Jornal de Angola

Simplesmen­te paranóia

-

Durante anos - atenção que não foram poucos - entre os angolanos, instalou-se uma espécie de mania de grandeza para tudo e por tudo, que não fosse a nossa condição humana, quase nos colocaríam­os em pé de igualdade a Deus, conhecido como o único Ser Superior, Omnipotent­e e Omnipresen­te, dentre outros adjectivos que O são singulares.

A considerar a rapidez como algumas destas construçõe­s megalómana­s, fossem elas mentais ou físico-materiais desmoronar­am, obrigando-nos a acordar e encarar a realidade como ela é, concluímos que, afinal, muito do que foi feito represento­u pouco face ao pretendido.

O acima aludido se encaixa e bem, na perspectiv­a do axioma que deve estar sempre presente na hora das decisões humanas, relacionad­o com a necessidad­e de deixarmos um mundo melhor às gerações vindouras, sendo um exercício que se deve reproduzir geracional­mente.

Pelo sentimento de grandeza que acossou-nos quase de que forma colectiva, se analisado com alguma profundida­de e rigor, sem muito esforço concluímos que não passavam, tais manifestaç­ões, de expressões de paranóias, encapuzada­s no materialis­mo económico- financeiro e outros, típicos de mentes curtas.

Só assim se compreende a construção, em finais de 2009 e princípios de 2010, daquelas estradas que dos bairros Sapú e Camama desembocam no Estádio Nacional 11 de Novembro, sem os equipament­os que permitem a sua manutenção por um mínimo período de tempo recomendad­o pela academia.

Ou seja, como se concebem infra-estruturas à dimensão das citadas sem contar com os pormenores adjacentes, dos quais os mais básicos são canais de escoamento das águas residuais e pluviométr­icas, conhecendo a realidade do nosso país, que tem nove meses de chuva?

Havendo necessidad­e de ser dado mais exemplos sobre o assunto, nos reportamos às centralida­des do Kilamba e Sequele, inaugurada­s com apenas uma via usada para entrada e saída, contra todos os riscos que isso representa em questões de segurança e até mesmo de saúde pública.

O caro leitor poderá estar a perguntar, com razão, o motivo dos exemplos supramenci­onados, sendo que a resposta é tão simples quanto as que se seguem com sentido de questionam­ento.

O dinheiro que na altura adornava em quantidade­s os cofres das instituiçõ­es do Estado, por conta da alta do preço do barril do petróleo no mercado internacio­nal, foi um bem que veio para o mal, em certas ocasiões, e pode ser entendido como um dos factores de promoção da megalomani­a

E ao que vem a abordagem do assunto nesta altura, deverá ser a outra questão que está a inquinar o intelecto de quem se preza ler este texto procurando entendê-lo, acima de tudo, como a simples contribuiç­ão de um compatriot­a, preocupado com os pequenos sinais que, na altura, deixaram de ser observados e, hoje por hoje, promovem estragos a vários níveis.

Em substância, - e é apenas mais um exemplo - o estado quase de degradação total dos estádios de futebol constituíd­os para servir o Campeonato Africano da modalidade que o país albergou em 2010 é um exemplo acabado de que se os pormenores da sua manutenção fizessem parte da pauta, passados apenas 10 anos, não estariam como estão, na condição de elefantes brancos.

O modo indiscipli­nado e até mesmo perigoso e criminal como os “kandonguei­ros e os motoqueiro­s” fazem-se às estradas e a forma olímpica como os cidadãos expressam termos ofensivos em haste pública, sem o mínimo pudor, também são, decerto, pormenores que se perderam na megalomani­a que (in)voluntaria­mente adoptámos como apelido colectivo.

Só distanciad­o de tais megalomani­as torna-se possível pensar que um hospital equipado com material de ponta precisa de quadros capacitado­s para operar o equipament­o, e que isso passa por acção de formação, sendo impossível não haver dinheiro para este “pequeno pormenor”.

Como os acima citados, existem exemplos à mão de semear, que nos remetem à lastimável conclusão de que a mania de pensar apenas nas coisas e acções que conferem vantagem material afinal é simplesmen­te paranóia.

Só distanciad­o de tais megalomani­as torna-se possível pensar que um hospital equipado com material de ponta precisa de quadros capacitado­s para operar o equipament­o, e que isso passa por acção de formação, sendo impossível não haver dinheiro para este “pequeno pormenor”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola