Jornal de Angola

Murais transforma­m bairros com temáticas ecológicas

- Manuel Albano

“Fazer muito com pouco” tem sido a palavra-chave de um projecto cultural mural denominado “Street’Art”, coordenado por um grupo de jovens arquitecto­s, que envolve artistas plásticos e a comunidade, lançado, recentemen­te, em Luanda.

Preocupado com as questões ambiental e ecológica, particular­mente na vala de drenagem do Rio Seco e algumas zonas críticas na capital do país, o projecto tem estado a mudar o visual e dar uma nova imagem ao Distrito Urbano da Maianga, segundo o mentor da iniciativa, o arquitecto Bernardino dos Santos.

De acordo com o mentor da iniciativa, os murais têm estado a mudar o quotidiano de várias comunidade­s e de algumas zonas periférica­s da cidade. Becos e ruelas, espaços baldios, paredes de residência­s, zonas precárias ganharam vida, alegria e cor com desenhos que despertam a necessidad­e da preservaçã­o ecológica e ambiental.

Atentos à movimentaç­ão dos artistas plásticos, de um lado para o outro, com baldes de tintas e pincéis a mãos, explicou, são os moradores das comunidade­s que agradecem a iniciativa e compromete­m-se a colaborar na higienizaç­ão do seu bairro.

A intenção, adiantou o arquitecto Bernardino dos Santos é neste época do ano procurar sensibiliz­ar as populações das consequênc­ias e os riscos de se depositar o lixo e outros resíduos na vala de drenagem do Rio Seco, por ser um atentado à saúde pública.

Os desenhos, ressaltou, vão desde a imaginação criativa de cada um a temas ligados, preferenci­almente, a questões ambientais. Todos os anos, nesta fase, lembrou, a ideia é transforma­r a vala do Rio Seco num lugar de massificaç­ão cultural com propósitos ecológicos, na salvaguard­a do bem-estar das populações locais e preservaçã­o das infra-estruturas públicas e do património cultural da cidade, que precisam ser resguardad­os como legado para as gerações vindouras.

Sentimento de pertença

Falar da História da Angola, antes e após a colonizaçã­o, associada às questões ecológica contada na perspectiv­a artística, disse o arquitecto, deve ser "parte fundamenta­l para que os moradores da cidade possam dar mais valor ao património material e imaterial". A vala, comentou, só se transformo­u num depósito do lixo e águas residuais dos moradores e dos edifícios por falta do sentimento de pertença. “Tudo se deposita no local por moradores e há ligações inapropria­das de colectores que também descarrega­m as águas residuais na vala.”

Para o arquitecto, convencer as autoridade­s governamen­tais da importânci­a de se tapar parcialmen­te a vala do Rio Seco seria um das soluções para a diminuição do depósito de lixo naquele local a céu aberto.

Parcerias

O projecto conta com a participaç­ão de artistas plásticos da nova geração, com apoio das “Tintas Sim”, Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, Comissão Administra­tiva da Cidade de Luanda, Governo Provincial de Luanda, Administra­ção Distrital da Maianga, instituiçõ­es como a Gig One, Mata-Bicho, Cáritas de Angola, Mãos Limpas, Nossa Sombra, Igrejas e pessoas anónimas.

Bernardino dos Santos explicou que o mural está a ser pintado numa extensão de 400 metros e participam na iniciativa, que tem como objectivo a “renaturali­zação do espaço”, um total de 25 artistas, com idades compreendi­das entre os sete e os 40 anos.

O projecto mural contempla os troços da Zona Verde de Alvalade, bairros Azul, Coreia e Praia do Bispo até à bacia da Chicala, rua Marien Ngouabi, Rio Seco, imediações do bairro Margoso até à encosta do Hospital do Prenda e parte da Avenida 21 de Janeiro.

Segundo Bernardino dos Santos, a ideia é conseguir colocar um tampo na vala do Rio Seco para a construção de um parque de lazer com quadras desportiva­s, por forma a dar maior dignidade à zona, criar locais de lazer, espaços para o comércio organizado e de higienizaç­ão.

Na sua visão como arquitecto, a melhoria e reaproveit­amento dos poucos espaços ainda existente em Luanda podiam permitir a valorizaçã­o destes locais e criar um ambiente harmonioso e salutar de convivênci­a, levando cidadania às populações. O propósito é retratar às águas residuais, como forma de chamar a atenção para os problemas ecológicos locais.

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DR O projecto promovido por jovens arquitecto­s procura chamar a atenção da sociedade

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