Hospital Municipal de Talatona registou 11 casos desde o início da pandemia
Bastonária da Ordem dos Médicos de Angola visitou a unidade hospitalar, tendo manifestado solidariedade aos profissionais de saúde
O Hospital Municipal de Talatona registou, desde o início da pandemia, 11 casos positivos da Covid-19, que resultaram em seis óbitos e cinco pacientes recuperados, anunciou, ontem. em Luanda, o director da instituição, durante uma visita da bastonária da Ordem dos Médicos de Angola, Elisa Gaspar.
Domingos Jacinto, director do hospital, esclareceu que os seis pacientes, que faleceram, chegaram tarde e em estado grave àquela unidade sanitária. Garantiu que o atendimento a pacientes com Covid-19 tem sido organizado conforme os protocolos exigidos, mas, também, tem havido problemas com a falta de materiais de biossegurança e outros.
“O hospital tem um fluxograma para a triagem dos doentes, numa ala apropriada, em que se mede a temperatura das pessoas e são observadas para constatar outros sinais vitais. Em caso de febre ou alguma complicação respiratória, o doente é tratado noutra sala, separado dos outros pacientes”, disse.
Domingos Jacinto revelou que o hospital tem dez camas para atender, de forma simultânea, pacientes que precisam de tratamento da Covid-19, apesar de não haver registo de muitos casos suspeitos.
A bastonária da Ordem dos Médicos, Elisa Gaspar, disse que a visita ao Hospital Municipal de Talatona serviu para mostrar solidariedade aos profissionais de saúde e constatar, fundamentalmente, as condições que foram criadas para o atendimento de casos da Covid-19.
Elisa Gaspar manifestouse satisfeita com a existência de uma área para pacientes com Covid-19 e notou que os profissionais de saúde estão organizados. O hospital tem também uma sala para doentes de Covid-19 moderados e outra para os mais graves.
Malária e HIV aumentam óbitos
O director Domingos Jacinto confirmou que a malária continua a ser das patologias mais frequentes no Hospital Muncipal de Talatona, principalmente nesta época de chuvas, e a maioria dos casos resulta em óbitos. "As doenças diarreicas agudas em crianças, doenças de pele, hipertensão arterial, diabetes e cardiopatias, também são preocupantes", sublinhou o médico, adiantando que o hospital tem 63 camas para internamento.
Domingos Jacinto manifestou-se preocupado com o número de casos de mortes em pacientes com VIH/Sida, que chegam de forma descontrolada no banco de urgência, com várias complicações e acabam por falecer. O mesmo acontece com os que padecem de tuberculose. Realçou que no Hospital Municipal de Talatona chegam a morrer, mensalmente, entre 10 e 12 pessoas por diversas patologias.
Nesta altura da pandemia, a unidade atende, diariamente, 300 a 400 pacientes, devido a restrições impostas no quadro das medidas de prevenção, mas em períodos normais são atendidos perto de mil pacientes.
O director garantiu que o hospital está preparado para atender todos os cidadãos, da melhor forma possível.
Atendimento tardio
Vicência Jamba, 33 anos, foi encontrada pela nossa equipa de reportagem no banco de urgência, onde levou a filha de dois anos, porque estava a convulsionar. Queixa-se da demora no atendimento, sublinhando que há dias que chega ao hospital às 7h00 e só é atendida depois das 18h00.
“Não é admissível que as pessoas fiquem tanto tempo à espera para serem atendidas, mesmo no banco de urgência”, lamentou.
Vicência Jamba disse que acorre ao hospital por estar próximo de casa e admitiu que alguns turnos trabalham melhor que outros.
Lamenta que muitas vezes tem de comprar quase tudo fora do hospital para garantir a assistência médica, desde as luvas até aos medicamentos e outros materiais gastáveis.
Eva Bernardo, outra mãe que encontramos à entrada do hospital, disse ter chegado com a filha ao colo às 7h00, mas até às 10h00 não tinha sido atendida. “O atendimento é moroso. Acredito que só depois das 13h00 sairei daqui”, reclamou.
Director justifica
Em função das reclamações de demora no atendimento, o director Domingos Jacinto disse que o hospital segue as normas estabelecidas pela triagem de Manchester.
Explicou que, no banco de urgência, o atendimento não é por ordem de chegada. “Os pacientes são atendidos em função do estado em que se encontram. Os mais graves têm prioridade e muitos não percebem isso. O facto de alguém chegar antes, não significa que pode ser atendido de imediato", justificou.
Domingos Jacinto disse que, em cada turno, as equipas são compostas por quatros médicos, sendo dois de medicina, um de pediatria e um ginecologista.
Realçou que no banco de urgência estão 12 enfermeiros, dois técnicos de análises clínicas, dois de imagiologia e igual número na hemoterapia, que considera insuficientes, atendendo à demanda. Frisou que esta situação não garante celeridade no atendimento.
Elisa Gaspar manifestou-se satisfeita com a existência de uma área para o atendimento dos pacientes com Covid-19 no Hospital Municipal de Talatona