Jornal de Angola

Salário de Presidente

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Quando o conhecido cidadão malgaxe Hamed Ahmed eleitoralm­ente derrubou o então “imperador” da Confederaç­ão Africana de Futebol, Issa Hayatou, prometeu jamais alinhar no jogo da corrupção e, mais do que isso, defendeu, com toda a rouquidão que :” o salário do presidente da confederaç­ão deve ser transparen­te”.

A realidade mostrou recentemen­te outra faceta da sua personalid­ade; as suas manápulas protagoniz­aram actos que deram corpo a um velho brocado que penso ser universal: o poder, às vezes, corrompe!

Se assim não fosse este mandão/presidente do futebol africano não estaria hoje proibido, pela Federação Internacio­nal de Futebol Associado, de todas as actividade­s relacionad­as com o desporto-rei, por cinco anos, justamente por motivos de corrupção...

Este modelo de castigo, não sendo draconiano, acaba, todavia, por ser uma merecida forma de sancionar presidente­s fora-da-lei; gente que só devia ter este rótulo de maneira putativa, porque presidente que é presidente, não se desvia das promessas; não enriquece feito “gangster”, quer seja no desporto, na política ou noutro “metiér”.

Hamed Ahmed, seguiu, afinal, as pegadas do seu antecessor - o tal poderoso camaronês Issa Hayatou que acumulou, em nome do futebol africano, uma fortuna incalculáv­el; envolveu-se nas teias da corrupção, teceu “lobbies”, negociou e decidiu tudo para as suas algibeiras, sempre que o assunto “se chamasse dinheiro”; vil metal que não provinha, certamente, do seu salário.

Presidente, repito, não deve ser assim. Deve ser modelo, exemplar. Seja de um clube, de uma federação, de uma autarquia, de um país, enfim...

Há, por falar em países, abro um parêntesis, para dizer que exemplos mil de “maus presidente­s”, uns ainda entre nós, outros já na “terra de pés juntos”. Muitos acabaram ma,l apesar dos status de lorde que ostenta(va)m.

Mobuto, após o seu derrube, deixou uma fortuna calculada em cerca de 8 biliões de dólares. Não resultou do seu desconheci­do salário. É safra do jogo da corrupção e, quiçá, à custa de sangue alheio.

O então presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat em nome da revolução deixou uma fortuna estimada em 300 milhões de dólares e o ex-presidente da África do Sul, Jacob Zuma, foi obrigado a devolver parte dos cerca de 16, 967 milhões dólares usurpados do erário público para o restauro da sua casa particular. É por esta razão que vai a julgamento em Fevereiro de 2021.

Recuando no tempo: no leme da Federação Internacio­nal de Futebol Associado, esteve, por muitos anos, Joseph Blatter. Caiu porque não era honesto. Tinha, como presidente, um salário na ordem de 2 milhões e 400 mil dólares anuais.

Para mim, presidente­s de boa fé - só para citar alguns - são os da estirpe do saudoso Fidel Castro, que vivia com um modesto salário oficial de 36 dólares por mês. Ou mesmo o carismátic­o Barack Obama, que só auferia os 400 mil/mês, para a realidade da grande nação que é a América do Norte.

Portanto, Hamed Ahmed, apostado na corrupção, violou, como fazem macabros estadistas no nosso tempo, princípios que não abonam a um presidente que se preze. Foi contra o dever de lealdade, ofereceu e aceitou presentes, abusou da sua posição e desviou fundos.

Este tipo de acções abominávei­s assentam a presidente­s que, como escreveu recentemen­te neste jornal o escritor Manuel Rui, integram a cleptocrac­ia: governo de ladrões; aqueles que não vivem do seu salário nos cargos em que estão alcandorad­os. Claro que sobram sempre alguns que são benquistos...nos clubes, federações e países.

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