As ligações perigosas do príncipe André
O duque de York é um príncipe em título a quem foram retirados os deveres reais e que está relativamente confinado à sua mansão emWindsor Great Park
Depois do escândalo que envolveu o príncipe com o falecido JeffreyEpstein, um pedófilo imensamente rico, há agora outra associação pouco recomendável do segundo filho da rainha Isabel II a um “banco muito privado”do Luxemburgo com ligações a ditadores e cleptocratas do mundo.
O oitavo na sucessão ao trono, o duque de York, é um príncipe em título a quem foram retirados os deveres reais e que está relativamente confinado à sua mansão emWindsor Great Park, a 40 quilómetros a oeste de Londres.
No ano passado, e depois de uma desastrosa entrevista à BBC2 sobre a sua eventual ligação com o multimilionário pedófilo JeffreyEpstein, a rainha foi obrigada a agir e príncipe André foi afastado de quaisquer deveres públicos em nome da coroa. No entanto, Isabel II não se afastou do segundo filho, para muitos o seu preferido. Quanto ao processo que o relaciona com o falecido Epstein- e no caso concreto do príncipe o envolvimento com VirginiaGuiffre, à época menor de idade, o que André tem negado –prossegue nos Estados Unidos, com a prisão de Ghislaine Maxwell, inglesa, namorada e cúmplice de Epstein no tráfico sexual de menores. Por agora, têm sido os advogados do príncipe a responder aos promotores públicos norte-americanos.
Entretanto, a Bloomberg Businessweek divulgou uma investigação do Daily Mail que liga o príncipe André a David Rowland e a um banco privado do Luxemburgo, o Banque Havilland SA. Instituição bancária de interesses obscuros,através da qual os dois homens se relacionaram com ditadores e a cleptocratas do mundo.
Durante, antes, e depois de se reformar da Marinha Real, onde teve uma assinalável carreira de mais de 20 anos – participou na Guerra das Falkland (Malvinas para os argentinos) como piloto de helicópteros – o príncipe André foi um representante especial do Reino Unido para o comércio e para o investimento estrangeiro e nessa condição trabalhou com a família Rowland e ofereceu os seus serviços a ditadores e cleptocratas.
Em 2011, o príncipe tinha uma viagem marcada com Johnathan, um dos filhos de David Rowland, aos Camarões, Guiné Equatorial e Gabão. Uma viagem de negócios. No ano anterior, os Rowlands acompanharam o príncipe numa viagem oficial à China, e nessa altura André abriu portas aos banqueiros, pai e filho, que participaram com ele em diversas reuniões. Os Rowlands assumiram-se mesmo, em diversos países e noutras ocasiões, como consultores do príncipe e da família real. Seja como for, André não acompanhou JohanthanRowland na viagem a África, os tempos não corriam favoráveis para a imagem pública do príncipe, tinha rebentado no Estados Unidos o escândalo Epstein.
Isso mesmo pode ler-se nos emails que fazem parte da investigação jornalística agora tornada pública, com os Rowlands a aconselharem o príncipe a desaparecer por uns tempos. Há outros emails que dão conta do relacionamento mutuamente benéfico entre André e os Rowlands. E esse relacionamento pode explicar o nível de vida do príncipe, muito acima dos seus rendimentos conhecidos – cerca de 250 mil libras, livres de impostos, que recebe da rainha anualmente, a que se juntam as 20 mil libras que recebe de pensão da Marinha, por junto, cerca de 260 mil libras, o que não é quantia que permita a André a vida luxuosamente principesca que levava.
Para isso supõe-se que terá contribuído a conta que tinha no Banque Havilland, bem como um cartão de crédito em nome de Andrew Invernesse - um pseudónimo relacionado com um dos outros títulos do Duque de York, o de conde de Inverness.
Para os Rowlands, o envolvimento com um príncipe de Inglaterra permitiu oupgrade de uma modesta instituição financeira, comprada praticamente à beira da ruína, enquanto KaupthingBank, um banco islandês, e transformada em Havilland Hall, em Guernsey, um paraíso fiscal numa ilha do Canal da Mancha. E depressa se percebeu que o Banque Havilland era um banco disponível para trabalhar com pessoas que a maioria das instituições financeiras, de um e de outro lado do Atlântico, rejeitavam.
Numa altura em que estava sobre uma investigação por um escândalo de corrupção na Nigéria, KolawoleAluko, um magnata da energia nigeriano, conseguiu um empréstimo de 30 milhões de dólares no banco de David Rowlands. Joshua Kulei, um assessor do Presidente do Quénia, Daniel Arap Moi, conseguiu receber 2,9 milhões de dólares de uma hipoteca,depois de ter sido banido dos Estados Unidos por causa de um caso de corrupção - o que ele sempre negou. Um empresa controlado pelos herdeiros do empresário ucraniano ArkadyPatarkatsishvili, de conduta muito repreensível, tido como criminoso, emprestou mais de cinco milhões de dólares a David Rowland -os gestores do banco não tiveram dúvida que aquele empréstimo configurava lavagem de dinheiro.
Questionado o Palácio de Buckinghamsobre estas ligações, um porta-voz limitouse a responder que como “representante comercial especial o cargo do príncipe tinha como objectivo promover a Grã-Bretanha e os interesses britânicos no exterior, não indivíduos”.
Um porta-voz do Banque Havilland fez questão de sublinhar que nenhum dos seus clientes, passados ou presentes, foram apresentados ou indicados pelo príncipe André, que nunca foi empregado, consultor ou embaixador remunerado da instituição.
David Rowlands e o príncipe André não podiam ser mais diferentes um do outro, apesar da amizade que os liga há anos. David, actualmente com 75 anos, é filho de um sucateiro londrino e abandonou a escola aos 16 anos. É temperamental e faz habitualmente recurso de palavrões quando fala. Ganhou o primeiro milhão de libras por volta dos 20 anos com a compra e venda de imóveis. Mais tarde criou a Blackfish Capital Management e passou a administrar mais de um mil milhões de dólares, dele e dos amigos. E desde então, dedicou-se a emprestar dinheiro, com juros muito elevados, a pessoas a quem outras entidades financeiras recusavam empréstimos.
O passo seguinte foi político, terá entregue mais de 4 milhões de libras ao Partido Conservador. Quando David Cameron chegou a líder dos ‘tories’, nomeou Rowland tesoureiro do partido, cargo a que teve de renunciar mesmo antes de o assumir, quando se começou a conhecer a sua própria situação tributária e os valores colocados em offshores.
André está nos antípodas. Nasceu no dia 19 de Fevereiro de 1960 no piso térreo da fachada norte do Palácio de Buckingham, na altura, o segundo na linha de sucessão ao trono – quando ainda estava muito presente a abdicação de Eduardo VIII, o duque de Windsor - foi baptizado pelo arcebispo de Canterbury e criado por uma governanta até aos oito anos. Entrou na Marinha Real aos 19 e em 1982 participa na guerra das Falkland como piloto de helicópteros. Namorou desalmadamente antes, talvez durante e depois do casamento com Sarah Ferguson, de quem se divorciou em 1992, de tal forma que é conhecido por “playboy prince” ou “party animal”. A par de tudo isto, sempre foi dado a amizades pouco recomendáveis. A sua ligação com um filho do ex-presidente líbio MoammarQaddafi foi uma autêntica dor de cabeça para os políticos e diplomatas britânicos.
No ano anterior, os Rowlands acompanharam o príncipe numa viagem oficial à China, e nessa altura André abriu portas aos banqueiros, pai e filho, que participaram com ele em diversas reuniões