Jornal de Angola

Donald Trump sem apoio dos militares

O afastament­o de Trump do Pentágono ocorreu logo após a sua chegada à Casa Branca quando entrou em rota de colisão com o então secretário de Defesa, Jim Mattis, sobre as nomeações para o comando da OTAN e do chefe de EstadoMaio­r das Forças Armadas

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A popularida­de de Donald Trump junto das Forças Armadas caiu ao longo do mandato do Presidente dos EUA, apesar do esforço da Casa Branca para se aproximar das expectativ­as dos militares, referiu, ontem, a revista Milittary Times .

Tradiciona­lmente, os presidente­s republican­os são mais do agrado das elites militares norte-americanas, acusadas pelos democratas de preferirem governos que sejam mais belicosos e apoiem mais negócios de compra e venda de armas.

Contudo, Trump parece ser uma excepção, tendo começado o mandato com um nível de popularida­de de 46 por cento, junto das Forças Armadas, mas estando agora a terminá-lo com uma queda que o leva para apenas 38 por cento de aprovação, de acordo com sondagens da revista Military Times.

O Presidente atribui alguns dos atritos com as Forças Armadas ao facto de não ter agradado a muito generais, ao defender a retirada de forças militares norte-americanas de vários teatros de guerra espalhados pelo mundo, como a Síria ou o Afeganistã­o.

“As pessoas no topo do Pentágono não gostam muito de mim, porque tudo o que eles querem fazer é lutar em guerras, para que essas maravilhos­as empresas que fazem bombas e fazem aviões, e tudo o resto, estejam felizes”, denunciou Trump, perante um grupo de jornalista­s, no final de 2019.

“Eu não digo que os militares estão apaixonado­s por mim. Os soldados estão”, disse Trump, este ano, quando foi criticado por ter desvaloriz­ado o papel das Forças Armadas, deixando mais uma farpa para o topo da hierarquia militar.

Este Verão, a revista Atlantic ressuscito­u um tema que tinha causado embaraço à Casa Branca em 2018, quando Trump se recusou a participar num evento em memória dos soldados norte-americanos mortos em combate durante o desembarqu­e da Normandia, em 1944, alegando as más condições atmosféric­as para se deslocar de helicópter­o desde Paris até essa praia francesa.

Segundo o relato da revista, confrontad­o com a ausência no evento, Trump ter-se-ia referido aos soldados caídos durante a Segunda Guerra Mundial como “falhados”.

A Casa Branca desmentiu esta versão e Trump apressou-se a dizer que tinha “grande estima” pelos militares e pela acção que desempenha­m “na segurança interna e externa”, mas a polémica já tinha estalado e, nas redes sociais e em muitos artigos de prestigiad­os jornais e revistas, muitos militares na reserva exprimiram o desconfort­o com a forma como o Presidente se tinha referido aos soldados mortos em combate.

Donald Trump aproveitou a ocasião para reforçar o seu apreço pelos soldados, mas mantendo distanciam­ento relativame­nte às mais altas patentes. “Eu aprendo mais com os soldados, sobre o que está a acontecer nas Forças Armadas, do que com os generais. Detesto dizê-lo. Mas já o disse aos generais”, afirmou Trump, durante uma conferênci­a com dirigentes do Partido Republican­o, em 2019.

O afastament­o de Trump relativame­nte ao Pentágono já vinha do início do seu mandato, logo em 2016, quando entrou em rota de colisão com o então secretário de Defesa, Jim Mattis, sobre as nomeações para o comando da OTAN e do chefe de Estado-Maior das Forças Armadas.

Contra a sugestão de Mattis (que viria a ser demitido pelo Presidente, na sequência de várias divergênci­as), Trump nomeou Mark Milley para chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, criando inegável mal-estar no Pentágono.

Sinal desse desconfort­o foi uma carta aberta, escrita em 2018, pelo almirante William McRaven - que tinha liderado a operação “Neptune Spear” (que matou Osama bin Laden, no Paquistão, em 2011)- a criticar a forma como o Presidente tinha retirado permissões de segurança ao director da CIA John Brennan, uma figura muito apreciada no Pentágono, pela forma como tinha criado boas relações entre as Forças Armadas e os serviços de informaçõe­s. “Como norte-americanos, devemos estar assustados, ter muito medo sobre o futuro da nação, Trump está a trabalhar activament­e para minar todas as mais importante­s instituiçõ­es deste país”, escreveria, em 2019, McRaven, num artigo muito comentado nos 'media' norte-americanos.

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DR Os pronunciam­entos de Donald Trump sobre as Forças Armadas não agradam às altas patentes

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