Custos da produção nacional
O consumo do que é nacional pode, entre outras vantagens, contribuir para diminuir importações, desenvolver ou criar uma série de sectores, combater o desemprego e - por que não? - aumentar a auto-estima da maioria de nós.
O consumo do que é nacional, independentemente do que for, preferencialmente produzido com fundos angolanos, mesmo que privados, desde que limpos, não surripiados ao erário, como já foi moda, pode trazer-nos múltiplas vantagens.
Os benefícios da produção nacional passam a ser ainda maiores, se os trabalhadores forem, em todos os sectores, maioritariamente angolanos, não pela nacionalidade, mas por competência comprovada. Com todos estes e aqueles factores conjugados, estão criadas algumas das condições que podem contribuir para tirar o país do marasmo legado por quem fez dele propriedade privada, ao sabor dos caprichos do novo-riquismo.
Os objectivos, a esmagadora maioria, anunciados por mais de uma vez, ao contrário do que à primeira vista possa parecer, não são fáceis de atingir, mesmo que fossem apenas os que referimos, o que, só por eles, convenhamos, já era complicado, mas não são. Há uma imensidão de outros que, directa ou indirectamente, lhes estão associados.
A herança recente, apenas para mencionar esta, que a esmagadora maioria dos angolanos recebeu, é a de um país de tanga, sem dinheiro, com dívidas, falho de soluções, que não o apertar do cinto dos que jamais o tiveram folgado, a quem se juntou uma multidão crescente de novas vítimas de injustiças sociais.
As soluções que nos faltaram e continuam a faltar são reflexo do tempo - ou templo? - das “vacas sagradas”, intocáveis, com direitos que mais ninguém tinha, apropriaremse do que era público para o desbaratarem como lhes desse na real gana, indiferentes ao sofrimento alheio. Foi este país que a maioria de nós herdou, no qual as importações eram somente um dos canais de que se serviam para porem lá fora parte do que pilhavam. Também por esta via, temos falta de quadros e de infra-estruturas. Igualmente por isso, vamos ter de voltar a contratar estrangeiros. Resta esperar que não sejam como muitos dos que os antecederam, que mais não foram do que “pombos-correios”, meros transportadores de divisas para contas de quem os oficializava como “profissionais qualificados”, com base em engendrados currículos.
Os entraves presentes à produção nacional e consequente consumo requerem, igualmente, condições imprescindíveis, como electricidade e água, que não provenientes de geradores e tanques, para as tornar acessíveis, em termos de preço. Caso contrário, sucede o que já se verifica: artigos angolanos mais caros do que os estrangeiros A isso, junta-se outra coisa que não temos, uma fiscalização comprometida e actuante, que iniba eventuais sabotadores de sonegarem o que é nosso em benefício do que vem de fora.
O incentivo à produção e consumo nacional é louvável, mas não é algo que se consiga de um dia para o outro. As iniciativas nesse sentido são importantes, mas nunca varinhas de condão. A pressa, sabe-se, é má conselheira, acarreta perigos que podem tornar-se caros e funcionarem em sentido contrário. De cooperações “desinteressadas” está Angola farta. Que vier venha por bem. Sem ser capa de ladrões de “colarinho branco”, que ainda os há por aí, uns emproados, como se fossem gente honesta, merecedora de louvas, outros mais sorrateiros, mas não menos perigosos.
Angola teve e tem exemplos de investidores estrangeiros que, sem nunca se terem posto em bicos dos pés, não só desenvolveram e desenvolvem projectos com êxito, como formaram e formam angolanos em várias especialidades. A esses, quantos mais, melhor, o país deve recebê-los de braços abertos. Aos outros, virar-lhes as costas. Há valores mais elevados do que o dinheiro e a dignidade não tem preço.
O incentivo à produção e consumo nacional é louvável, mas não é algo que se consiga de um dia para o outro. As iniciativas nesse sentido são importantes, mas nunca varinhas de condão. A pressa, sabe-se, é má conselheira, acarreta perigos que podem tornar-se caros e funcionarem em sentido contrário