Murais transformam bairros com temáticas ecológicas
“Fazer muito com pouco” tem sido a palavra-chave de um projecto cultural mural denominado “Street’Art”, coordenado por um grupo de jovens arquitectos, que envolve artistas plásticos e a comunidade, lançado, recentemente, em Luanda.
Preocupado com as questões ambiental e ecológica, particularmente na vala de drenagem do Rio Seco e algumas zonas críticas na capital do país, o projecto tem estado a mudar o visual e dar uma nova imagem ao Distrito Urbano da Maianga, segundo o mentor da iniciativa, o arquitecto Bernardino dos Santos.
De acordo com o mentor da iniciativa, os murais têm estado a mudar o quotidiano de várias comunidades e de algumas zonas periféricas da cidade. Becos e ruelas, espaços baldios, paredes de residências, zonas precárias ganharam vida, alegria e cor com desenhos que despertam a necessidade da preservação ecológica e ambiental.
Atentos à movimentação dos artistas plásticos, de um lado para o outro, com baldes de tintas e pincéis a mãos, explicou, são os moradores das comunidades que agradecem a iniciativa e comprometem-se a colaborar na higienização do seu bairro.
A intenção, adiantou o arquitecto Bernardino dos Santos é neste época do ano procurar sensibilizar as populações das consequências e os riscos de se depositar o lixo e outros resíduos na vala de drenagem do Rio Seco, por ser um atentado à saúde pública.
Os desenhos, ressaltou, vão desde a imaginação criativa de cada um a temas ligados, preferencialmente, a questões ambientais. Todos os anos, nesta fase, lembrou, a ideia é transformar a vala do Rio Seco num lugar de massificação cultural com propósitos ecológicos, na salvaguarda do bem-estar das populações locais e preservação das infra-estruturas públicas e do património cultural da cidade, que precisam ser resguardados como legado para as gerações vindouras.
Sentimento de pertença
Falar da História da Angola, antes e após a colonização, associada às questões ecológica contada na perspectiva artística, disse o arquitecto, deve ser "parte fundamental para que os moradores da cidade possam dar mais valor ao património material e imaterial". A vala, comentou, só se transformou num depósito do lixo e águas residuais dos moradores e dos edifícios por falta do sentimento de pertença. “Tudo se deposita no local por moradores e há ligações inapropriadas de colectores que também descarregam as águas residuais na vala.”
Para o arquitecto, convencer as autoridades governamentais da importância de se tapar parcialmente a vala do Rio Seco seria um das soluções para a diminuição do depósito de lixo naquele local a céu aberto.
Parcerias
O projecto conta com a participação de artistas plásticos da nova geração, com apoio das “Tintas Sim”, Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, Comissão Administrativa da Cidade de Luanda, Governo Provincial de Luanda, Administração Distrital da Maianga, instituições como a Gig One, Mata-Bicho, Cáritas de Angola, Mãos Limpas, Nossa Sombra, Igrejas e pessoas anónimas.
Bernardino dos Santos explicou que o mural está a ser pintado numa extensão de 400 metros e participam na iniciativa, que tem como objectivo a “renaturalização do espaço”, um total de 25 artistas, com idades compreendidas entre os sete e os 40 anos.
O projecto mural contempla os troços da Zona Verde de Alvalade, bairros Azul, Coreia e Praia do Bispo até à bacia da Chicala, rua Marien Ngouabi, Rio Seco, imediações do bairro Margoso até à encosta do Hospital do Prenda e parte da Avenida 21 de Janeiro.
Segundo Bernardino dos Santos, a ideia é conseguir colocar um tampo na vala do Rio Seco para a construção de um parque de lazer com quadras desportivas, por forma a dar maior dignidade à zona, criar locais de lazer, espaços para o comércio organizado e de higienização.
Na sua visão como arquitecto, a melhoria e reaproveitamento dos poucos espaços ainda existente em Luanda podiam permitir a valorização destes locais e criar um ambiente harmonioso e salutar de convivência, levando cidadania às populações. O propósito é retratar às águas residuais, como forma de chamar a atenção para os problemas ecológicos locais.