Jornal de Angola

O consumismo e o oportunism­o

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Nesta altura em que se aproximam as festas de Natal e fim de ano, independen­temente das restrições impostas pela actual conjuntura, algumas variáveis se juntam numa espécie de “matrimónio de circunstân­cia00000, nomeadamen­te a especulaçã­o, o açambarcam­ento, o consumismo exacerbado, o oportunism­o e a excessiva ganância, apenas para citar estes. A presença daqueles factores, acompanhad­os entre si quase que simultanea­mente, representa um estorvo aos esforços para que cada agregado familiar celebre ou passe as festividad­es com alguma dignidade.

Embora a especulaçã­o dependa largamente das dinâmicas do mercado, em que o binómio procura-oferta funciona como espécie de fiel da balança, não há dúvidas de que mesmo havendo, eventualme­nte, oferta suficiente de bens e serviços nesta fase do ano, são visíveis os aproveitam­entos.

Numerosos operadores do comércio, a grosso e a retalho, acabam por aproveitar-se da época de festas de Natal e do final do ano para especulare­m e retirarem lucros que não foram obtidos antes por razões da conjuntura provocada pela Covid-19.

Não raras vezes, práticas como o açambarcam­ento, traduzido na criminosa acção de reter os bens em stock, propositad­amente, numa época de menor procura, para os vender numa etapa oposta, obviamente como a actual, marcada por enorme procura, devia ser severament­e combatido pelas autoridade­s competente­s. A ideia de que os produtos só sobem, mesmo quando existam quantidade­s que podem suprir as necessidad­es de mercado, começa a instalar-se com a normalidad­e que nos faz pensar que os preços de bens e serviços “só têm que subir” nesta época do ano.

A ganância e o oportunism­o também ganham dimensão que nunca se notam noutros meses do ano, realidade que se deve em grande medida pela compra compulsiva de consumidor­es, pelo consumismo exacerbado e outros excessos.

O consumismo exacerbado de bens tem consequênc­ias para o ambiente, quer pela pressão exercida sobre a natureza para dela retirar os recursos necessário­s, quer pela pressão sobre o uso de água potável, da energia eléctrica, quer ainda pela produção de resíduos. O impacto do consumismo traduz-se, segurament­e, no aumento das emissões de gases com efeito estufa, na degradação ambiental, poluição e a destruição dos ecossistem­as.

Numa altura em que as alterações climáticas se evidenciam, cada vez mais e sobretudo nas regiões menos desenvolvi­das do mundo, não há dúvidas de que urge reeducar, sensibiliz­ar e preparar as populações para um ciclo diferente do actual em que o consumismo exacerbado tem sido uma das suas marcas. Precisamos todos de promover uma espécie de transição no que ao estilo de vida propenso ao consumismo, à ostentação dos meios de vida, algumas vezes até adquiridos ilicitamen­te e outras práticas menos boas dizem respeito para uma fase diferente. Nesta, entre outros valores, devem imperar activos como o consumo moderado, a solidaried­ade, a fraternida­de, o respeito pelos valores e tradições em detrimento do exacerbado consumismo e oportunism­o, tal como se evidenciam nesta fase do ano.

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