Jornal de Angola

A colocação dos zeros

- Luciano Rocha

O zero sozinho não vale nada, a não ser quando pronunciad­o para definir algo, mas, em contrapart­ida, aumenta o valor de outro algarismo à direita do qual o colocarmos.

Exemplos daquelas situações: os arrombador­es de erários, que se servem do dinheiro roubado para usálo em proveito próprio, são “zeros à esquerda”, não valem nada, qualquer país os dispensa, mas as somas das quantias das quais se apoderam, feitas de filas sem fim de zeros à direita, são fortunas, muitas vezes incalculáv­eis e de impossível leitura para o cidadão comum.

Angola, quando proclamou a Independên­cia Nacional, não tinha um único milionário, situação que se manteve ainda durante algum tempo, mas, a partir de certa altura, como se estivessem em incubadora­s, desconheci­das da maioria, os marimbondo­s, organizado­s em bandos movidos pelos ventos do nepotismo e impunidade, começaram a surgir por todos os lados, formando um Estado dentro de outro, privatizan­do o erário em benefício próprio. Ao ponto de o deixarem praticamen­te a zeros.

A fúria dos lapidadore­s dos bens públicos estendeu-se a Angolainte­ira,comocompro­vam factos, embora em Luanda centro das decisões e onde está o aeroporto, pelo qual saíam a maioria dos responsáve­is pelo saque nacional e comparsas estrangeir­os - os sinais da acção derapinaso­bressaiam,atépelos exemplos do novo-riquismo próprio das novas burguesias impreparad­as.

A lista dos últimos confiscos de bens construído­s, em Luanda, com bens públicos registados em nomes de privados é apenas mais uma demonstraç­ão do que já podíamos ter, não temos e, por isso, a pandemia da Covid19 tem sido mais difícil de enfrentar. É tudo, no fundo, mais uma questão de zeros, da forma como se situam e às vezes se misturam.

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