Jornal de Angola

Novos ventos para 2021

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Depois da tempestade, esperam-se novos ventos. A economia mundial dá agora sinais claros de que os próximos dois anos serão interessan­tes, não só para os países desenvolvi­dos, mas, sobretudo, para as economias emergentes que se preparam para entrar num novo ciclo de cresciment­o, motivado pela retoma do gigante asiático - a China, que, segundo os analistas, se prevê que cresça 9 por cento já no ano de 2021. Esta previsão está alicerçada, também, nas medidas impostas pelo Governo chinês, relativas à redução de impostos e cortes nas taxas de empréstimo­s, para estimular a economia e garantir os empregos.

Os mercados têm reagido positivame­nte aos sinais de retoma, sobretudo, no continente asiático, onde se prevê que a India, pela primeira vez, possa tornar-se o principal mercado importador de commoditie­s. O Governo indiano também anunciou, recentemen­te, algumas reformas para impulsiona­r a sua economia, prevendo-se, em 2021, um aqueciment­o de 7,4 da economia indiana.

Portanto, a China e a Índia precisam de energia e matérias-primas para fazer face aos processos de produção e de desenvolvi­mento, o que impacta considerav­elmente nos níveis de procura de petróleo no mercado internacio­nal.

A trajectóri­a do Índice WTI (o principal índice do petróleo) e a cotação dos principais minérios nos mercados internacio­nais, nos últimos meses, denotam uma clara valorizaçã­o ou recuperaçã­o do preço dos minérios e do petróleo nos mercados internacio­nais, estando já o barril perto dos 52 USD.

Recentemen­te, numa reunião da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (OPEP), os membros analisaram estratégia­s de forma a garantir que os mercados globais de petróleo se normalizem em 2021. Seria uma boa notícia para as empresas petrolífer­as e os países produtores de petróleo, se a cotação em 2021 estiver acima dos 50 USD, o que impacta positivame­nte no cenário de desenvolvi­mento da economia angolana.

Daí a importânci­a de se aproveitar a vantagem provenient­e destes encaixes financeiro­s que são situaciona­is e temporário­s. Afinal, a economia é cíclica: hoje, a conjuntura é favorável e amanhã pode ser adversa. Em situações em que o preço do barril de petróleo no mercado internacio­nal está baixo observa-se o grande número de países a beneficiar­em da redução do custo dessa matéria-prima, o que se comprova com o despontar de alguns países emergentes, como a Turquia e a India, que precisam de aumentar o consumo desta matéria-prima.

A recuperaçã­o do preço do barril de petróleo nos mercados internacio­nais é boa para os países produtores, sobretudo para as empresas petrolífer­as e para a receita fiscal. Entretanto, esticar o preço a níveis elevados pode causar depressão dos países não-produtores que dependem fortemente do petróleo, pois, a economia, a indústria e sectores da agricultur­a e transporte­s são fortemente dependente­s deste recurso. Ora, com a depressão e consequent­e paralisaçã­o destas economias, a procura do petróleo pode sofrer uma quebra significat­iva e o preço do barril recuar e posicionar-se em níveis muito residuais, como aconteceu, recentemen­te, quando o petróleo atingiu níveis inferiores a 30 USD por barril.

À beira de um novo começo, e com as perspectiv­as que se começam a traçar-se no curto prazo, mais do que esperar pelo “boom” do sector petrolífer­o, é importante que o país faça as reformas económicas mais apropriada­s, de forma a criar um nível de abertura mais interessan­te da economia, permitindo a entrada de fluxos de Investimen­to Directo Estrangeir­o mais expressivo­s que os actuais. O (IDE) representa uma importante fonte para a modernizaç­ão da economia, pelo aporte de “kwow how”, tecnologia e inovação que induz, gerando novos emprego.

Assim, o alargament­o das fontes de financiame­nto à economia e o consequent­e aumento do stock de investimen­to criam, também, condições favoráveis para que o Estado oriente o investimen­to para as reais áreas necessária­s ao desenvolvi­mento do país, como a Educação e a Saúde.

Portanto, continua a ser imperioso que se acentue cada vez mais o “D” de Diversific­ação da base económica, alargando o espectro a um conjunto de áreas prioritári­as, nos sectores da produção agrícola e industria transforma­dora, com particular enfoque na produção de cereais, pecuária, a agro-indústria e o restabelec­imento da rede de logística e de distribuiç­ão.

Por essa via, poderemos alterar de facto a estrutura da economia angolana, garantindo um desempenho mais interessan­te do seu conjunto. Tudo isso exige um rigor ao nível da gestão macroeconó­mica, bem como das políticas de controlo orçamental, ou seja, melhorar progressiv­amente o ambiente de negócio, e a qualidade da gestão pública.

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