CARTAS DOS LEITORES
Andar na estrada
A cultura, aqui no sentido de costume, de andar a pé na estrada, esperando, na maior parte das vezes, que sejam as viaturas a desviarem-se dos peões, constitui uma das marcas do mau costume que se enraíza perigosamente na nossa sociedade. Aliás, há um cantor que compôs uma canção que um dos refrões fala precisamente que “hoje as pessoas não fogem dos carros, os carros é que fogem as pessoas”, uma realidade triste que precisa de ser revertida. É verdade que em algumas vias, dificilmente se notam os passeios, mas ainda assim nada dá o direito, mesmo ali onde não existam, de as pessoas passarem pelas vias ao mesmo tempo que as viaturas, como se estivessem a competir pelos mesmos espaços.
Sou absolutamente contra essa realidade em que as pessoas tenham de dividir os espaços nas estradas e, com excepção das passadeiras, devia ser definitivamente proibido andar a pé na estrada. Pode até parecer um exagero, mas se virmos bem e se pretendermos reduzir drasticamente a sinistralidade rodoviária, uma das variáveis deve passar pela não utilização das estradas por parte de peões.
Já vi, em tempo de chuva, as pessoas circularem no meio da estrada, entre as duas faixas em que circulam viaturas, um verdadeiro absurdo que nunca deveria ser tolerado. E cada vez mais, as pessoas interiorizam a ideia de que é normal andar na estrada, mesmo ali onde existam condições para andar no passeio ou no chão.
E depois a lista de sinistros nas estradas “engorda” simplesmente por irresponsabilidade dos nossos peões. Por isso, defendo que há necessidade de se proibir por lei e nem sei até que ponto alguma legislação, na verdade, não proíbe já o trânsito de peões nas estradas, fora da passadeira. Essa medida teria como escopo incutir nas pessoas a ideia de segurança e valorização da vida humana que, como dá para ver, parece desvalorizada à medida que as pessoas usam as estradas para andar sem temer por atropelamento. A Polícia Nacional devia desempenhar um papel crucial,
ESCREVA-NOS Cartas recebidas na Rua Rainha Ginga, 12-26 Caixa Postal 1312 - Luanda
ou por e-mail: primeiro para começar por sensibilizar as pessoas a deixarem de andar pelas estradas. Os agentes passariam a sensibilizar as pessoas para deixarem de andar nas estradas e essa acção deve estender-se, igualmente, às senhoras que vendem exactamente à beira da estrada. Por exemplo, quem for ao São Paulo, à noite preferencialmente, na rua Ngola Kiluanje, no sentido Cuca-São Paulo, exactamente entre a parte exterior do Mercado do São Paulo e o antigo cinema, notará um conjunto de senhoras, algumas até com bebés às costas, a venderem de costas junto à estrada, a escassos centímetros em que passam as viaturas. E quem fala sobre o referido local, ao Sambizanga, fala de outras localidades em que as pessoas predispõem-se a estar junto à estrada, a circular, vender ou mesmo à espera de táxi, mas junto à faixa de rodagem, onde podem ser atropelados por qualquer descuido do motorista.
Uma das formas de evitar ou reduzir a sinistralidade rodoviária passa, obviamente, pela tomada de medidas que incidam no uso desregrado das nossas estradas, sobretudo por parte de peões.