A normalização da vida em 2021
Dois países decidiram dar início a programas de vacinação em massa contra a Covid-19. A Rússia, com a sua vacina Sputnik V, e a Grã-Bretanha, com a vacina da Pfizer/BionTech (empresas americana e alemã), estão na linha da frente da luta pela normalização da vida tal como ela era antes do surto da Sars-Cov2 aparecer e espalhar-se pelos quatro cantos do globo, obrigando o mundo inteiro a confinar-se.
A meta é o pleno regresso à normalidade em 2021, com a imunização da maior parte da população, o que vai também abrir as portas para que todas as actividades retomem o seu curso normal, em particular as comerciais, de modo a que a economia volte a registar as performances que tinha no período pré-Covid-19.
É inegável o impacto político que o surgimento das vacinas está a ter e vai ter em todos os países do mundo. Na Rússia, a descoberta da Sputnik V e a decisão pela sua utilização têm associadas a mensagem clara de mostrar a capacidade do país de encontrar soluções técnicas e tecnológicas à altura da complexidade dos desafios que o mundo moderno nos coloca. No âmbito da competição política permanente entre o Leste e o Ocidente em vários domínios, umas vezes mais acirrada e outras menos pincelada de toda a carga ideológica que a tem caracterizado, os avanços obtidos pelos cientistas russos representam um marco na afirmação do país como potência também no campo da investigação científica no ramo da Saúde. Esse papel relevante ficou também patente aquando da realização dos primeiros testes da vacina contra o vírus do ébola, em 2016. Para Vladmir Putin, esse passo é tão crucial quão importante é reafirmar o papel que a nova Rússia tem a desempenhar no actual contexto político mundial.
Na Grã-Bretanha, a vacina vem desafogar a situação do Primeiro-Ministro, Boris Johnson, que já estava a ver-se confrontado com uma onda de contestações, mesmo dentro da sua formação política, em relação ao plano de confinamento a ser executado de acordo com os níveis de contágio de cada localidade/território.
Com o surgimento da vacina, as atenções desviaram-se agora para a imunização em massa dos britânicos e para as negociações sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, questões que, em termos de perspectivas, não representam riscos políticos para a sua manutenção no cargo e para a liderança dos conservadores.
Nos Estados Unidos, Donald Trump sonhava com o aparecimento de uma vacina para poder utilizá-la como trunfo para a sua campanha eleitoral. Para sua tristeza, o anúncio da descoberta aconteceu depois da sua derrota nas eleições presidenciais, o que o levou até a acusar a Pfizer de ter atrasado propositadamente a divulgação do seu achado.
Favorecidos pela descoberta da cura contra a Covid-19, Joe Biden e Kamala Harris vão entrar para a Casa Branca e ficar na história por devolverem à América a normalidade, quer no plano político, quer no campo sanitário. Essas é que serão realmente conquistas - e usando um adjectivo a que Trump recorre muito - tremendas!
Actualmente, o país mais afectado pelo novo coronavírus, com mais de 15 milhões de pessoas infectadas e perto de ultrapassar a barreira dos 290 mil mortos, os Estados Unidos podem começar a vacinação em massa ainda este mês.
Na fila de espera, e com planos também já elaborados para a imunização em larga escala, estão os restantes países da Europa e do mundo, a acompanhar todo o processo e as notícias sobre as reacções que as diferentes vacinas estão a provocar nos pacientes. Pessoas com histórico de reacções alérgicas estão a ser desaconselhadas a apanhar a vacina. É uma das questões que a investigação médica deverá resolver.
Os especialistas aconselham, entretanto, a ninguém se deixar levar pela euforia da descoberta de vacinas, numa altura em que o vírus do Sars-Cov-2 continua a infectar pessoas e a fazer vítimas mortais. O recomendável é, pois, manter as medidas de biosssegurança que já temos vindo a observar, como lavar sempre as mãos com água e sabão ou desinfectálas com álcool em gel ou simplesmente álcool, respeitar o distanciamento físico, usar sempre a máscara e manter sempre actualizados e executar os planos de desinfecção dos espaços, quer de trabalho, quer o de habitação.
A boa perspectiva aberta com as vacinas é que os planos que estavam engavetados vão poder conhecer a luz do dia e, seguramente, vamos poder ver os países entrarem em novas dinâmicas políticas, sociais e económicas. Para isso acontecer, a aposta na vacinação em massa será, de certeza, o compromisso que a maior parte dos países vai querer abraçar. Até mesmo para evitar ilhas de pessoas protegidas e outras tantas ilhas de desprotegidos, susceptíveis de poderem ser infectados e criarem constrangimentos para os demais.