A colocação dos zeros
O zero sozinho não vale nada, a não ser quando pronunciado para definir algo, mas, em contrapartida, aumenta o valor de outro algarismo à direita do qual o colocarmos.
Exemplos daquelas situações: os arrombadores de erários, que se servem do dinheiro roubado para usálo em proveito próprio, são “zeros à esquerda”, não valem nada, qualquer país os dispensa, mas as somas das quantias das quais se apoderam, feitas de filas sem fim de zeros à direita, são fortunas, muitas vezes incalculáveis e de impossível leitura para o cidadão comum.
Angola, quando proclamou a Independência Nacional, não tinha um único milionário, situação que se manteve ainda durante algum tempo, mas, a partir de certa altura, como se estivessem em incubadoras, desconhecidas da maioria, os marimbondos, organizados em bandos movidos pelos ventos do nepotismo e impunidade, começaram a surgir por todos os lados, formando um Estado dentro de outro, privatizando o erário em benefício próprio. Ao ponto de o deixarem praticamente a zeros.
A fúria dos lapidadores dos bens públicos estendeu-se a Angolainteira,comocomprovam factos, embora em Luanda centro das decisões e onde está o aeroporto, pelo qual saíam a maioria dos responsáveis pelo saque nacional e comparsas estrangeiros - os sinais da acção derapinasobressaiam,atépelos exemplos do novo-riquismo próprio das novas burguesias impreparadas.
A lista dos últimos confiscos de bens construídos, em Luanda, com bens públicos registados em nomes de privados é apenas mais uma demonstração do que já podíamos ter, não temos e, por isso, a pandemia da Covid19 tem sido mais difícil de enfrentar. É tudo, no fundo, mais uma questão de zeros, da forma como se situam e às vezes se misturam.