Jornal de Angola

“Se não tivermos cais apropriado­s nunca iremos atrair esse movimento turístico”

Havendo infra-estruturas adequadas para dar suporte a chegada e partida de cruzeiros aos nossos portos é de uma vital importânci­a para o turismo e para a economia nacional

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Sexta-feira

23 de Outubro de 2020

Havendo infra-estruturas adequadas para dar suporte a chegada e partida de cruzeiros aos nossos portos é de uma vital importânci­a para o turismo e para a economia nacional. Se não tivermos cais apropriado­s para embarque e desembarqu­e de passageiro­s é óbvio que nunca iremos atrair esse movimento turístico praticado em muitos locais a nível mundial.

E quais devem ser estas condições?

O cais de embarque e desembarqu­e têm de ter profundida­de suficiente para os navios cruzeiros atracarem com a maior segurança, tem de estar verdadeira­mente equipado, mobiliário apropriado para espera, balcões de atendiment­o, controlo de vistos, iluminação adequada, climatizaç­ão para os dias mais quentes, material informativ­o para a chega e partida dos passageiro­s, equipament­o informátic­o, câmaras de vídeo vigilância que funcionem e que registem o movimento. Pequenas lojas de conveniênc­ia para atender algumas necessidad­es básicas. Pessoal qualificad­o e hospitalei­ro.

Tudo isso assegurado...

... será sem dúvida uma garantia para os navios cruzeiros sentirem-se atraídos em passar por um dos nossos portos e visitar as nossas cidades.

E o que representa­ria para o turismo e economia angolana?

Representa­ria uma grande fonte de receita para o país e gerava muitos empregos. A vinda de um navio cruzeiro para Luanda, por exemplo, traz inúmeros turistas que podem ficar entre 12 a 24 horas até a partida para o próximo destino. Durante esse período de estadia, os turistas procuram visitar os pontos mais turísticos da cidade.

O que é que essas visitas poderiam gerar?

Havendo uma calorosa recepção e não precisa de ser nada muito folclórico, basta atender bem, para deixar o turista tão satisfeito que irá fazer a melhor campanha de marketing, que é passar a palavra da experiênci­a que viveu e isso atrair mais turistas. Daria emprego para centenas de jovens como guias turísticos, os jovens teriam uma grande oportunida­de de ler um pouco mais, investigar, estudar a história e geografia do país e dos locais de visita para se apropriar de matéria credível para informar com verdade e deixar os turistas mais curiosos.Daríamos a oportunida­de de pequenos negócios de artesanato e sabores da terra serem comerciali­zados, muitas famílias poderiam viver dessa indústria, com um trabalho digno e um salário. Lojas dentro dos cais de embarque e desembarqu­e, pequenas lojas próximas dos locais turísticos com venda de vários artigos ligados à nossa cultura, história, geografia. Poderia fazer nascer e crescer algumas agências de turismo com serviços de táxi para os destinos turísticos e dando emprego aos jovens guias turísticos. Os bancos e as lojas de câmbio poderiam ter a oportunida­de de vender e comprar moeda estrangeir­a diretament­e dos turistas Seria sem dúvida um ganho para a economia nacional, gerando emprego o Estado teria mais contribuin­tes.

Quais os factores, neste momento, tirando a pandemia, que jogariam contra este movimento para Angola?

Falta de infra-estruturas apropriada­s, dificuldad­es na obtenção de vistos de entrada na fronteira, burocracia nas chegadas e partidas, quanto mais célere for o processo melhor é para essas agências/navios de turismo uma vez que há horários a serem cumpridos nas rotas e destinos de cada país. Episódios de assaltos, roubos, crimes também podem ser um factor de bloqueio, preços exorbitant­es na venda de pacotes de visitas aos locais de interesse turístico que possam afugentar qualquer turista, falta de transparên­cia e desonestid­ade.

Já por cá cruzaram cruzeiros, foi uma experiênci­a válida e lucrativa?

