Mulheres das artes querem mais espaço
Os feitos das mulheres no domínio das artes foram sempre ofuscados ao longo das décadas, o que permitiu “travar” o empoderamento feminino à escala mundial, como um elemento importante da história das artes cénicas, em particular o teatro. A sua visibilidade nas produções de peças de teatro em diferentes contextos foi pouco promovida.
Esta constatação saiu da primeira videoconferência denominada “A Mulher do Teatro no Actual Contexto Social”, realizada no sábado, inserida na programação da 15ª edição do Festival Internacional de Teatro do Cazenga (Festeca), que este ano acontece no contexto da pandemia da Covid-19.
De acordo com os participantes, devido ao cepticismo, machismo e opressões de género, essas histórias foram distorcidas, silenciadas e mal contadas, o que impossibilitou às próprias mulheres terem um outro destaque e afirmação nas artes como um espaço de direito.
Para a directora do Festeca, Felismina Sebastião, falar da mulher do teatro é referir a forma como elas se colocam na linha da frente em busca de soluções inovadores para os novos desafios que se impõem no contexto actual.
"Ainda existe um caminho longo a percorrer no exercício das actividades artísticas, sobretudo, no posicionamento dentro dos grupos e instituições ligadas ao teatro", explicou, para acrescentar que a mulher deve continuar a trabalhar para conquistar um lugar sólido na edificação do teatro, fazendo emergir o potencial que cada uma possui em benefício da arte.
Segundo a directora do Festeca, a videoconferência analisou aquilo que tem sido o contributo e papel da mulher angolana no teatro e no contexto social.
História distorcida
A pesquisadora e professora brasileira Michelle dos Santos Lomba, recentemente premiada na sessão solene do 15º Prémio Paulo Freire de Qualidade do Ensino Municipal do Estado de São Paulo, como o projecto “Encontro Brasil Angola - arte africana e afro-brasileira da tradição à contemporaneidade”, enalteceu a iniciativa de cooperação resultante deste intercâmbio cultural e artístico, agora promovido por videoconferência.
Ao longo da sua intervenção, a pesquisadora abordou a importância da visibilidade de produções de teatro feitas por mulheres, que sempre fizeram parte da história do teatro em diferentes contextos.
"Porém, devido ao cepticismo, machismo e opressão de género, essas histórias foram distorcidas, silenciadas ou não contadas, o que impossibilitou as próprias mulheres de terem uma outra visibilidade nas artes como um espaço de afirmação e direito."
Hoje, disse, com o empoderamento social, as mulheres têm dado um valioso contributo maior e significativo no campo artístico, apresentando estratégicas de equidade na produção, selecção do elenco para espectáculos. Esse contributo é ainda mais visível, ressaltou, por lhes ser reconhecida competências na abordagem de temáticas como violências domésticas e psicológicas. “Procuramos tratar desses e outros assuntos no teatro como um posicionamento político de reivindicações”.