Memórias do “pé canhão” que assustava guarda-redes
Ex-futebolista da Académica do Zangado e do Vila Clotilde conquistou no activo vários títulos de campeão distrital
Falar de Firmino Inácio Dias nos dias que correm, talvez não diz absolutamente nada para muitos amantes do desporto-rei. Porém, se recuarmos no espaço e tempo, isto mais concretamente nos idos anos de 60 e 70, aí a coisa pode mudar de tónico, pois foi no início da primeira década que se forjou no Atlético Sport Aviação (ASA) como defesa e mais tarde como avançado, até brilhar em outras equipas e particularmente na Academia Social do Zangado, do seu coração. Apesar das várias “fintas” aplicadas ao serviço militar obrigatório na época colonial, em 1970, não se viu livre do cumprimento desse...
Detentor de um grande poder de desmarcação, o craque que despontou como federado para o mundo de futebol nos escalões juniores da equipa aviadora, em 1961, quando tinha apenas 17 anos, demonstrou sempre a sua veia de goleador.
Com rótulo de pontade-lança habilidoso, Firmino Inácio Dias assume que apesar de não ser forte no jogo aéreo, quando tivesse chances cabeceava de forma misericordiosa, fazendo outros tantos golos para a sua conta pessoal.
Apesar de se notabilizar como jogador astucioso na época em que dava cartas nos vários campos espalhados pelo país e em Luanda, onde chegou a ser campeão distrital por equipas como o Vila Clotilde e Academia do Zangado, nunca actuou além-fronteiras.
“A minha carreira ficou profundamente marcada pela passagem na equipa do Zangado, onde conquistei um título de campeão em 1969, numa época em que também fui o melhor marcador”, começou por dizer ao Jornal de Angola ontem.
Na época, foi chamado para fazer parte da selecção de Luanda, que se deslocou à ex- Rodésia do Norte, hoje Zâmbia, para jogar, mas, pela condição de refractário, por se furtar ao serviço militar obrigatório do regime colonial, viu coarctada essa chance.
“Por isso, depois acabei por me limitar a realizar alguns jogos de futsal, com outros talentos da época”, sublinha Firmino Inácio Dias, que um ano depois, quando já contava com 26 cacimbos, perdeu a oportunidade também de ir jogar a Portugal.
E tudo mais uma vez pela condição de incumprimento do serviço militar do tempo colonial, até o ano de 1970, quando se sagrou campeão da Corporativa – uma espécie de campeonato regional de trabalhadores –, pela equipa da SADIL.
Firmino Inácio Dias conta que até essa época haviase furtado ao serviço militar, devido a situação conturbada que o país enfrentava durante a Luta de Libertação Nacional, em que os três grandes movimentos políticos da época, o MPLA, FNLA e UNITA, se confrontavam para a tão ansiada conquista da Independência no país.
“Foi um período extremamente difícil”, conta ao nosso jornal, acrescentando que nunca pensara em fazer política, mas tão-somente jogar futebol, mesmo quando ocorreu o 27 de Maio de 1977, com surgimento do Fraccionismo, que se revelou como uma cisão ao partido poder, o MPLA. “Nessa fase estava a pôr fim a minha carreira”, completou.
Voltando à época colonial, lembra que apesar das frequentas “fintas” aplicadas ao serviço militar obrigatório, em 1970, depois de se sagrar campeão distrital pela equipa da SADIL, não se viu livre do cumprimento desse, acabando mesmo por incorporar.
A então cidade de Nova Lisboa, hoje Huambo, foi o destino, tendo aí permanecido por apenas um ano como militar e, nessa condição, ainda jogou pela equipa de Fátima.
“Não demorou muito tempo, o Benfica, que tinha no seu dirigismo um capitão que atendia pelo nome de
Mota Cardoso, interveio, igualmente, para que eu ficasse vinculado a este clube”, refere Firmino Dias, lembrando que nesta altura o emblema encarnado da actual cidade do Huambo tinha no seu seio jogadores como o defesacentral Lutucuta, que depois foi para o Olhanense de Portugal, assim como Mendonça, que era tropa.
Tempos depois regressou a Luanda e em 1971 teve uma passagem efémera pelo Atlético, hoje Petro de Luanda, onde encontrou craques da igualha de Luas e Vai-à Lua, que também actuou no Sporting de Luanda, os centrais Keré e Santana Carlos, assim como o lateral-esquerdo Carlos Queirós. O craque forjado no ASA foi levado ao Atlético pelas mãos do radialista e ex-ministro de Informação, Rui de Carvalho, rumando posteriormente para outras zonas do país no cumprimento do serviço militar.