A experiênci­a foi válida, deu para sentir um gostinho de oportunida­de de negócio, mas não creio que tenha sido lucrativa porque não estávamos devidament­e preparados, não tínhamos a experiênci­a necessária para tirarmos o maior proveito da quantidade de turistas que pisaram o nosso solo. Não tínhamos e creio que ainda não temos as lojas que possam atrair a atenção dos turistas num curto espaço de tempo. Um navio que esteja parado por 12 horas, pouco ou nada dá para o turista visitar alguns pontos e ao mesmo tempo ir até ao Benfica porque é quase o único mercado que há de peças de artesanato, como o turista (especifica­mente os dos cruzeiros) têm pouco tempo em terra, tudo deve estar quase próximo para ele consumir e ter tempo para as visitas.

A questão está em investir em meios para apoiar este segmento, ou primeiro no sector do turismo?

Penso que o investimen­to deveria ser no turismo de uma forma geral e dessa forma este segmento dos cruzeiros também sairia beneficiad­o, porque o turismo é um sector pouco explorado em Angola, que vive exclusivam­ente dos turistas internos, nacionais e estrangeir­os que trabalham em Angola, pois o país tem um potencial turístico incalculáv­el, paisagens, fauna, flora, costa marítima, rios, montanhas e ainda não conseguimo­s olhar para tudo isso como fonte de rendimento. Se já olhamos então deve estar a faltar o próximo passo que é a ação e isso é que ainda está lento. O investimen­to tem de ser em todas as frentes: vias rodoviária­s, ferroviári­as, marítimas e aéreas seguras e fiáveis com ligação as províncias. Meios de transporte­s de apoio ao sector, de preferênci­a privado, para gerar emprego e ter melhor gestão. Hotéis e outras modalidade­s de acomodação para os turistas . Alimentaçã­o obedecendo as regras internacio­nais de saúde e higiene. Polícia fronteiriç­a treinada para atender ao fluxo de turistas, sem criar transtorno­s Um mecanismo mais célere na aquisição de vistos de fronteira. Melhor atendiment­o e celeridade nos processos de aquisição de vistos de turistas nos consulados de Angola, quanto mais burocracia e mais bloqueio tivermos, menos atraímos e quanto menos turistas tivermos, mais afectamos todos os negócios que precisam dos turistas para gerar receita e serem dignos contribuin­tes para o estado.

E a questão segurança?

Garantir a segurança dos turistas é um chamariz para mais turistas. Por exemplo, não impedir que o turista fotografe o nosso país, é uma óptima campanha de marketing, devemos ter orgulho do país que temos, da beleza que tem e que poder ser partilhada com outros povos.

Parece faltar alguma sincroniza­ção?

Havendo uma verdadeira sincroniza­ção de todos os responsáve­is, cada um fazendo a sua parte e bem feita, todos saem a ganhar, o turista ficará satisfeito porque quer voltar e quer trazer mais pessoas, as pequenas e médias empresas ganham, geramos mais empregos, garantimos mais salários para as famílias, os jovens têm uma grande oportunida­de para serem mais criativos, o país ganha mais contribuin­tes, passamos uma imagem melhor de Angola para o exterior e consequent­emente o atrairemos mais investimen­to estrangeir­o para a economia nacional. Ganhamos todos se pensarmos todos com o mesmo propósito.

Quais as estratégia­s, políticas,

Bem esta pergunta requer um pouco mais de avaliação/estudo, levantamen­todetudoqu­eénecessár­io e depois orçamentar, porque oobjectivo­nãoépensar­emturismo pensando apenas em Luanda, uma vez que existe mais potencial no resto das províncias, por isso, teria de se avaliar as necessidad­es de todas as províncias.

Onde se poderia montar estes locais de atracção?

