Enfrentar a pandemia com responsabilidade
A pandemia da Covid-19 ainda não terminou e, portanto, ainda é cedo para se ter uma percepção global e multidisciplinar sobre o seu impacto na economia mundial. Mas é certo que os prejuízos causados até agora, cerca de nove meses após o seu aparecimento, devem rondar as centenas de biliões de dólares que o mundo perdeu por força das restrições e da paralisação de muitas actividades económicas.
A acrescer a isso, há as perdas humanas, cujos números continuam a subir todos os dias. A segunda vaga de infecções pelo novo coronavírus está agora a varrer os países europeus e as notícias sobre o aumento do número de casos positivos e de mortes são acompanhadas de outras, sobre as medidas restritivas que os diferentes Governos estão a adoptar para fazer face à situação.
No Reino Unido, na Alemanha, em França, na Itália, em Espanha, em Portugal e noutros países, o grau de preocupação em relação à pandemia é o mesmo que se verificou quando a enfermidade começou a fustigar o mundo. A diferença está em que há, agora, mais experiência e sabe-se como lidar da melhor maneira com a doença, o que não significa dizer que, só por isso, os contágios e as mortes não aconteçam.
Diante do alto grau de complexidade que o combate à Covid-19 requer e face ao seu alto índice de letalidade, o confinamento obrigatório regressou e a hipótese de o estado de emergência voltar a ser decretado está em cima da mesa, como opção para vários países, tendo em conta os focos de resistência ao cumprimento das regras de prevenção e biossegurança que as autoridades recomendam, mas que um certo número de cidadãos teima em não observar. Mesmo estando a viver a realidade dramática espelhada pelo número de óbitos que continuam a acontecer, mesmo tendo conhecimento da informação diária que é passada sobre a evolução da pandemia nos seus países e no mundo, pessoas há que teimam em negar a existência da Covid-19 e a querer levar uma existência como se nada tivesse acontecido, que implicasse alterações no nosso modo de vida.
A mesma arrogância, que - diz-se dito - é a mãe de toda a ignorância, de que nos chegam relatos de fora das fronteiras por via da imprensa, também vimos ser replicada, aqui no país, através de declarações e imagens televisivas que nos deixaram completamente estupefactos. Uma multidão de gente a frequentar praias, sem observar o distanciamento físico e mandando às urtigas as medidas de biossegurança; um indivíduo que diz que a Covid-19 não existe em Angola; aglomerados de pessoas em festas que, nesta altura, são desaconselháveis, uma vez que a circulação comunitária do vírus está instalada faz tempo em Luanda. É o cenário de irresponsabilidade a toda a dimensão, a propiciar que tenhamos um aumento vertiginoso do número de infecções e, consequentemente, de mortes devido à pandemia. É, agora, além da luta contra a doença em si, o grande desafio que o país tem de enfrentar.
Não estão a ser suficientes os alertas das autoridades sanitárias e policiais, as campanhas de sensibilização feitas pela comunicação social e desenvolvidas, também, pelos diferentes actores da sociedade civil, no sentido de levar as pessoas a acatarem as orientações que o momento exige que sejam postas em prática.
Pelo que foi dado a ver, é sobretudo em Luanda onde mais se verificam as situações de violação das regras sanitárias. Cabe, obviamente, uma grande dose de responsabilidade sobre a pessoa enquanto indivíduo em pleno uso das suas faculdades. Como impendem, também, obrigações sobre os proprietários de estabelecimentos onde se aglomeram pessoas em festas ou a consumir bebidas alcoólicas para além das 18 horas.
Os números da Covid-19 no país estão aí e não devem ser encarados como mera estatística. São pessoas, que fazem falta ao país, aos seus familiares directos, aos amigos, que estão a partir. São avós, pais, irmãos, tios, sobrinhos de alguém que, amargurado, impotente, viu o seu ente querido lutar com todas as forças contra um inimigo invisível, silencioso, que ataca quando menos se espera, contra o qual são poucas as chances de resistir, se o organismo não estiver provido das defesas necessárias, se o destino for mais forte do que a fé.
Precisamos de “cair na real” e entender que, enquanto durar a pandemia, enquanto não houver vacina eficaz contra a doença, enquanto ela não estiver disponível e acessível a todos, o nosso novo normal passa por restrições e cumprimento rigoroso das medidas de biossegurança. É o bem vida que está em causa. Uma vez perdida, todas as outras ilusões com ela desaparecem. De nada vale, diante da tempestade, não querer encarar a realidade, procurando enterrar a cabeça na areia, como faz a avestruz. Temos de enfrentar a pandemia com responsabilidade.