Jornal de Angola

Médicos destituem bastonária

- André Sibi

A bastonária da Ordem dos Médicos de Angola (ORMED), Elisa Pedro Gaspar, foi destituída do cargo por 59 por cento dos profission­ais da classe (4.460 médicos), que se manifestam revoltados com a sua gestão.

A decisão foi tomada na assembleia-geral extraordin­ária realizada sábado, em Luanda, convocada pelo Conselho Regional Norte da ORMED.Os associados manifestar­am o seu desagrado com o desempenho da bastonária, que se agudizou com as “recentes ocorrência­s graves”, como o “não alinhament­o aos interesses da classe” e “falta de transparên­cia na gestão dos recursos da Ordem”. Elisa Gaspar, eleita por 20 por cento dos membros inscritos, é ainda acusada de desviar 19 milhões de kwanzas e bens patrimonia­is, segundo o presidente do Conselho Fiscal da Região Norte da Ordem dos Médicos, Desidério Carvalho.

Depois de acesos debates, a assembleia-geral extraordin­ária da Ordem dos Médicos deliberou a destituiçã­o, com efeito imediato, da bastonária Elisa Pedro Gaspar e a constituiç­ão de uma comissão de gestão, que terá a responsabi­lidade de tratar dos assuntos correntes da organizaçã­o e promover novas eleições, que deverão ser realizadas dentro de 90 dias.

No comunicado final, apresentad­o pela médica Arlete Luiele, a classe médica considera a decisão inapelável e anuncia a constituiç­ão de uma comissão de inquérito, que terá a responsabi­lidade de analisar a alegada gestão danosa de Elisa Gaspar.

“Queremos uma auditoria independen­te, por órgão externo, às contas da Ordem dos Médicos da República de Angola”, anunciou Arlete Luiele. Para o secretário-geral do Sindicato dos Médicos de Angola (SINMEA), Pedro da Rosa, “achou-se por bem substituir a bastonária por alguém que realmente mostre que deve atender as preocupaçõ­es da classe médica”.

Acrescento­u que o facto de Elisa Gaspar se demarcar da marcha convocada pelo Sindicato Nacional dos Médicos (SINMEA), em homenagem a Sílvio Dala, pediatra que morreu em Setembro na sequência de uma intervençã­o policial, motivou vários profission­ais a votar a favor da sua destituiçã­o.

A primeira assembleia­geral extraordin­ária da Ordem dos Médicos de Angola contou com a presença de mais de 50 médicos na sala de conferênci­as de uma unidade hoteleira de Luanda, ao passo que 408 participar­am por via zoom e 4.026 médicos subscrever­am a deliberaçã­o para a destituiçã­o da bastonária.

Numa nota de imprensa, o Gabinete de Comunicaçã­o Institucio­nal da Ordem dos Médicos de Angola esclarece que tomou conhecimen­to, por via da comunicaçã­o social, de uma suposta destituiçã­o da bastonária.

“Por forma a esclarecer a opinião pública, somos a informar que a actual bastonária da Ordem dos Médicos de Angola, Elisa Pedro Gaspar, foi eleita democratic­amente, para um mandato de três anos (2019-2022) e que as informaçõe­s que têm sido publicadas não passam de uma tentativa de manipulaçã­o da opinião pública, para desvaloriz­ar as reformas em curso na Ordem dos Médicos de Angola”, lê-se no documento.

A nota tranquiliz­a os associados, acrescenta­ndo que a bastonária da Ordem dos Médicos de Angola continua em funções, até ao final do seu mandato.

Para o jurista António Cangavo, o artigo 15º, na sua alínea e) do Estatuto da Ordem dos Médicos, orienta que constituem direitos e deveres dos médicos requerer as convocaçõe­s das assembleia­s. Nos termos do artigo 29º do Estatuto da Ordem, considera-se constituíd­a a assembleia quando estão presentes a maioria dos médicos. E passada uma hora após a indicação na convocatór­ia poderá funcionar com os médicos presentes, seja qual for o seu número.

Nos termos do artigo 30º do referido Estatuto, as deliberaçõ­es só serão válidas quando o número total de votantes for superior a 25%, o que foi respeitado na referida assembleia.

Nos termos do nº1 alínea a) e c) do artigo 35º do Estatuto da Ordem, compete à Assembleia Regional pronunciar-se sobre todos os assuntos que interessam aos médicos, desde que constem da respectiva ordem de trabalho, o que aconteceu na referida assembleia.

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ALBERTO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO Elisa Pedro Gaspar é acusada de má gestão da instituiçã­o

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