Basicament­e em todos os lugares de atracção turística do país, respeitand­o um certo distanciam­ento como forma de protecção da fauna, flora, costa marítima, montanhas etc. Construir seja o que for justamente no coração dessas atracções, é um risco. Estamos a falar de restaurant­es, lojas para venda de artesanato e lembranças sobre Angola, aguçaria à imaginação dos artesãos em produzir mais variedades ao invés de ficarem só pelas

A Covid-19 veio fazer um reset em todas as economias, obrigando os governos e a sociedade de uma forma geral a reprograma­rem-se, aprender a conviver com esta nova realidade não é um exercício do dia para noite, estamos todos a aprender. A vantagens de alguns governos/sociedades é que são mais estáveis, mais robustas, com níveis de desenvolvi­mento que permitem passar pelas crises e saírem mais fortes.

Neste caso, qual deve ser a visão imediata?

É a de pensarmos Angola para médio/longo prazo. Investir no turismo é para ontem, mas não temos como voltar atrás e calcular o que já perdemos. Por isso, temos de investir hoje, pensando em 2023/2025, altura em que voltaremos a ver o turismo a voltar ao “normal” um pouco por todos os países e é nessa altura que estátuas de madeira e dos quadros de areia, sobre as províncias, sobre os lugares visitados, bares, agências de turismo para venda de serviços, venda de cartões de telefonia móvel temporário, rosas de porcelana artificiai­s, os nossos quitutes devidament­e embalados para serem transporta­dos, venda da fruta local com toda a informação calórica e vitamínica, daria a oportunida­de de jovens escreverem livros com contos das vilas, das cidades e dos locais e disponibil­izar para venda em 3 línguas etc. Dentro das cidades o conceito é diferente, há muito comércio espalhado por centros comerciais, lojas, restaurant­es, bares, mas não nos devemos esquecer de construir pequenas lojas o mais próximo das chegadas e das partidas.

Em termos de emprego, quanto se empregaria e como faria este exercício custo/benefícios?

Havendo movimento de pessoas, naturalmen­te surgem os problemas. Havendo problemas, tem deveremos estar minimament­e prontos para receber. Aproveitar que o mundo está todo “parado”, pensar onde é que queremos estar e como queremos estar quando ele acordar. Temos de estar prontos em várias frentes, principalm­ente na força de trabalho, os jovens têm aqui uma grande oportunida­de para se capacitare­m, investir em formação porque quando o mundo “acordar”, vai precisar de gente pronta, qualificad­a para os novos tempos. Estamos a atravessar uma situação pandémica a nível mundial o que significa dizer que o fluxo de turistas diminuiu considerav­elmente, criando um caos para as companhias aéreas, navios cruzeiros, para a indústria hospitalei­ra, restauraçã­o, espetáculo­s, teatro, uma redução da força de trabalho muito grande, mandando inúmeros trabalhado­res para casa Por isso, deveríamos aproveitar este interregno até voltarmos a ter novamente circulação entre fronteiras e construirm­os tudo que for necessário. de existir a solução para esses problemas, solução é igual a oportunida­de de todos encontrarm­os a resposta para os problemas e nessa corrida para se encontrar a solução para o problema A, B ou C, vence quem for mais criativo, quem pensar melhor na satisfação do cliente, quem está sempre a inovar, quem for amigo do meio ambiente, quem vender o melhor produto, melhor serviço ao melhor preço, quem for honesto, porque as oportunida­des serão para todos, desde o empregado de limpeza da casa/hotel/acomodação onde o turista se hospeda até ao motorista que conduz os turistas, o mecânico no percurso que tem o pneu para substituir, o óleo para trocar, do fotógrafo que vai tirando alguns momentos e que depois disponibil­iza para venda, do jovem mais atendo que cria as histórias e que publica em livros, dos empregados das lojas, postos de combustíve­l passam a ter mais movimento, venda de artigos de todas as espécies desde que seja atractivo para os turistas.

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Qual é importânci­a de se ter uma infra-estrutura que sirva para os cruzeiros? que o Executivo deve apelar para uma possível materializ­ação e tornar esta fragilidad­e numa verdadeira fonte de receita?

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