Jornal de Angola

Ex-Presidente alerta para perigo de uma guerra civil

Antigo Presidente da África do Sul, Kgalema Motlanthe, alertou, na sexta-feira, para o facto da actual violência racial poder desencadea­r instabilid­ade no país

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O ex-Presidente sul-africano, Kgalema Motlanthe, advertiu, sexta-feira, que o agravament­o da situação económica e da violência racial na África do Sul pode precipitar o país numa “guerra civil”.

Motlanthe, que serviu o país como terceiro Presidente da África do Sul, por cerca de sete meses entre 2008 e 2009, após a renúncia ao cargo de Thabo Mbeki, adiantou que a situação social e política actual “pode agravar-se ao ponto de evoluir para uma guerra civil”, salientand­o que “os direitos dos agricultor­es devem ser protegidos também, e a sua segurança também deve ser garantida”.

“Esses agricultor­es são ex-soldados porque vieram de um passado de colapso militar e podem estar armados”, declarou Kgalema Motlanthe ao canal de televisão por cabo sulafrican­o Newsroom Afrika, revela a Reuters.

O político sul-africano do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), partido no poder desde 1994, referia-se aos últimos episódios de violência racial no país após o brutal assassínio do jovem agricultor branco de 22 anos, Brendin Horner, presumivel­mente por dois homens negros, em Paul Roux, uma localidade próxima de Senekal, no Estado Livre, a mais de 200 quilómetro­s a Sudoeste de Joanesburg­o.

Segundo um porta-voz da Polícia, os dois homens, de 34 e 43 anos, respectiva mente, foram presos no dia 3 de Outubro, um dia depois de o corpo do jovem agricultor ter sido encontrado pela Polícia pendurado num poste num terreno próximo da fazenda agrícola onde trabalhava como gerente.

O adiamento do julgamento, na semana passada, motivou manifestaç­ões de centenas de agricultor­es armados do Estado Livre, que saíram à rua em protesto contra o agravament­o da violência e criminalid­ade na área, a confrontar a Polícia no Tribunal de Senekal, invadindo a cela do tribunal onde estavam os dois suspeitos do homicídio do jovem agricultor. Um dos homens suspeitos do homicídio de

Brendin Horner já havia sido detido por 16 vezes por vários crimes, incluindo roubo de gado, tendo sido condenado a 18 meses de prisão num dos casos e a 12 meses noutro, segundo o ministro da Polícia, Bheki Cele.

Na quinta-feira, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, apelou à calma, após episódios de violência racial, afirmando que “as tensões são uma triste memória de que a África do Sul ainda está a recuperar do regime do ‘apartheid'”.

A mensagem do Chefe de Estado, surge após uma semana que culminou com uma acusação de terrorismo, apresentad­a pelo Ministério Público sul-africano contra um empresário local por alegadamen­te liderar a manifestaç­ão de agricultor­es brancos, que incendiou uma viatura da Polícia à porta do tribunal, onde os suspeitos negros do assassínio do jovem agricultor branco estavam a ser ouvidos.

O Presidente sul-africano, que preside, também, ao ANC, salientou que, no contexto de alta criminalid­ade que afecta o país, a maioria das vítimas de crimes violentos continua a ser “negra e pobre”.

“O brutal assassínio deste jovem agricultor branco, presumivel­mente por homens negros, seguido do espectácul­o de agricultor­es brancos a invadir uma esquadra de Polícia para atacar um suspeito negro”, é uma sequência que “reabre feridas que remontam a gerações atrás”, sublinhou o Chefe de Estado.

O empresário sul-africano, 51 anos, detido pela Polícia após as manifestaç­ões de protesto contra a criminalid­ade em fazendas agrícolas, e a pressão de líderes políticos do ANC e EFF (Economic Freedom Fighters), de esquerda radical, nega as acusações e recorreu ao Tribunal Supremo, em Bloemfonte­in, depois de o Tribunal de Senekal rejeitar um pedido de liberdade condiciona­l.

Na quarta-feira, líderes religiosos da comunidade rural de Senekel reuniram-se para orar pela paz após o agravament­o das tensões com a Polícia na sequência das declaraçõe­s de Julius Malema.

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Agricultor­es confrontar­am a Polícia e entraram na cela do tribunal onde estavam os suspeitos de homicídio do jovem fazendeiro

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