Médico alerta para novos vírus letais
O cientista Jean-Jacques Muyembe Tamfum, professor e uma das pessoas que descobriu o ébola, disse à CNN que a humanidade enfrenta um número novo e potencialmente fatal de vírus saídos da floresta tropical de África.
Chama-lhes “uma ameaça para a humanidade” e avisa que mais doenças que passam de animais para humanos vão aparecer.
Não são casos raros. A febre amarela, gripe, raiva, brucelose ou a doença de Lyme (febre da carraça) são exemplos de doenças que passam de animais para humanos. Outro caso é o vírus do HIV, que começou nos chimpanzés, sofreu uma mutação e se espalhou pelo mundo.
O vírus aloja-se num animal e é esse animal que o transmite aos humanos. No caso do SARS-Cov-2, acredita-se que tudo terá começado com morcegos, na China. O cenário traçado por Jean-Jacques Muyembe Tamfum é pessimista. Acredita que outras pandemias podem acontecer num futuro próximo. “Sim, sim, acredito que sim”, disse à CNN.
Novos vírus estão a ser descobertos - três ou quatro por ano, a maioria oriundos de animais. Os números crescentes devem-se sobretudo à destruição dos ecossistemas e ao comércio de animais selvagens.
Os habitats são destruídos, os animais de maior porte desaparecem, enquanto ratos, morcegos e insectos crescem e se multiplicam. Convivem com seres humanos e transportam doenças. Foi, acredita-se, o que aconteceu com o ébola.
História com 44 anos
O ébola foi descoberto em 1976. O professor Jean-Jacques Muyembe Tamfum recolheu as amostras de sangue daqueles doentes que contraíam um vírus que matava 88% dos doentes e 80% dos profissionais de saúde que cuidavam deles. As descobertas resultaram da cooperação entre o que se detectava no hospital do então Zaire (hoje RDC) e era levado para laboratórios na Bélgica e EUA.
Ainda que não se saiba exactamente como é que o
ébola foi transmitido aos seres humanos, os cientistas acreditam que foi a forte intrusão na floresta tropical que levou à disseminação do ébola. Os locais onde eclodiram surtos da doença coincidem com locais alvo de desflorestação, um par de anos antes.
Na República Democrática do Congo, Jean-Jacques Muyembe Tamfum continua o seu trabalho no laboratório, que abriu as portas em Fevereiro, e onde dezenas de amostras de sangue são analisadas, financiados por fundos japoneses, norteamericanos da Organização Mundial de Saúde (OMS). Procuram doenças ainda desconhecidas.
“Se um vírus for detectado cedo, haverá oportunidade para se desenvolverem novas estratégias para combater estes patogénios”, explica o cientista. É no processo em que os animais são vendidos para serem comidos que os cientistas acreditam que se dá a passagem destes vírus. Essa carne é considerada iguaria e muito apreciada entre os mais ricos - macacos, crocodilos e outros animais selvagens.
No Congo, provêm da floresta tropical e, apesar de ser meio de subsistência de muitos agricultores de pequena e média escala, a solução, dizem os cientistas, é proteger os ecossistemas.