Rebeldes exigem saída das forças federadas
O líder regional de Tigray, Norte da Etiópia, apelou, ontem, ao Primeiro-Ministro etíope, Abiy Ahmed, para “parar a loucura” e retirar as tropas federais da região, afirmando que os combates continuam “em todas as frentes”.
Numa entrevista telefónica com a agência Associated Press, Debretsion Gebremichael, presidente do Estado autónomo do Tigray e líder do partido no poder na região, Frente de Libertação do Povo do Tigray (TPLF), afirmou que se encontra fisicamente perto da capital do Estado, Mekele, que o Exército etíope ocupou militarmente no último sábado.
“Temos a certeza de que vamos ganhar”, afirmou à AP Debretsion Gebremichael, manifestando-se longe de aceitar a proclamação de vitória de Abiy Ahmed, no sábado. O líder tigray acusou ainda as forças federais etíopes de levarem a cabo uma “campanha genocida” contra o povo tigray.
Com a região de Tigray ainda cortada pelas forças federais, e em virtude do blackout imposto por Addis Abeba, às comunicações na região, um mês após o início dos combates, não se sabe quantas pessoas foram mortas, assim como se revela quase impossível verificar as reivindicações, militares e outras, por parte das partes beligerantes.
Os Governos federal e regional consideram-se reciprocamente ilegais, depois de Abiy ter adiado as eleições gerais no país em Setembro, a pretexto da crise sanitária da Covid-19, determinação que Tigray não aceitou, prosseguindo as eleições na região - não reconhecidas por Addis Abeba - e elegendo por esmagadora maioria a TPLF. A luta é pela auto-determinação da região de cerca de 6 milhões de pessoas, afirmou Gebremichael, e “vai continuar até que os invasores saiam”. O líder da região separatista afirmou que as suas forças detêm um número indeterminado de “prisioneiros” militares pertencentes às forças etíopes, incluindo o piloto de um caça que as forças tigray afirmam ter abatido durante o fim-de-semana. Gebremichael afirmou ainda que as suas forças detêm vários mísseis, que “podem utilizar sempre que quiserem”. Não obstante, rejeitou uma pergunta sobre um eventual ataque à capital etíope, Addis Abeba, sublinhando que o objectivo principal das forças que lidera é “libertar Tigray dos invasores”. Por outro lado, acusou mais uma vez Abiy Ahmed de colaborar com a vizinha Eritreia na ofensiva em Tigray, o que o Governo etíope já negou. Quanto ao apelo internacional para que as partes se sentem a uma mesa de conversações, que o Governo de Abiy Ahmed tem rejeitado repetidamente, Gebremichael esclareceu que essa possibilidade “depende do conteúdo”, mas com a condição prévia de as forças federais etíopes abandonarem primeiro a região. “As baixas civis são tão elevadas”, disse, negando ter uma estimativa sobre o respectivo número e acusando as forças federais de pilharem “tudo onde quer que vão”. “O sofrimento é cada dia maior”, disse, considerando-o como um castigo colectivo contra o povo tigray por acreditar nos seus líderes.