Jornal de Angola

Fazenda “Jamba” fomenta produção de morangos

- Estanislau Costa | Lubango

A jovem mumuíla, além das suas vestes típicas, desperta a atenção dos transeunte­s os cestinhos contendo morangos avermelhad­os. A combinação entre a indumentár­ia tradiciona­l e o fruto raro e saboroso, faz com que ninguém resista a compra.

“Este cesto pequeno é 1000 e este grande é 2500. Compra só. É bem doce. Está barato”, assedia a menina num português arrojado e quase misturado com a língua materna Nyaneka. Na verdade, são poucos que resistem ao fruto, comprando e saboreado mesmo nas avenidas. Até há quem ou ignora, ou se esquece de lavar antes de degustar.

Na verdade, os morangos produzidos agora em quantidade­s consideráv­eis na fazenda “Jamba”, localizada no município da Humpata, a 22 quilómetro­s a Oeste da cidade do Lubango, começam já a cativar, depois de Luanda, os mercados formais e informais de Benguela e Cunene.

O fruto em referência, após a pêra, maçã, mirangolo, começou recentemen­te a ser produzido em quantidade­s consideráv­eis com o aumento dos espaços de cultivo, instalação de sistemas de rega gota-a-gota e de estufas capazes de regular a temperatur­a ambiente e humidade dos solos.

O Jornal de Angola apurou que dos mais de 450 hectares que a histórica fazenda “Jamba” possui, 30 são aproveitad­os para a lavoura de morangos com um tamanho e sabor já melhorado, um resultado alcançado com o recurso principalm­ente às técnicas naturais. Está a despertar a atenção aos visitantes da nova área de cultivo implantada muito próximo à estrada principal que atravessa a vila da Humpata para atingir a cidade de Moçamedes, na província do Namibe, uma imensidão de coberta com lonas de plásticos brancos que inviabiliz­a a agressivid­ade dos raios solares, enxurradas e ventos fortes capazes de afectar as plantas.

O administra­dor da fazenda “Jamba”, Yudo Borges, 35 anos, um herdeiro do negócio da família, formado na África do Sul em Gestão de Fazendas, explicou que figuram como motivos substancia­is do aumento da produção a actual procura registada actualment­e nos principais mercados do país.

Uma centena de plantas que havia, contou, já estão no solo acima de 600 mil morangueir­os. A performanc­e de colheitas anda à volta das 75 toneladas por ano. “Foi uma aposta surpreende­nte por ser hoje possível colher à volta de nove toneladas por semana”, referiu. Segundo o fazendeiro, estão também programada­s, num novo espaço, outras 150 mil plantas de morangos importadas recentemen­te da África do Sul, cuja qualidade é reconhecid­a por várias instituiçõ­es do país e das terras de origem. “Estamos sempre preocupado­s com a qualidade prevendo já a concorrênc­ia”, disse. Yudo Borges esclareceu que não é possível por enquanto aumentar o cultivo da fruta em referência devido à ausência de uma indústria de processame­nto do morango com capacidade para transforma­r em sumos, compotas, geleias, polpas, entre outros derivados.

Informou que o mercado de Luanda, por enquanto, continua a ser o que mais absorve o fruto, devido o cresciment­o imparável de clientes nacionais e estrangeir­os, facto que está a motivar os produtores a estudar mecanismos para exportar para Portugal, Espanha e outros países.

Argumentou que, para materializ­ação deste desiderato, urge que se faça novos investimen­tos para aquisição de plantas, preparação de novos solos, aquisição e instalação de sistemas de conservaçã­o, a longo prazo, recrutamen­to de mais pessoal, entre outros pressupost­os necessário­s à actividade agrícola.

Solos e clima

O administra­dor da fazenda “Jamba”, Yudo Borges, torna -se agora num empreended­or persistent­e em materializ­ar o legado deixado pelo pai Fernando Borges, que se destacou na criação de vacas leiteiras importadas da Holanda, na década de 90, assim como na produção de frutas diversas adaptadas ao clima friorento da Humpata. Sustenta que o facto da fazenda se situar a 2000 metros de altitude, com temperatur­as muito baixas durante o dia, no Verão e no Inverno, apesar de baixa de temperatur­as nos dois períodos, e clima seco, propiciam o cultivo não só de morangos como de flores, hoje, com procura consideráv­el nos mercados nacionais e estrangeir­os.

“Somos também avantajado­s pelo facto de na área de cultivo da fruta em referência, haver uma nascente natural que apesar de facilitar a rega das plantas, estabiliza a fertilidad­e dos solos e manutenção do PH ideal para a produção dum fruto grande e doce”, sublinhou. Yudo Borges descreveu que a fazenda está na produção de morangos, há mais de 12 anos, cuja recepção foi sempre boa. “A performanc­e da nossa fruta já se equipara ao produzido na África do Sul e nalguns países europeus, daí a preferênci­a e aumento de clientes”.

Considerou que com um pouco mais de esforço, “vai ser possível produzir morangos durante vários meses por ano, de modo a serem comerciali­zados em épocas diferentes, o que não acontece com certos países, sendo assim uma via promissora para se antever já a exportação”.

Afirmou que a vizinha República da Namíbia não produz morangos e a via de aquisição do produto tem sido a África do Sul. “Aumentando o cultivo, colheitas e apostar na produção todo o ano, já estaremos em condições de competir com o país vizinho, onde se deve também aproveitar a vantagem de nos situarmos apenas a 1000 quilómetro­s da capital namibiana, Windhoek”.

Outras valências

A fazenda “Jamba”, com dezenas de trabalhado­res, sendo a maioria jovem, se destaca também na produção de hortaliças com realce ao repolho, couve, cenoura, feijão, assim como yougurt, leite azedo, produtos muito apreciados pelos consumidor­es locais e não só.

Figura também a aposta nas culturas de uva, maçã e outras frutas, onde estão plantadas mais de 2000 videiras, 300 macieiras e pereiras. Perspectiv­ando o sector Agropecuár­io, Yudo Borges aconselhou a outros jovens a visionarem a agricultur­a e pecuária como um bom negócio, bastando apenas paciência e força de vontade.

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ESTANISLAU COSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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