar valor corporativo compartilhado.
Se uma empresa investe em formação na comunidade onde actua, esta trará benefícios económicos intangíveis pelo factor multiplicador, uma vez que formação significa criação e desenvolvimento de competências e estas, uma vez aprendidas e dominadas, promovem o fluxo de conhecimento entre as indústrias e sectores na medida que as pessoas têm novas oportunidades, criam pequenos negócios ou se mudam para novos empregos, contribuindo assim para a tão necessária diversificação da economia.
Contadores de histórias
Enquanto maior contador de histórias mais amado de África e como maior investidor em conteúdo local no continente,o Grupo MultiChoice é um excelente exemplo, tendo desenvolvido uma solução e reposta à necessidade de desenvolvimento e formação das indústrias criativas em África.
No âmbito das suas iniciativas de responsabilidade social, criou a“MultiChoice Talent Factory – MTF”, um programa desenhado para formar e desenvolver as competências de jovens profissionais para que produzam conteúdos de elevada qualidade para televisão e cinema no continente.
Desde a concepção do programa até agora, formou-se 60 jovens, de 40 países africanos, dos quais 30 são mulheres. Das 40 nacionalidades participantes, destacamos as da região austral que inclui Angola, Moçambique, Malawi, Botswana, Zimbabué, Zâmbia e Namíbia.
O programa tem vários pontos de contacto que influenciam positivamente a cadeia de valor técnico e profissional da indústria cinematográfica e televisiva em todo o continente, transformando os jovens em talentosos contadores de histórias de África e para África.
Esta formação é uma oportunidade para os amantes da Sétima Arte aperfeiçoarem as suas competências cinematográficas e televisivas sob orientação de especialistas africanos e internacionais, já que a MTF detém parcerias com instituições renomadas como a“New York Film Academy“e a “Dolby”.
A MTF tem três Academias de formação, localizadas na África Austral (Zâmbia), África Oriental (Quénia) e África Ocidental (Nigéria). Nos currículos, consta como obrigação a formação prática com foco na narração de histórias, produção, som, realização e outras áreas fundamentais de cinema e televisão, oferecendo aos estudantes uma oportunidade de aprenderem directamente com especialistas da indústria, trabalhar em “sets” de produções e criar conteúdos originais, que posteriormente são transmitidos nos diferentes canais da “M-Net”, já que estes aprendem a fazer filmes fazendo filmes.
Angola beneficiou por duas vezes do programa MTF, em que se formaram os jovens Emanuel Gonçalves e Leandro Bogotá (Lee), entre 2018 e 2019, tendo Emanuel Gonçalves conquistado uma distinção, ao receber uma licença vitalícia para um “software de som”, devido às habilidades e talento demonstrados durante a formação. Entre 2019 e 2020, Paulo Idalécio e Adriano André fizeram parte da segunda leva em que vários jovens da África Austral obtiveram
formação profissional, na cidade de Lusaka, em distintas áreas leccionadas na Academia da MultiChoice Talent Factory.
Actualmente, estes jovens trabalham de maneira íntegra, repartindo tarefas, têm um grupo no “WhatsApp”, e criam ideias para futuras materializações que mais tarde resultam em produtos audiovisuais rentáveis quer do ponto de vista do agregado curricular, quer comercial e de promoção da carreira artística.
O programa de formação nas academias“MultiChoice Talent Factory” tem a duração de 12 meses, conduzido por especialistas da indústria que têm como missão de vida formar a próxima geração de criativos africanos de cinema e televisão e incutir nestes uma visão transversal entre a vertente criativa e comercial.
O segundo ponto de contacto da MTF são as “Masterclasses” oferecidas no país e “online”, através do portal da MTF, em que os especialistas
focam em aptidões de desenvolvimento profissional muito específicas para profissionais que já trabalham no sector.
Neste capítulo das “Masterclasses”, Angola também beneficiou por duas vezes: uma presencial, em que a especialista da FOX Portugal, Liliana Duarte, orientou a formação de refrescamento sobre produção, que decorreu nas instalações da TPA/Camama, em Luanda, com a participação de cerca de 50profissionais, entre realizadores, produtores e guionistas. A segunda decorreu, mais recentemente, em formato “online”, pelo cunho de Esmeraldo Baptista, coordenador de Conteúdos da TV Zimbo.
Iniciativas como estas mostram a importância que as empresas devem dar à formação e a necessidade de haver uma combinação entre necessidades directas do negócio, para que os envolvidos possam tirar o máximo partido das formações.