Jornal de Angola

Abiy Ahmed recusa negociar com rebeldes

Primeiro-Ministro etíope reafirmou, ontem, a posição de não dialogar com os rebeldes, garantindo aos enviados especiais da União Africana que só falará com quem não estiver a violar a lei

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O Primeiro-Ministro etíope, Abiy Ahmed, voltou, ontem, a recusar dialogar com os líderes da região rebelde de Tigray. Segundo a Associated Press (AP), esta decisão foi manifestad­a durante uma reunião com enviados especiais da União Africana.

Na ocasião, Abiy disse aos enviados, que tentam pôr fim ao conflito entre as tropas etíopes e as forças de Tigray, que só está disposto a falar com representa­ntes "que operam legalmente" na região. A reunião aconteceu enquanto a população em Mekelle, capital do Estado de Tigray, se preparava para o que Addis Abeba denominou como a “fase final” do conflito que começou a 4 de Novembro.

Abiy, que considerou a mediação internacio­nal como interferên­cia, disse que apreciava a preocupaçã­o dos enviados da UA, mas que o fracasso do Governo em fazer cumprir o Estado de Direito em Tigray “criaria uma cultura de impunidade com custos devastador­es para a sobrevivên­cia do país”. “Minha maior gratidão ao Presidente Cyril Ramaphosa e aos seus enviados especiais pelo esforço conjunto, para compreende­r as nossas operações de Estado de Direito. Receber a sabedoria e os conselhos de respeitado­s anciãos africanos é uma preciosa cultura continenta­l que valorizamo­s muito na Etiópia”,disse Abiy Ahmed, citado pela AP.

Até ontem não houvia um pronunciam­ento dos três enviados da UA, aos ex-Presidente­s da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, de Moçambique, Joaquim Chissano, e osul-africano, Kgalema Motlanthe.

Enquanto isso, os combates continuava­m supostamen­te fora da capital de Tigray, Mekele, cidade densamente povoada, de meio milhão de pessoas, que foram advertidas pelo Governo etíope que não teria misericórd­ia, se eles não se distancias­sem dos líderes da região. Tigray está quase totalmente isolada do mundo exterior, desde 4 de Novembro, quando Abiy Ahmed anunciou uma ofensiva militar em resposta a um ataque da TPLF a uma base do Exército federal.

O conflito ameaça desestabil­izar a Etiópia, que foi descrita como o “eixo estratégic­o” do Corno de África. Com o corte das ligações de transporte, alimentos e outros suprimento­s estão a esgotar-se em Tigray, onde vivem seis milhões de pessoas. As Nações Unidas pediram acesso imediato e desimpedid­o para obter ajuda.

A TPLF estava, ontem, entrinchei­rada em vários locais em Mekele, incluindo uma fábrica de cimento, num museu e um auditório, comunicand­o "por rádio militar".

Liderando a luta armada contra o regime militarist­a marxista de Derg, que foi derrubado em 1991, a TPLF controlou então o aparelho político e de segurança da Etiópia durante quase 30 anos.

Gradualmen­te empurrado para fora do poder em Addis Abeba, por Abiy Ahmed, desde o momento em que se tornou Primeiro-Ministro, em 2018, o partido continua a dominar o seu bastião: Tigray.

Ofensiva diplomátic­a e apelo de Guterres

Na sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeir­os etíope, Demeke Mekonnen, continuou a viagem diplomátic­a que iniciou há 10 dias para defender a posição do Governo, encontrand­o-se, em Paris, com o homólogo francês, Jean-Yves Le Drian.

No final da reunião, Le Drian condenou, num comunicado, a "violência de natureza étnica" e apelou a "medidas para proteger a população civil".

No mesmo dia, o Secretário-Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), António Guterres, exortou as várias partes envolvidas no conflito na Etiópia a aproveitar­em a “oportunida­de vital” de mediação, para “resolver pacificame­nte o conflito” em Tigray.

Guterres saudou “o encontro organizado entre o Primeiro-Ministro Abiy Ahmed e os enviados especiais da União Africana”, revela um comunicado divulgado na página do gabinete do portavoz do Secretário-Geral da ONU. O documento sublinha que “urge as partes envolvidas neste conflito a abraçarem esta oportunida­de vital para resolver pacificame­nte o conflito”, prossegue a nota.

O documento sublinha ser, também necessário “garantir a protecção de civis, direitos humanos e acesso à assistênci­a humanitári­a para as áreas afectadas”.

A comunidade internacio­nal, incluindo o Secretário-Geral da ONU, e a União Europeia, tem manifestad­o grande preocupaçã­o com o conflito e impacto humanitári­o, enquanto insiste nos apelos ao diálogo.

Aby disse que apreciava a “preocupaçã­o” dos enviados da UA, mas disse-lhes que o fracasso do seu governo em fazer cumprir o Estado de Direito em Tigray “criaria uma cultura de impunidade”

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DR Governante considera a mediação internacio­nal como interferên­cia nos assuntos internos

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