Próximos meses podem ser os piores da pandemia
Numa altura em que o mundo e sobretudo os Estados Unidos da América começam a soletrar a palavra mágica de 2020 - vacina, Bill Gates vem, mais uma vez, alertar para o pior
Bill Gates tem feito constantes alertas e apelos aos seus compatriotas e até à administração cessante sobre a forma como têm lidado com a evolução da pandemia. No domingo, voltou a fazê-lo, um dia depois da vacina da Pfizer e da BioNTech, já aprovada pela FDA, começar a sair da fábrica do laboratório norte-americano, no Michigan, para ser distribuída pelos 50 estados.
Em entrevista à CNN, o cofundador da Microsoft avisou os americanos que "os próximos quatro a seis meses podem ser os piores da pandemia", ao argumentar que os dados do IHME estimam a ocorrência de mais de 200 mil mortes adicionais. "Infelizmente é assim, mas se seguirmos as medidas de protecção, como usar máscara e manter distanciamento físico, poderemos evitar uma boa parte destas mortes ", sublinhou Gates.
Ao mesmo tempo que Trump quer que o povo norteamericano tenha prioridade no acesso às vacinas da Pfizer, das quais comprou cem milhões de doses que dão para vacinar para já 50 milhões de pessoas, as vacinas começam, de facto, a sair da fábrica em camiões da Fedex. Mas o número de casos continuam também a aumentar.
Mas não só. O número de internamentos aumenta, de situações em cuidados intensivos também, de mortes igualmente e o sistema de saúde está em ruptura. Esta é, aliás, uma das acusações a Trump, e uma das razões que o poderá ter feito cair nas eleições de Novembro. Bill Gates confessa que achou no início que "os EUA conseguiriam lidar" com a situação pandémica e que "fariam um trabalho melhor.
Até porque, referiu na entrevista, em 2015, ele tinha previsto uma situação pandémica e alertou o país e o mundo para se prepararem. "Em 2015, quando fiz as previsões, considerei que o número de mortes poderia ser potencialmente maior, o que pode querer dizer que este coronavírus pode ser mais fatal do que é", afirmou ao jornalista, ressalvando que, do ponto de vista económico, também está surpreendido, porque "o impacto nos Estados Unidos e no mundo tem sido muito superior às minhas previsões de há cinco anos".
Temos de fazer melhor
O novo coronavírus, identificado quase há um ano na província de Wuhan, na China, já atingiu mais de 72,5 milhões de pessoas, fazendo quase 1,7 milhões de mortes. Nos EUA, o número de mortes diárias por Covid19 ultrapassa as três mil, mais do que as registadas no ataque de 11 Setembro de 2001, e, no total, quase 300 mil.
Ao todo, e numa população de 330 milhões, há 17 milhões de infectados. Os EUA são o país mais afectado pela pandemia. E as estimativas dos especialistas não são favoráveis. "Temos de fazer melhor", argumentou Gates. No entanto, não deixou de sublinhar que, apesar de ser um país que tem dado muito à investigação para uma vacina e para um tratamento para a doença, tem de olhar para o mundo inteiro e não exigir ser uma prioridade no acesso a qualquer uma destas situações. "É uma questão humanitária", disse. "Os EUA têm de ajudar toda a humanidade", sublinhou ao ser confrontado com a ordem de Donald Trump sobre a distribuição da vacina em primeiro lugar aos norteamericanos e só depois a outros países.
"Queremos que a economia mundial continue. Queremos minimizar as mortes. A tecnologia base da vacina é de uma empresa alemã (BioNTech) e bloquear a cooperação internacional será um erro na gestão da pandemia", defendeu. Portanto, "é preciso aumentar a capacidade de produção e de distribuição da vacina". "Haverá outras que serão aprovadas nos próximos meses e cuja fabricação e distribuição será mais fácil, mas se os EUA também beneficiaram com o conhecimento e o trabalho de outros países, não deveria ser totalmente egoísta na forma como está a avançar", acrescentou.
Vou tomar a vacina publicamente
Questionado sobre se aceitará tomar a vacina contra a Covid19, já que nos EUA há já forte contestação a esta por parte de movimentos anti-vacinas, Bill Gates disse que não só a tomará como o irá fazer publicamente, como já o declararam os ex-Presidentes Bill Clinton, George Bush e Barack Obama, para aumentar a confiança das pessoas.
"Quando chegar a minha vez - não vou ceder -, vou tomar a vacina publicamente, porque acho que tem benefícios para todas as pessoas. Ficaremos protegidos e não andaremos a transmitir a doença", disse.
Defendeu ainda que os critérios sobre quem deve ter acesso ou não à vacina devem ser definidos pelas necessidades médicas e não pela riqueza. Tanto mais que nos EUA, tal como outros, nomeadamente o Brasil, esta pandemia tem posto a descoberto as fragilidades sociais e aumentado as desigualdades entre classes.
"Foi pior para os hispânicos, pior para os negros, pior para os trabalhadores com rendimentos precários, famílias multigeracionais, uma série de coisas que significam que, em termos de definição de critérios sobre quem recebe a vacina, é melhor usar-se os da equidade para se tomarem as decisões certas", disse.
Só a vacina não chega
Na entrevista Gates defendeu ainda que só a vacina não chega, reforçando que os "próximos quatro a seis meses exigem que os americanos façam o melhor". "Sabemos que a situação um dia acaba, mas ninguém quer que aqueles que ama sejam os últimos a morrer por covid.