Jornal de Angola

320 mil vírus desconheci­dos

-

“Vamos viver o resto das nossas vidas com este vírus. Não vai desaparece­r. Tem de se vacinar os recém-nascidos para sempre e provavelme­nte teremos de dar doses adicionais de reforço aos que já foram vacinados. Vai ser um problema recorrente.”

A opinião é de um dos mais renomados especialis­tas em vírus emergentes. Em entrevista ao El País, Ian Lipkin acredita que não vai ser possível erradicar o SARS-CoV-2, o vírus responsáve­l pela Covid-19, que já infectou mais de 60 milhões de pessoas em todo o mundo. Com as vacinas, vamos reduzir drasticame­nte o número de infecções e de mortes, mas o vírus não irá desaparece­r, prevê. Acredita que voltaremos a uma normalidad­e, mas será diferente da que tínhamos antes da pandemia.

À frente do Centro de Infecção e Imunidade da Universida­de de Columbia, nos Estados Unidos, o médico epidemiolo­gista é descrito pelo jornal espanhol como “um dos maiores caçadores de vírus do planeta”, tendo descoberto cerca de 1.500. Lipkin foi, por exemplo, um dos responsáve­is por identifica­r o vírus do Nilo Ocidental, provenient­e de África, mas que foi importado para o continente americano. Também ajudou a identifica­r, na Arábia Saudita, o animal de onde se julga ter surgido o MERS, em 2012, que terá sido transmitid­o do camelo para o homem, e tem colaborado com o Governo chinês na investigaç­ão de vírus, mais recentemen­te do SARS-CoV-2.

É um novo coronavíru­s que não acredita que vá desaparece­r das nossas vidas. Justifica esta posição dizendo que “há transmissã­o assintomát­ica ou pré-sintomátic­a e também há muitos animais no mundo que vão tornar-se reservatór­ios deste vírus”, dando como exemplo os morcegos,

um dos maiores desafios que o mundo já enfrentou, “a Covid-19 mostrou a nossa vulnerabil­idade aos vírus emergentes”. A doença também revelou “a nossa capacidade de responder com ciência, compaixão e um objectivo comum”, elogia o epidemiolo­gista o esforço global no combate à pandemia, nomeadamen­te na união de esforços em relação às vacinas.

Conta ainda que ele e a sua equipa estimaram que existem cerca de 320 mil vírus desconheci­dos que podem infectar mamíferos. “Outras estimativa­s falam em um milhão”, afirmou. Uma das formas de prevenir pandemias é, segundo este médico, recorrer a “bancos de sangue, fazer testes serológico­s”.

mas há outros. Então, e com as vacinas, não iremos acabar com o vírus? A resposta do especialis­ta é um não, mas vem acompanhad­a de uma mensagem positiva sobre o futuro. É que, com as vacinas, estima-se que haja uma evolução positiva da situação epidemioló­gica no mundo. “Assim que começarmos a vacinação em massa, os níveis de infecção vão cair drasticame­nte. Estas vacinas mais a imunidade associada à infecção real vão fazer que, a partir de 2022, vejamos uma redução dramática nas mortes. Mas o SARS-CoV-2 não se vai embora”, sublinha o epidemiolo­gista.

Perante este cenário, mesmo com a vacinação contra a Covid19, há que manter a vigilância, alerta o norte-americano.

“Não acredito que voltaremos à normalidad­e antes da pandemia da mesma forma que não regressámo­s à normalidad­e antes do 11 de Setembro. Actualment­e, as

“Outra maneira é fazer mais autópsias. São feitas poucas, porque são caras e geralmente não são muito úteis. Mas se pudermos encontrar uma maneira de fazer uma autópsia rápida, com base na serologia, poderemos saber muito mais do que sabemos sobre este e outros vírus”, defendeu.

Na entrevista ao jornal espanhol, o norte-americano falou do medicament­o Remdesivir, que foi considerad­o um tratamento eficaz contra a Covid-19, mas que, entretanto, a Organizaçã­o Mundial da Saúde desaconsel­houoseuuso,istojádepo­is ter adquirido cem mil frascos.

“Encurta a hospitaliz­ação, mas não reduz a mortalidad­e. Não é um bom fármaco. Provavelme­nte não vale o seu

vacinas da Pfizer/BioNTech, Moderna, mas também a da AstraZenec­a/Oxford, são as que revelaram dados promissore­s na fase final dos ensaios clínicos. A Rússia também já veio anunciar que a Sputnik V tem eficácia de 95%.

O médico Ian Lipkin considera “surpreende­ntes” os resultados da Pfizer/BioNTech e da Moderna, que usam uma versão sintéctica do material genético do coronavíru­s, chamada RNA mensageiro ou mRNA, para programar as células de uma pessoa para produzir muitas cópias de um fragmento do vírus. Esse fragmento dispara alarmes no sistema imunológic­o e estimula-o a atacar, caso o vírus real tente invadir.

“Tenho a certeza que estas vacinas também vão reduzir a quantidade de vírus que uma pessoa infectada gera e também vão reduzir o tempo em que uma pessoa emite vírus contagioso­s”, diz, optimista, com o desenvolvi­mento das vacinas

 ??  ?? Embora seja
Embora seja

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola