Semáforo escondido
Os semáforos são somente um dos símbolos da trapalhada na qual se transformou Luanda por não funcionarem ou funcionarem mal e quando funcionam, pelos vistos, serem escondidos.
Luanda, a província toda, não é de hoje, continua a ser um amontoado de disparates, como atesta o semáforo de uma das esquinas da Rua Rainha Ginga com a Amílcar Cabral, onde, a dois passos, há um dos vários urinóis a céu aberto, porque os fechados não existem e há quem não tenha alternativa para satisfazer necessidades fisiológicas inadiáveis. Imaginem, por exemplo, os vários responsáveis, de qualquer sector, pela província, residirem em Cacuaco ou Sequele, trabalharem na Baixa da capital e terem de deslocar-se de táxi. Têm de sair de casa ao cantar do galo, esperar na fila, fazer a viagem com duração indeterminada, principalmente em tempo chuvoso, por caminhos inqualificáveis. Nunca lhes passou pela cabeça tal cenário? Pelos vistos, não. Como, provavelmente, desconhecem o turbilhão crescente de desrespeitos ao espaço público.
Àquela esquina não lhe bastava ter um urinol a céu aberto, nem todo o amontoado de atentados à saúde, segurança e ordem públicas, agora, até o semáforo foi quase escondido por um painel publicitário! Esta incongruência não é culpa da pandemia - ela tem servido para destapar tanta coisa, mas, igualmente, para encobrir muito mais -, nem da crise económica, mas da falta de civismo, que, infelizmente, não paga imposto. Que não se adquire com acções de formação, tãopouco anúncios de intenções. Requer unicamente actuação de quem é pago para zelar por Luanda e impedir que a impunidade faça dela local de recreio e provocação.