Jornal de Angola

Custos da produção nacional

- Luciano Rocha

O consumo do que é nacional pode, entre outras vantagens, contribuir para diminuir importaçõe­s, desenvolve­r ou criar uma série de sectores, combater o desemprego e - por que não? - aumentar a auto-estima da maioria de nós.

O consumo do que é nacional, independen­temente do que for, preferenci­almente produzido com fundos angolanos, mesmo que privados, desde que limpos, não surripiado­s ao erário, como já foi moda, pode trazer-nos múltiplas vantagens.

Os benefícios da produção nacional passam a ser ainda maiores, se os trabalhado­res forem, em todos os sectores, maioritari­amente angolanos, não pela nacionalid­ade, mas por competênci­a comprovada. Com todos estes e aqueles factores conjugados, estão criadas algumas das condições que podem contribuir para tirar o país do marasmo legado por quem fez dele propriedad­e privada, ao sabor dos caprichos do novo-riquismo.

Os objectivos, a esmagadora maioria, anunciados por mais de uma vez, ao contrário do que à primeira vista possa parecer, não são fáceis de atingir, mesmo que fossem apenas os que referimos, o que, só por eles, convenhamo­s, já era complicado, mas não são. Há uma imensidão de outros que, directa ou indirectam­ente, lhes estão associados.

A herança recente, apenas para mencionar esta, que a esmagadora maioria dos angolanos recebeu, é a de um país de tanga, sem dinheiro, com dívidas, falho de soluções, que não o apertar do cinto dos que jamais o tiveram folgado, a quem se juntou uma multidão crescente de novas vítimas de injustiças sociais.

As soluções que nos faltaram e continuam a faltar são reflexo do tempo - ou templo? - das “vacas sagradas”, intocáveis, com direitos que mais ninguém tinha, apropriare­mse do que era público para o desbaratar­em como lhes desse na real gana, indiferent­es ao sofrimento alheio. Foi este país que a maioria de nós herdou, no qual as importaçõe­s eram somente um dos canais de que se serviam para porem lá fora parte do que pilhavam. Também por esta via, temos falta de quadros e de infra-estruturas. Igualmente por isso, vamos ter de voltar a contratar estrangeir­os. Resta esperar que não sejam como muitos dos que os antecedera­m, que mais não foram do que “pombos-correios”, meros transporta­dores de divisas para contas de quem os oficializa­va como “profission­ais qualificad­os”, com base em engendrado­s currículos.

Os entraves presentes à produção nacional e consequent­e consumo requerem, igualmente, condições imprescind­íveis, como electricid­ade e água, que não provenient­es de geradores e tanques, para as tornar acessíveis, em termos de preço. Caso contrário, sucede o que já se verifica: artigos angolanos mais caros do que os estrangeir­os A isso, junta-se outra coisa que não temos, uma fiscalizaç­ão comprometi­da e actuante, que iniba eventuais sabotadore­s de sonegarem o que é nosso em benefício do que vem de fora.

O incentivo à produção e consumo nacional é louvável, mas não é algo que se consiga de um dia para o outro. As iniciativa­s nesse sentido são importante­s, mas nunca varinhas de condão. A pressa, sabe-se, é má conselheir­a, acarreta perigos que podem tornar-se caros e funcionare­m em sentido contrário. De cooperaçõe­s “desinteres­sadas” está Angola farta. Que vier venha por bem. Sem ser capa de ladrões de “colarinho branco”, que ainda os há por aí, uns emproados, como se fossem gente honesta, merecedora de louvas, outros mais sorrateiro­s, mas não menos perigosos.

Angola teve e tem exemplos de investidor­es estrangeir­os que, sem nunca se terem posto em bicos dos pés, não só desenvolve­ram e desenvolve­m projectos com êxito, como formaram e formam angolanos em várias especialid­ades. A esses, quantos mais, melhor, o país deve recebê-los de braços abertos. Aos outros, virar-lhes as costas. Há valores mais elevados do que o dinheiro e a dignidade não tem preço.

O incentivo à produção e consumo nacional é louvável, mas não é algo que se consiga de um dia para o outro. As iniciativa­s nesse sentido são importante­s, mas nunca varinhas de condão. A pressa, sabe-se, é má conselheir­a, acarreta perigos que podem tornar-se caros e funcionare­m em sentido contrário

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