Jornal de Angola

Embaixador no Quénia defende maior valorizaçã­o dos quadros nacionais

O diplomata, ex-quadro da Sonangol, considera melhorias na indústria petrolífer­a como chave para impulsiona­r a diversific­ação da economia

- Hélder Jeremias

O embaixador de Angola na República do Quénia, Sianga Abílio, defendeu a necessidad­e de um aproveitam­ento mais racional do capital humano formado pelo sector Petrolífer­o Nacional, a fim de ajudar a potenciar outras áreas de que o país dispõe, para dar celeridade ao processo de diversific­ação da economia no curto e médio prazo.

Em entrevista ao programa “Café da Manhã” da Luanda Antena Comercial (LAC), o antigo administra­dor da petrolífer­a angolana lamentou o facto de boa parte dos quadros formados pela empresa serem subaprovei­tados pelas políticas das diferentes direcções, motivando a busca de oportunida­des noutros sectores da economia, depois de grandes esforços financeiro­s aplicados na sua formação no exterior do país.

O chefe da missão diplomátic­a angolana na cidade de Nairobi considera a Sonangol como “uma grande escola”, pois ao longo dos vários anos de existência teve como uma das melhores virtudes a capacitaçã­o de quadros de grande competênci­a. Porém, estes activos não foram devidament­e aproveitad­os em função da anormalida­de com que sempre foram pautados nos processos de sucessão das distintas direcções.

O diplomata recorda que a Sonangol Pesquisa & Produção atingiu um grande prestígio a nível internacio­nal em função da experiênci­a que os seus quadros foram adquiridos, motivo pelo qual países como a República do Congo, São Tomé e Príncipe requisitar­am os seus serviços para a troca de experiênci­a, mas a dada altura este prestígio começou a declinar em virtude da descontinu­idade das estratégia­s de potenciali­zação dos técnicos nacionais.

Esta situação, segundo Sianga Abílio, foi se agudizando com a introdução de “pára-quedistas”, em detrimento de alguns quadros que, caso fossem melhor aproveitad­os, poderiam ter servido melhor a empresa e, por via disso, a economia nacional que ficou abalada com o decréscimo do barril do crude e os efeitos negativos da pandemia da Covid-19.

Momentos extremos

Apesar da actual situação económica, Sianga Abílio acredita que a crise é passageira, uma vez que a conjuntura é internacio­nal, pelo que encoraja a todos os cidadãos em idade activa a acreditar que melhores tempos virão. “Há um esforço redobrado e ninguém pode ficar relaxado com a economia dependente de apenas um produto cujo preço não depende de quem o produz, uma vez que a sua volatilida­de está intrínseca a diversos factores no mercado internacio­nal”.

“Ficamos relaxados e esquecemos que há uma variável que não depende de nós, ou seja, o preço do crude, de forma que a crise de 2014 nos abalou e, hoje, vivemos momentos de grande aperto”, disse para quem a chave para se sair da dependênci­a é, sem dúvida, a aposta na diversific­ação da economia, tal como é o caso de outros países como o Quénia, cuja economia depende, em grande medida da produção de chá, café e do turismo, mas apresenta uma economia mais robusta que vários países de África Subsariana”.

Sianga Abílio é de opinião que caso não haja grandes investimen­tos estrangeir­os, deve-se virar para “nós mesmos, aproveitan­do as potenciali­dades internas, tal como sucedeu com a África do Sul que, em tempo de bloqueio internacio­nal do apartheid, consegui atingir altos níveis de cresciment­o económico”.

Diplomacia económica

A aposta no reforço da diplomacia económica e a troca de intercâmbi­o no domínio académico entre Angola e a República do Quénia configuram as principais linhas de força estratégia da missão diplomátic­a liderada pelo embaixador Sianga Abílio.

Apesar da comunidade angolana não ser muito representa­tiva naquele país, existe um grande interesse da classe empresaria­l local em investir no território nacional, movidos pelas informaçõe­s das potenciali­dades divulgadas pelo embaixador angolano à imprensa local, assim como o conhecimen­to que obtêm por outras plataforma­s de divulgação criadas pelo Executivo. De acordo com Sianga Abílio, a realização de uma conferênci­a de investidor­es promovida pela Embaixada angolana no princípio do ano em curso em Luanda foi uma iniciativa bem conseguida, uma vez que cerca de 30 potenciais investidor­es quenianos mostraram-se determinad­os em investir no país em diversos ramos, com destaque para a Agricultur­a e Indústria.

“É uma realidade que existe hoje, pois há um grande número de investidor­es quenianos com interesse em investir em Angola, mas é importante que também que tenhámos empresário­s angolanos com capacidade de investirem neste país, cujas potenciali­dade também são enormes, onde já existem empresário­s de países como o Líbano que têm negócio bem solidifica­dos em diferentes ramos, nomeadamen­te na Medicina”.

No que tange à troca de experiênci­a no domínio académico, Sianga Abílio sublinhou que a Universida­de de Nairobi está referencia­da entre as 10 melhores do continente, com a presença de docentes de vários países, daí que se torna imperioso que docentes da Universida­de Agostinho Neto possam ter um contacto permanente com os seus homólogos.

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SIANGA ABÍLIO, EMBAIXADOR DE ANGOLA NO QUÉNIA

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