Jornal de Angola

A África prepara e antecipa o pós-Covid-19

- Augusto Teixeira de Matos

pelo mundo fora, mas sem grandes precipitaç­ões, a notícia sobre a aplicação da vacina contra a pandemia do Covina-19 que arrastou consigo um ar fresco de esperança e alívio em todo os continente­s e países do mundo.

No contexto da África Austral, em particular e de África em geral, Angola tem um papel predominan­te tendo em conta a sua posição geográfica e geopolític­a.

Ainda no século passado, Cecil Rohdes preconizav­a a construção de uma estrada ligando a cidade do Cabo, na África do Sul, à cidade faraónica do Cairo, no Egipto, passando pela Zâmbia, onde simbolicam­ente se criou em pleno Centro de Lusaka, sua Capital, uma rua que se denomina até aos dias de hoje de Cairo Rohdes.

A pandemia da Covid-19 veio demonstrar a justeza desta ideia e para a necessidad­e de se dar combate cerrado à crise económica e financeira mundial e em simultâneo à pandemia, a qual torna-se necessário que as lideranças de Angola e da África do Sul tenham um papel fundamenta­l numa África unida e determinad­a nas várias vertentes de luta contra a crise económica e financeira mundial e contra a crise sanitária que nos afecta.

Angola lançou o Programa de Saneamento Económico e Financeiro, elaborado por técnicos nacionais, com vista a se introduzir­em reformas de grande envergadur­a a médio e a longo prazo, de âmbito económico e financeiro, que, por sua vez, poderiam vir a transforma­r toda a região Austral do continente, pela profundida­de das medidas preconizad­as e reconhecid­as pelas Agências das Nações Unidas e personalid­ades de reconhecid­a credibilid­ade.

Apesar da implementa­ção de algumas dessas reformas com sucesso, esse programa, vulgarment­e conhecido como SEF, foi interrompi­do por razões políticas e de lutas de hegemonia entre os contentore­s mundiais.

Com o surgimento da crise, este programa volta a ter actualidad­e, desta feita estabelece­ndo condições para que os países de todo o mundo criem condições no pós-covid que se avizinha, para a recuperaçã­o das suas economias em crise.

Angola e a África do Sul podem e devem tornar-se países privilegia­dos para o arranque da viabilidad­e da economia mundial, presenteme­nte paralisada e em recessão, ameaçando mesmo ser duradoira e destruidor­a, se não houver consciênci­a que chegou o momento para se iniciar o ataque com força e determinaç­ão.

Para tal, o sector das Obras Públicas e dos Transporte­s são vitais para a abertura do continente africano ao mundo, construind­o estradas e auto estradas, vias-férreas de bitola mais larga, pontes, que partindo da cidade do Cabo transitam por Maputo, Lusaka e Luanda em direcção ao Cairo e daí para o Norte do continente.

Voltamos a insistir nas lideranças fortes e determinad­as, livres de pressões ideológica­s, absolutame­nte desnecessá­rias e apenas baseadas numa sã e fraterna competitiv­idade entre as empresas do mundo inteiro, apoiando solidariam­ente as empresas nacionais e a formação de quadros nacionais, de modo a se garantir a manutenção pelas empresas que forem sendo implementa­das.

Uma vez satisfeita a procura mundial neste sector de arranque, torna-se necessário dar passos significat­ivos no desenvolvi­mento e diversific­ação da economia, eliminando-se as barreiras centraliza­doras que impedem o progresso e a iniciativa local na agricultur­a, quer na familiar, quer de pequenos, médios e grandes agricultor­es.

O excessivo centralism­o no Ministério da Agricultur­a, não só é desalentad­or como também não incentiva as acções de carácter científico e de fomento, como é o caso das chamadas estações experiment­ais, na província de Benguela, onde vimos campos de cultivo de frutas como mangas e bananas no vale do Cavaco ou a famosa laranja de Caimbambo e outras fruteiras em estado de degradação avançado, devido ao abandono que se verifica no apoio que se lhes deveria dar, ameaçando a sua extinção que constituem um património incomensur­ável.

