Deslocados de Cabo Delgado recebem apoio do Papa Francisco
A situação no Norte de Moçambique está cada vez mais dramática, levando o bispo de Pemba a apelar à solidariedade internacional e a anunciar a ajuda dada pelo Papa Francisco no valor de 100 mil euros
O Papa Francisco doou 100 mil euros para apoiar deslocados da violência em Cabo Delgado, Norte de Moçambique, confirmou, domingo, à Lusa, o bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa, verba que vai servir para erguer dois postos de saúde.
“Num gesto de caridade pastoral, o Papa Francisco ofereceu 100 mil euros para podermos aplicar no atendimento aos deslocados”, referiu o prelado, detalhando ser um gesto frequente do líder da Igreja Católica face a situações complicadas em todo o mundo.
Bispo de Pemba anuncia que donativo do Papa vai servir para construir dois postos de saúde, um em Chiúre, o distrito mais populoso de Cabo Delgado, e outro em Montepuez
Segundo Luiz Fernando Lisboa, após algumas conversas a nível local, concluiuse que o donativo devia servir para construir “dois postos de saúde, um em Chiúre, o distrito mais populoso de Cabo Delgado, e outro em Montepuez”, Sudoeste da província, longe dos ataques de rebeldes e um dos locais seguros que os deslocados em fuga tentam alcançar.
Após perderem tudo, sujeitos à fome e a longos dias de fuga no mato, os cuidados de saúde estão entre as principais necessidades das famílias que fogem da guerra – sendo metade crianças.
“Com certeza, como homenagem, vamos dar o nome de Papa Francisco” aos novos postos de saúde, referiu Luiz Fernando Lisboa, explicando que já há desenho e orçamento para brevemente começar a construção. Dentro de dois a três meses as duas unidades deverão começar a atender deslocados.
O bispo de Pemba considera importante o apoio de figuras mobilizadoras como o Papa Francisco para que mais doações possam chegar a Cabo Delgado, onde persiste um défice de ajuda humanitária face à dimensão da crise. “Se a guerra terminasse hoje, íamos precisar ainda de vários anos para reconstruir” o tecido social da província, destacou.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou, em Novembro, que teria de reduzir o apoio alimentar devido ao sub-financiamento da sua actividade.
A falta de dinheiro para ajuda humanitária a Cabo Delgado levou o bispo de Pemba a redobrar o apelo à mobilização de apoios.
“Pedimos esse apoio, para que não nos deixem agora”, num acto de mobilização que deve incluir todas as pessoas e organizações, das locais às globais, “seja a União Europeia (UE), Nações Unidas, União Africana, todos os que puderem ajudar, da maneira que puderem”, destacou Luiz Fernando Lisboa. “Vemos o que se passa com preocupação”, sublinhou o bispo, face ao anúncio do Programa Alimentar Mundial (PAM) de corte no apoio alimentar aos deslocados da violência armada, por falta de doações.
“Isso mostra que temos de intensificar a nossa campanha no sentido de conseguirmos mais apoio. As pessoas não podem ficar sem alimento”, numa região onde se perdeu quase tudo o que estava nos campos, por causa da violência armada. “Há pessoas que não produzem há três anos com medo da guerra e quando fugiram de casa deixaram tudo para trás”, acrescentou. Além do mais, a época actual – até novas colheitas, em Abril – é de escassez, referiu.
“Aqui, temos um período de fome a cada ano e essa situação vai agravar-se ainda mais se por parte dos doadores houver um certo fecho, uma certa dificuldade. Então, teremos muitos problemas aqui”, alertou.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
A província onde avança o maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.