“Um bom comprador da ENSA ajuda o Estado a ter maior encaixe financeiro”
O gestor principal da maior seguradora nacional disse ao Jornal de Angola que um dos principais compromissos no processo de privatização em curso é a manutenção da sua força de trabalho
A operacionalização da privatização da Empresa Nacional de Seguros de Angola (ENSA) avançou no final de Novembro. Por que razão o processo só deverá ser concluído em 2021?
O processo de privatização de uma empresa com a história e a dimensão da ENSA toma tempo, obriga a diversas etapas e requer o envolvimento de diversas autoridades e especialistas. As tarefas em curso abrangem não só a reestruturação da empresa, como também procedimentos para a sua avaliação, a elaboração de documentos complexos e o alinhamento das tarefas com as melhores práticas do mercado internacional. Temos como compromisso a realização dos melhores esforços para que este projecto seja um sucesso para o Estado e para os investidores. E é esta a fase em que uma equipa vasta procura reunir os pressupostos para o efeito.
Uma vez concluído o processo legal e regulatório da operação, já se saberá o valor real da venda da maior seguradora nacional?
O valor da ENSA é igualmente um tema complexo e dinâmico que exige várias etapas e o trabalho de vários especialistas. Oportunamente teremos o resultado da avaliação da ENSA para o estabelecimento do preço-alvo para as acções a vender, o que se encontra a decorrer neste momento. Por outro lado, teremos num futuro próximo o preço final, que resultará da negociação da melhor oferta pelas participações sociais a privatizar e, nesse contexto, a procura das melhores condições globais para o Estado e para os investidores, numa lógica em que todos ganhem.
Há parceiros multinacionais com experiência e capacidade relevantes que manifestaram antecipadamente o interesse da compra das acções?
Sim, frequentemente somos abordados por alguns investidores que solicitam informações, o que revela o interesse destes na operação. Isto encoraja ainda mais o trabalho que está a ser seguido pela nossa equipa, com vista à reestruturação da ENSA e à preparação da privatização. Para já, o objectivo da equipa é o de conseguir os melhores investidores, a melhor proposta de compra e um encaixe relevante para o Estado, mas também uma nova abordagem sustentada para a ENSA e o mercado segurador nacional.
Em quanto estão avaliados os activos financeiros e patrimoniais da empresa?
Conforme referido, o exercício para essa avaliação encontra-se actualmente em curso. O uso de avaliações passadas certamente não reflectiria o tempo já decorrido em relação à sua elaboração, as condições actuais do mercado e a reestruturação da empresa que estamos a empreender. Por exemplo, o património imobiliário está a ser alvo de uma reorganização, passando a ser gerido no contexto de um fundo de investimento imobiliário.
Já há algum cronograma do road-show, selecção de investidores e venda das participações sociais?
Sim. Trata-se de um cronograma já consensualizado entre a ENSA, as autoridades públicas competentes e os diversos especialistas que se encontram envolvidos. O cronograma aponta a conclusão da primeira fase da privatização para meados do primeiro semestre de 2021, ocorrendo todos esses eventos até aí, se não existirem imprevistos que não consigamos controlar. Frise-se que muitas componentes deste processo não dependem só da ENSA, sendo o Estado, o decisor e condutor da tramitação através de órgãos próprios.
No quadro da privatização, os postos de trabalho estarão salvaguardados. Não se corre o risco de uma quota-parte dos 600 trabalhadores solicitar uma reforma antecipada?
As reformas obedecem a regras legais e, uma vez que os pressupostos estejam reunidos, a ENSA não quererá obstar a que os seus trabalhadores exerçam o seu direito, mesmo antecipadamente se for essa a sua vontade. Mas será de notar que a ENSA tem como um dos principais compromissos neste processo não só a manutenção da sua força de trabalho, mas também a sua maior capacitação. De resto, a empresa tem uma força de trabalho muito jovem e ainda longe de pensar no horizonte merecido da reforma.
A privatização será realizada de forma faseada. O Concurso Limitado por Prévia Qualificação não seria a melhor via É esse justamente o modelo escolhido para a privatização da ENSA, até por ser dos que melhor assegura a transparência e a concorrência. Encontra-se enquadrado legislativamente desde Junho deste ano e é com esse modelo que temos trabalhado.
E na segunda fase por via de uma OPI - Oferta Pública Inicial em Mercados Regulamentados?
Essa metodologia encontrase prevista para uma segunda fase da privatização. Ou seja, nesta actual primeira fase é esperada a escolha de um ou mais investidores por via de um concurso. Esse ou esses investidores, que se pretendem institucionais, deverão constituir a âncora para a segunda fase. A segunda fase procurará atrair um universo mais alargado de investidores através da dispersão de acções num mercado regulado. Cremos que os investidores da segunda fase poderão ser atraídos pela perspectiva de se poderem associar a esse ou esses investidores institucionais, o que sem dúvida acrescentará valor a favor do Estado e do mercado segurador nacional.