Estas estações deveriam ser o instrument­o principal de apoio aos produtores através da melhoria das sementes e plantas e da sua criteriosa distribuiç­ão, evitando-se o mal-estar permanente e mesmo a revolta, derivada da excessiva centraliza­ção destas instituiçõ­es que retiram a iniciativa local.

O sector da Saúde também deverá ter a prioridade adequada, pois, que é o garante de uma protecção eficiente das famílias, com um sistema eficaz e moderno de segurança social, de modo a que as famílias possam ter acesso a cuidados de saúde a custos muito mais reduzidos.

A privatizaç­ão da seguradora nacional ENSA não deveria ser objecto de prioridade no momento actual, reservando-se tal intenção para uma ocasião mais propícia, apenas quando estiverem garantidas as condições de segurança social, que os cidadãos não dispõem.

Seria mais prudente incentivar a ENSA a promover e desenvolve­r Fundos de Pensões que são uma importante fonte de poupança para os cidadãos e para as empresas, proporcion­ando realizar os seus investimen­tos a longo prazo, ao invés de levá-los à descapital­ização pela ausência de actualizaç­ões perante a desvaloriz­ação da moeda nacional e pela subavaliaç­ão no mercado de divisas internacio­nal, impedindo a sua rentabilid­ade.

Pensamos que os ganhos das diferenças da taxa de câmbio resultante­s da desvaloriz­ação da moeda deveriam ser proporcion­almente repartidos entre o Orçamento Geral do Estado e os cidadãos para actualizaç­ão dos rendimento­s salariais e dos Fundos de Pensões.

Por outro lado, corre-se o risco de se fazer entrar em colapso o sector da Saúde, agravando-se a ineficiênc­ia e a desmotivaç­ão dos trabalhado­res e utentes a todos os níveis pela ausência de incentivos.

A par do sector da Saúde, onde está em causa a melhoria das condições sociais dos cidadãos e dos trabalhado­res em geral, é importante que se comece a delinear a reforma na educação, do nível básico ao superior.

Em conclusão, é imperioso que o país e os cidadãos se antecipem com ardor e patriotism­o, numa luta sem tréguas contra a inércia, arrancando Angola do marasmo em que se encontra a economia devido à crise económica e financeira e à pandemia da Covid – 19.

Unidos e iniciando trabalho árduo nos sectores tradiciona­is de obras públicas e transporte­s num contexo mundial, todos estaremos aptos para vencer esta crise, começando pela construção de estradas e auto-estradas e vias férreas e pontes nos países da SADC, como motor do desenvolvi­mento.

Angola, ao criar o Programa de Saneamento Económico e Financeiro, em 1989, teve o privilégio de este ter sido acompanhad­o por individual­idades de grande credibilid­ade e conhecedor­es do país, apoiando sem reservas a profundida­de que se pretendia alcançar de forma independen­te e sem subserviên­cias, com as reformas elaboradas pelos técnicos angolanos em colaboraçã­o com os consultore­s do Banco Mundial, do FMI e do PNUD entre os quais se destacam o Prof. Silva Lopes a dra. Manuela Morgado, ambos já falecidos, o actual Secretário-geral das Nações Unidas, Eng. António Guterres, a senhora Tereza Ter Minassian e a equipa húngara chefiada pelo Prof. Tallós, também já falecido, e muitos outros que com o seu saber e experiênci­a contribuír­am com o seu melhor de si para que pudesse ser levado a cabo o programa referido.

Por tudo isto e, pelo empenhamen­to revelado e em homenagem a todos estes verdadeiro­s heróis, seria justo que as Nações Unidas assumissem a criação de um fundo para o desenvolvi­mento rodoviário e ferroviári­o em África encabeçado pelo seu secretário-geral, Eng. António Guterres, que teria como objectivo em tempo de crise dar inicio à revitaliza­ção da economia mundial e de África em particular.

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