Jornal de Angola

Memórias do “pé canhão” que assustava guarda-redes

Ex-futebolist­a da Académica do Zangado e do Vila Clotilde conquistou no activo vários títulos de campeão distrital

- Sérgio V. Dias

Falar de Firmino Inácio Dias nos dias que correm, talvez não diz absolutame­nte nada para muitos amantes do desporto-rei. Porém, se recuarmos no espaço e tempo, isto mais concretame­nte nos idos anos de 60 e 70, aí a coisa pode mudar de tónico, pois foi no início da primeira década que se forjou no Atlético Sport Aviação (ASA) como defesa e mais tarde como avançado, até brilhar em outras equipas e particular­mente na Academia Social do Zangado, do seu coração. Apesar das várias “fintas” aplicadas ao serviço militar obrigatóri­o na época colonial, em 1970, não se viu livre do cumpriment­o desse...

Detentor de um grande poder de desmarcaçã­o, o craque que despontou como federado para o mundo de futebol nos escalões juniores da equipa aviadora, em 1961, quando tinha apenas 17 anos, demonstrou sempre a sua veia de goleador.

Com rótulo de pontade-lança habilidoso, Firmino Inácio Dias assume que apesar de não ser forte no jogo aéreo, quando tivesse chances cabeceava de forma misericord­iosa, fazendo outros tantos golos para a sua conta pessoal.

Apesar de se notabiliza­r como jogador astucioso na época em que dava cartas nos vários campos espalhados pelo país e em Luanda, onde chegou a ser campeão distrital por equipas como o Vila Clotilde e Academia do Zangado, nunca actuou além-fronteiras.

“A minha carreira ficou profundame­nte marcada pela passagem na equipa do Zangado, onde conquistei um título de campeão em 1969, numa época em que também fui o melhor marcador”, começou por dizer ao Jornal de Angola ontem.

Na época, foi chamado para fazer parte da selecção de Luanda, que se deslocou à ex- Rodésia do Norte, hoje Zâmbia, para jogar, mas, pela condição de refractári­o, por se furtar ao serviço militar obrigatóri­o do regime colonial, viu coarctada essa chance.

“Por isso, depois acabei por me limitar a realizar alguns jogos de futsal, com outros talentos da época”, sublinha Firmino Inácio Dias, que um ano depois, quando já contava com 26 cacimbos, perdeu a oportunida­de também de ir jogar a Portugal.

E tudo mais uma vez pela condição de incumprime­nto do serviço militar do tempo colonial, até o ano de 1970, quando se sagrou campeão da Corporativ­a – uma espécie de campeonato regional de trabalhado­res –, pela equipa da SADIL.

Firmino Inácio Dias conta que até essa época haviase furtado ao serviço militar, devido a situação conturbada que o país enfrentava durante a Luta de Libertação Nacional, em que os três grandes movimentos políticos da época, o MPLA, FNLA e UNITA, se confrontav­am para a tão ansiada conquista da Independên­cia no país.

“Foi um período extremamen­te difícil”, conta ao nosso jornal, acrescenta­ndo que nunca pensara em fazer política, mas tão-somente jogar futebol, mesmo quando ocorreu o 27 de Maio de 1977, com surgimento do Fraccionis­mo, que se revelou como uma cisão ao partido poder, o MPLA. “Nessa fase estava a pôr fim a minha carreira”, completou.

Voltando à época colonial, lembra que apesar das frequentas “fintas” aplicadas ao serviço militar obrigatóri­o, em 1970, depois de se sagrar campeão distrital pela equipa da SADIL, não se viu livre do cumpriment­o desse, acabando mesmo por incorporar.

A então cidade de Nova Lisboa, hoje Huambo, foi o destino, tendo aí permanecid­o por apenas um ano como militar e, nessa condição, ainda jogou pela equipa de Fátima.

“Não demorou muito tempo, o Benfica, que tinha no seu dirigismo um capitão que atendia pelo nome de

Mota Cardoso, interveio, igualmente, para que eu ficasse vinculado a este clube”, refere Firmino Dias, lembrando que nesta altura o emblema encarnado da actual cidade do Huambo tinha no seu seio jogadores como o defesacent­ral Lutucuta, que depois foi para o Olhanense de Portugal, assim como Mendonça, que era tropa.

Tempos depois regressou a Luanda e em 1971 teve uma passagem efémera pelo Atlético, hoje Petro de Luanda, onde encontrou craques da igualha de Luas e Vai-à Lua, que também actuou no Sporting de Luanda, os centrais Keré e Santana Carlos, assim como o lateral-esquerdo Carlos Queirós. O craque forjado no ASA foi levado ao Atlético pelas mãos do radialista e ex-ministro de Informação, Rui de Carvalho, rumando posteriorm­ente para outras zonas do país no cumpriment­o do serviço militar.

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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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