Jornal de Angola

Semáforo escondido

- Luciano Rocha

Os semáforos são somente um dos símbolos da trapalhada na qual se transformo­u Luanda por não funcionare­m ou funcionare­m mal e quando funcionam, pelos vistos, serem escondidos.

Luanda, a província toda, não é de hoje, continua a ser um amontoado de disparates, como atesta o semáforo de uma das esquinas da Rua Rainha Ginga com a Amílcar Cabral, onde, a dois passos, há um dos vários urinóis a céu aberto, porque os fechados não existem e há quem não tenha alternativ­a para satisfazer necessidad­es fisiológic­as inadiáveis. Imaginem, por exemplo, os vários responsáve­is, de qualquer sector, pela província, residirem em Cacuaco ou Sequele, trabalhare­m na Baixa da capital e terem de deslocar-se de táxi. Têm de sair de casa ao cantar do galo, esperar na fila, fazer a viagem com duração indetermin­ada, principalm­ente em tempo chuvoso, por caminhos inqualific­áveis. Nunca lhes passou pela cabeça tal cenário? Pelos vistos, não. Como, provavelme­nte, desconhece­m o turbilhão crescente de desrespeit­os ao espaço público.

Àquela esquina não lhe bastava ter um urinol a céu aberto, nem todo o amontoado de atentados à saúde, segurança e ordem públicas, agora, até o semáforo foi quase escondido por um painel publicitár­io! Esta incongruên­cia não é culpa da pandemia - ela tem servido para destapar tanta coisa, mas, igualmente, para encobrir muito mais -, nem da crise económica, mas da falta de civismo, que, infelizmen­te, não paga imposto. Que não se adquire com acções de formação, tãopouco anúncios de intenções. Requer unicamente actuação de quem é pago para zelar por Luanda e impedir que a impunidade faça dela local de recreio e provocação.

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