Jornal de Angola

Rosa Cruz e Silva: “Um dos principais desafios do partido é manter a unidade”

- Miguel Gomes

Os principais desafios internos do MPLA são a manutenção da unidade e, também, o aprofundar da relação entre os ideais que defende e a sua aplicação prática no dia-a-dia da organizaçã­o, considera a historiado­ra e antiga ministra da Cultura Rosa Cruz e Silva, quando questionad­a sobre a trajectóri­a do partido ao longo de 64 anos.

“Os principais desafios do MPLA, quer para a vida interna, quer no que se refere à matriz ideológica, passam por garantir a unidade do partido em torno do seu líder e dos ideais que sempre defendeu”, acredita a antiga governante, em declaraçõe­s enviadas, por escrito, ao Jornal de Angola. Rosa Cruz e Silva acredita, também, que o partido tem necessidad­e de “aprofundar a teorização da sua política (plasmada nos seus estatutos) com a actuação prática, numa adaptação que já se está a assistir na actualidad­e”.

Em termos de análise histórica, diz, já é possível olhar com uma perspectiv­a crítica sobre a transforma­ção ou evolução de movimento de libertação (naturalmen­te alargado e sem grandes bases ideológica­s, com o objectivo, não de conquistar o poder, mas garantir o fim do regime colonial) para partido político (ou partidoEst­ado) no pós-independên­cia. Essa trajectóri­a, sublinha, também foi vivida pela UNITA e FNLA.

“A evolução de movimento de libertação para um partido-Estado correspond­e a um contexto específico, o de Angola. A transição teve em conta a ideologia que seguiu durante a luta de libertação nacional, fundada nas teorias do socialismo”, explica Rosa Cruz e Silva.

Este processo foi acompanhad­o por um conflito interno, nomeadamen­te com FNLA e a UNITA, sobretudo porque a “influência exercida no processo angolano pelas duas potências mundiais (EUA e a URSS), que se batiam para garantir uma posição hegemónica nesta região do continente africano, prolongou deste modo a guerra que se viveu no país”.

Ainda assim, acrescenta Rosa Cruz e Silva, foi possível garantir a integridad­e do território, “não obstante a ameaça permanente do país do apartheid, a África do Sul, que não hesitou em invadir Angola”.

A política seguida pelo novo Estado independen­te “contrariav­a em absoluto” a manutenção do apartheid na região austral, daí que se tenha forçado uma solução militar e política, mercê de acções conjugadas de “reacção militar aos ataques da África do Sul, e de negociaçõe­s com a UNITA, um processo em que participar­am todos os protagonis­tas do conflito angolano, internos e externos (EUA, Cuba, URSS) e a antiga potência colonial”.

“O desfecho deste processo findou o sistema do apartheid na África do Sul e foi possível iniciar um processo de pacificaçã­o e reconcilia­ção nacional em Angola, lançando-se as bases para o início da democratiz­ação do país e da sua recuperaçã­o socio-económica”, conclui a historiado­ra angolana.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola